AS GUERREIRAS CURDAS
Elas
não fogem à luta contra o grupo terrorista. Os curdos passaram a ser
vistos como aliados importantes. E na organização militar, assim como na
divisão social deste povo sem pátria, as mulheres têm um papel
importante e uma liberdade rara na região.
A
cidade síria de Kobani, onde a feroz resistência ao assédio do Estado
Islâmico (EI) se tornou símbolo de unidade para os curdos, é um exemplo
inédito de igualdade para suas mulheres, que lutam corpo a corpo com os
homens em suas ruas, em um fato excepcional no Oriente Médio.
"Nós
que estamos na frente sabemos muito bem como o EI trata as mulheres.
Esperamos que todas as mulheres do mundo nos ajudem porque lutamos pelos
direitos das mulheres do mundo todo"- Comandante Mayssa Abdo
Conhecida por seu nome de guerra, "Narin Afrin", a comandante Mayssa Abdo,
de cerca de 40 anos, é admirada e muito querida por seus milicianos,
que a consideram uma líder forte, capaz de tomar decisões em qualquer
circunstância, além de ressaltar sua completa entrega a seus soldados.
Narin
Afrin (Mayssa Abdo), que junto com Mahmud Barjodan comanda o YPG, é
descrita como uma mulher culta, inteligente e serena segundo Mustafa
Ebdi, ativista natural de Kobani que vive em Londres.
Afrin
“se importa com o estado mental de seus soldados e se interessa por
suas vidas”, relatou à AFP. Narin Afrin, que adotou esse nome em
homenagem a sua cidade natal, declarou recentemente em rede social:
“Vamos lutar até a última bala para proteger os civis. É uma luta por
todos nós, uma luta pela liberdade”.
Muitas
outras mulheres curdas não quiseram esperar, impotentes para cair nas
mãos do EI. Elas decidiram lutar por suas casas, por suas vidas - e pelo
futuro de seus filhos.
Guerreiras curdas armadas com granadas e suas poderosas Kalashnikov, lutam contra o Estado islâmico com colegas do sexo masculino.
Hoje, o único exército em terra que combate diariamente o EI é o exército Curdo. Segundo
fontes curdas, as mulheres representam entre 50% e 60% do contingente
das fileiras da resistência, formadas por cerca de 20.000 combatentes.
A
YPJ, também conhecida como Unidade de Proteção da Mulher, esteve
envolvida na luta em defesa da cidade de Kobane na fronteira da Síria
com a Turquia.
Kobane
é uma cidade independente curda, parte do Curdistão Sírio ou Curdistão
do Oeste, também chamado de Rojava (oeste em curdo). Outras sete cidades
também fazem parte de Rojava, localizada na fronteira entre Síria e
Turquia.
Kobani
se encontrava desde setembro/2014 sob forte ataque dos jihadistas do EI
(Estado Islâmico), contra o qual guerrilheiras da YPJ (Unidade de
Proteção da Mulher) travaram heroica resistência.
Criada
em 2012, a milícia é formada só por mulheres, nasceu a partir do
movimento de resistência curda na luta para defender o povo curdo de
ataques do governo Sírio, Al Qaeda e agora do EI.
Em
setembro de 2014, o Estado Islâmico deu início a uma ofensiva contra a
cidade de Kobani. Em quatro de outubro, após vários dias de intenso
confronto, os jihadistas do EI já haviam tomado de assalto mais de 300
vilas curdas, causando uma onda de refugiados que já atinge a casa de
300 mil pessoas – a maioria delas assentadas no lado turco da fronteira.
Contudo,
o que se esperava por muitos, que seria uma batalha rápida e a queda
garantida de Kobani e de toda Rojava, vem se tornou um dos maiores
reveses ao EI e seus jihadistas.
O
YPJ defendeu palmo a palmo a cidade curda e diversos foram os relatos
de combatividade, liderança e heroísmo das combatentes do YPJ. Nem os
bombardeios americanos causam tanto temor aos jihadistas do EI quanto as
balas das combatentes curdas, já que eles acreditam que caem em
desgraça e vão para o inferno se forem mortos por uma mulher.
Nem
o mais otimista analista político, nem a poderosa coalizão encabeçada
pelos EUA para derrotar o EI, esperavam tamanha proeza. Afinal, o E.I
dispusera de armamentos pesados, tanques blindados e as mulheres da YPJ
contaram apenas com fuzis e outros armamentos antiquados se comparados à
força bélica jihadista.
A organização conta atualmente com mais de 10 mil mulheres combatentes, todas voluntárias e com idades entre 18 e 40 anos.
As
menores de 18 anos não podem lutar na linha de frente, mas podem se
juntar ao movimento e passar pelo treinamento militar. Elas não recebem
salário e dependem de fundos e doações vindas da comunidade
internacional, além de serem alimentadas pela própria população curda.
“Eu
vejo a revolução síria, não só como uma revolução popular do povo, mas
também como uma revolução da mulher, portanto, eu me vejo como parte da
revolução”, diz uma jovem de 21 anos. “A mulher tem sido suprimida por
mais de 50 mil anos e agora temos a possibilidade de ter a nossa própria
vontade, o nosso próprio poder e nossa própria personalidade. ”
completa ainda.
Além
da proteção militar que elas oferecem, o grupo enfrenta a cultura
machista enraizada na região, o que está redefinindo o papel das
mulheres no oriente médio.
“Eu não quero me casar ou ter filhos ou estar em casa o dia todo” disse uma das líderes do YPJ. “Eu quero ser livre.”
A cidade de Kobane tem cerca de 20 milhões de curdos, em sua maioria mulheres e crianças, e foi sitiada pelo Estado Islâmico.
Se
por acaso eles conseguirem adentrar à cidade, haverá com certeza um
massacre, pois os jihadistas tem sua marca registrada, que é estuprar,
executar e exibir a cabeça cortada de seus inimigos.
Independentemente
da situação em que vivem, são muitas as mulheres que querem defender
aquilo em que acreditam. Sabe-se que uma das soldadas, de apenas 24
anos, está grávida mas recusa-se a deixar de treinar com o restante
batalhão.
A
soldada afirma que prefere lutar, estando grávida ou não, porque esse é
o seu dever. Tem ainda mais vontade em combater, para proteger o filho
que está para nascer. Diz querer fazer algo pelo seu país.
A
imprensa estrangeira tem chamado as guerreiras curdas de "pesadelo" do
ESTADO ISLÂMICO, pois sua eficácia no combate ao EI é ampliada
simplesmente pelo fato de serem mulheres, considerando que para os
Jihadistas do Estado Islâmico, ser morto por uma mulher significa que
eles não irão para o paraíso.