sábado, 7 de março de 2015

Ja' vivi esta experiência

AS GUERREIRAS CURDAS



Elas não fogem à luta contra o grupo terrorista. Os curdos passaram a ser vistos como aliados importantes. E na organização militar, assim como na divisão social deste povo sem pátria, as mulheres têm um papel importante e uma liberdade rara na região.

A cidade síria de Kobani, onde a feroz resistência ao assédio do Estado Islâmico (EI) se tornou símbolo de unidade para os curdos, é um exemplo inédito de igualdade para suas mulheres, que lutam corpo a corpo com os homens em suas ruas, em um fato excepcional no Oriente Médio.


"Nós que estamos na frente sabemos muito bem como o EI trata as mulheres. Esperamos que todas as mulheres do mundo nos ajudem porque lutamos pelos direitos das mulheres do mundo todo"- Comandante Mayssa Abdo

Conhecida por seu nome de guerra, "Narin Afrin", a comandante Mayssa Abdo, de cerca de 40 anos, é admirada e muito querida por seus milicianos, que a consideram uma líder forte, capaz de tomar decisões em qualquer circunstância, além de ressaltar sua completa entrega a seus soldados.
Narin Afrin (Mayssa Abdo), que junto com Mahmud Barjodan comanda o YPG, é descrita como uma mulher culta, inteligente e serena segundo Mustafa Ebdi, ativista natural de Kobani que vive em Londres. 


Afrin “se importa com o estado mental de seus soldados e se interessa por suas vidas”, relatou à AFP. Narin Afrin, que adotou esse nome em homenagem a sua cidade natal, declarou recentemente em rede social: “Vamos lutar até a última bala para proteger os civis. É uma luta por todos nós, uma luta pela liberdade”.

Muitas outras mulheres curdas não quiseram esperar, impotentes para cair nas mãos do EI. Elas decidiram lutar por suas casas, por suas vidas - e pelo futuro de seus filhos.


Guerreiras curdas armadas com granadas e suas poderosas Kalashnikov, lutam contra o Estado islâmico com colegas do sexo masculino.

Hoje, o único exército em terra que combate diariamente o EI é o exército Curdo. Segundo fontes curdas, as mulheres representam entre 50% e 60% do contingente das fileiras da resistência, formadas por cerca de 20.000 combatentes

A YPJ, também conhecida como Unidade de Proteção da Mulher, esteve envolvida na luta em defesa da cidade de Kobane na fronteira da Síria com a Turquia.

Kobane é uma cidade independente curda, parte do Curdistão Sírio ou Curdistão do Oeste, também chamado de Rojava (oeste em curdo). Outras sete cidades também fazem parte de Rojava, localizada na fronteira entre Síria e Turquia. 

Kobani se encontrava desde setembro/2014 sob forte ataque dos jihadistas do EI (Estado Islâmico), contra o qual guerrilheiras da YPJ (Unidade de Proteção da Mulher) travaram heroica resistência.


Criada em 2012, a milícia é formada só por mulheres, nasceu a partir do movimento de resistência curda na luta para defender o povo curdo de ataques do governo Sírio, Al Qaeda e agora do EI. 

Em setembro de 2014, o Estado Islâmico deu início a uma ofensiva contra a cidade de Kobani. Em quatro de outubro, após vários dias de intenso confronto, os jihadistas do EI já haviam tomado de assalto mais de 300 vilas curdas, causando uma onda de refugiados que já atinge a casa de 300 mil pessoas – a maioria delas assentadas no lado turco da fronteira.

Contudo, o que se esperava por muitos, que seria uma batalha rápida e a queda garantida de Kobani e de toda Rojava, vem se tornou um dos maiores reveses ao EI e seus jihadistas. 

O YPJ defendeu palmo a palmo a cidade curda e diversos foram os relatos de combatividade, liderança e heroísmo das combatentes do YPJ. Nem os bombardeios americanos causam tanto temor aos jihadistas do EI quanto as balas das combatentes curdas, já que eles acreditam que caem em desgraça e vão para o inferno se forem mortos por uma mulher.



Nem o mais otimista analista político, nem a poderosa coalizão encabeçada pelos EUA para derrotar o EI, esperavam tamanha proeza. Afinal, o E.I dispusera de armamentos pesados, tanques blindados e as mulheres da YPJ contaram apenas com fuzis e outros armamentos antiquados se comparados à força bélica jihadista.

A organização conta atualmente com mais de 10 mil mulheres combatentes, todas voluntárias e com idades entre 18 e 40 anos. 

As menores de 18 anos não podem lutar na linha de frente, mas podem se juntar ao movimento e passar pelo treinamento militar. Elas não recebem salário e dependem de fundos e doações vindas da comunidade internacional, além de serem alimentadas pela própria população curda. 



“Eu vejo a revolução síria, não só como uma revolução popular do povo, mas também como uma revolução da mulher, portanto, eu me vejo como parte da revolução”, diz uma jovem de 21 anos. “A mulher tem sido suprimida por mais de 50 mil anos e agora temos a possibilidade de ter a nossa própria vontade, o nosso próprio poder e nossa própria personalidade. ” completa ainda.

Além da proteção militar que elas oferecem, o grupo enfrenta a cultura machista enraizada na região, o que está redefinindo o papel das mulheres no oriente médio. 

“Eu não quero me casar ou ter filhos ou estar em casa o dia todo” disse uma das líderes do YPJ. “Eu quero ser livre.” 

A cidade de Kobane tem cerca de 20 milhões de curdos, em sua maioria mulheres e crianças, e foi sitiada pelo Estado Islâmico. 



Se por acaso eles conseguirem adentrar à cidade, haverá com certeza um massacre, pois os jihadistas tem sua marca registrada, que é estuprar, executar e exibir a cabeça cortada de seus inimigos. 

Independentemente da situação em que vivem, são muitas as mulheres que querem defender aquilo em que acreditam. Sabe-se que uma das soldadas, de apenas 24 anos, está grávida mas recusa-se a deixar de treinar com o restante batalhão.

A soldada afirma que prefere lutar, estando grávida ou não, porque esse é o seu dever. Tem ainda mais vontade em combater, para proteger o filho que está para nascer. Diz querer fazer algo pelo seu país.
A imprensa estrangeira tem chamado as guerreiras curdas de "pesadelo" do ESTADO ISLÂMICO, pois sua eficácia no combate ao EI é ampliada simplesmente pelo fato de serem mulheres, considerando que para os Jihadistas do Estado Islâmico, ser morto por uma mulher significa que eles não irão para o paraíso.