Krishnamurti Goes dos Anjos
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A NOSSA INSENSATEZ ONDE NOS LEVARÁ?
Ninguém mais tem dúvidas de que o Brasil do jeito que vai está inviável. Muito bem. Todavia não me parece que estejamos trilhando o caminho mais adequado para levarmos a efeito as profundas reformas de que necessitamos.
A cada dia nos tornamos ressentidos e rancorosos, numa atitude mental que vai girando em torno do ódio aos “outros”, sempre vistos como inimigos e como ameaças aos nossos projetos pessoais em dano quase sempre, da coletividade. Trata-se de uma visão de mundo paranoica do tipo “nós os bons, os justos, os donos da verdade”, contra eles os “maus e desleais que ameaçam a nossa sobrevivência”. Ou por outra para ser mais claro. Dizem uns: nós os promotores da inclusão social dos deserdados, nós os que defendemos o Brasil do capitalismo predatório, nós que investigamos a corrupção contra eles, os corruptos do passado. Eles por seu turno rechaçam: submeteram o povo a cruéis opressões econômicas, comunistas, corruptos também e etc. para ao cabo dessas verborragias, gritarem outros mais exaltados: Fora! Reforma já! Impeachment! Volta dos militares!
Note-se que a palavra corrupção sempre aparece em qualquer discurso associado aos problemas brasileiros porque, seja dita a verdade, já entramos pelo viés da desnaturação das instituições democráticas, e a corrupção toma corpo, não só na Petrobras. Há uma institucionalização da corrupção que é gravíssima porque se institui como um valor para a desqualificação da lei. Aquela que coloca limites à desmesura de nossos desejos, base do pacto democrático.
Esta desmesura de nossos desejos se ampara largamente em nosso egoísmo quando não nos deixa levar em conta seriamente o fato de não considerarmos o nosso semelhante como irmão, é não ter a absoluta certeza de que a desventura do próximo não fica isolada e fatalmente recai sobre todos nós. É finalmente não termos dentro de nós mesmos a medida de nossa própria melhoria, mas esperarmos a reação dos outros, que igualmente querem melhorias. E todos permanecemos idênticos.
O progresso social não pode ser resultado senão da soma dos progressos individuais, não somente do progresso econômico. E este, no Brasil, trás em sua base o mesmo princípio de destruição. O egoísmo. O egoísmo que permeia todo ato, e a todos persegue como um mal originário minando o Estado. E quem há de negar que a corrupção endêmica que vivemos não é a expressão mais doentia do egoísmo? Pensamos complexas fórmulas econômicas, tudo tentamos mudar ou reformar, mas o egoísmo permanece incólume. Não se constrói com semelhantes materiais. Enquanto não formos capazes de ascender da fase hedonista (aquela que procura o prazer acima de tudo), à outra colaboracionista, inútil será cogitar de sistemas distributivos.
Precisamos fazer o homem, antes de fazer programas sociais, e promover esses programas somente para fazer o homem. Ensinar a pescar também, não somente dar o peixe. Fundamental transformar o problema econômico em problema Ético. É esta a maior e mais urgente necessidade a ser entendida, a começar pelos senhores políticos que se encastelam em Brasília distribuídos conformes os interesses particularistas em dezenas de partidos e usufruem nababescamente das benesses pagas pelo povo brasileiro. Um povo que vive hoje uma contínua redução de todos os valores morais, onde a mediocridade é que dá a medida das coisas e faz a sua ética e a sua tábua de valores. É isto que entendemos por democracia? Positivamente não temos ainda uma democracia sólida como apregoam alguns. Quem isto afirma nega também os pressupostos da democracia. E não me venham com chalaças de crises internacionais, com crises do petróleo, hídricas, elétricas ou com o bater de asas de uma borboleta na Malásia que altera o rumo das coisas nos sertões de nossa seca nordestina!
O fato inconteste é que, este mesmo povo brasileiro, vai se dividindo em grupos antagônicos que convocam as pessoas pelas vias da mentira, da sensibilidade ultrajada e das carências de toda sorte, a reagirem todos contra todos. Estão dadas as condições para as polarizações e as rivalidades de toda sorte que podem, e certamente nos trarão dores terríveis, porque só estas no final das contas, abalam as inconsciências. Mas pode também não ser assim se adotarmos uma ação mais enérgica e sensata que não o desperdício inútil da comum agressividade desorganizadora. Está em nossas mãos escolher.