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Paulo traiu Jesus? |
Sem Paulo de Tarso, o cristianismo que você conhece não existiria. Agora surge a polêmica: ele é o herói que dissemin... |
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Paulo de Tarso X Jesus Cristo
Carlos Antonio Fragoso Guimarães
Embora quase sempre desconhecido do grande público – em parte
devido à resistência dos chamados “líderes religiosos” -, o estudo
crítico, histórico e acadêmico da Bíblia e, em especial, do Novo
Testamento, desde o século XIX vêm trazendo à luz novas perspectivas de
entendimento das chamadas escrituras sagradas. Entre as mais importantes
descobertas existe a crescente percepção da contradição entre as
mensagens de Jesus, profundamente ética e de cunho fraterno tal como
encontrada nos evangelhos, especialmente em Mateus e Lucas, e o
cristianismo de mera adesão proposto por Paulo de Tarso, o real fundador
do cristianismo como sendo uma religião independente, formulada por um
seguidor posterior que não conviveu com Jesus e tinha sérias diferenças
com os seguidores que o conheceram e com ele conviveram.
Pela análise do estilo literário e das colocações sociais de cada
texto - que é uma das formas de se estudar o material que dispomos, já
que não existem originais do século I, sendo as mais antigas cópias
disponíveis, já datadas, do século II -, percebe-se que as chamadas
“cartas paulinas” constituem o conjunto de textos cristãos mais antigos,
sendo que, da coleção de 13 epístolas atribuídas a Paulo, as atualmente
consideradas autênticas e redigidas por ele, em provavelmente cerca dos
anos 50 - 60 da era comum, não chegam a ser nem a metade deste número.
Os evangelhos propriamente ditos, que se centram na vida
de Jesus, são, contudo, historicamente, em determinados pontos, mais
precisos que as observações de Paulo, que quase nunca fala da vida de
Cristo. Constituem eles, os evangelhos, compilações de fontes orais e
de, possivelmente, registros escritos perdidos (como, por exemplo, a
fonte Q, tão citada pelos
estudiosos acadêmcios e que pode ser, em parte, reconstituída, pelo
material dos chamados evangelhos sinóticos: Marcos, Mateus e Lucas),
compostas entre os anos 65-70 (data provável da composição do evangelho
de Marcos) a até aproximadamente 95 ou 100 da era cristã (quando
provavelmente foi escrito o evangelho atribuído a João, o mais místico,
estilizado e distante da tradição corrente, mas que de fato é uma
compilação de interpretações posteriores de uma comunidade de cristãos
tardios, provavelmente baseadas muito levemente em tradições orais que
remontam a algum discípulo de João).
Como vimos, apesar de serem 13 o número de epístolas atribuídas a
Paulo na maioria das Bíblias ocidentais, hoje a maior parte dos
pesquisadores considera que apenas seis destas epístloas tenham sido
formuladas pelo próprio, pois apresentam o mesmo estilo e pontos de
semelhança, sendo as demais meras composições posteriores de discípulos
que queriam validar sua importância como documentos atribuindo-os a
Paulo. "Elas (as cartas não-paulinas) são muito diferentes em estilo literário e conteúdo",
afirma o pesquisador Pedro Vasconcellos, da PUC. Para o conservadorismo
das diversas Igrejas, no entanto, todas as cartas encontradas na
Bílblia cristã clássica são de autoria de Paulo. As epístolas
consideradas originais são: aos Romanos, 1 e 2 aos Coríntios, aos
Gálatas, aos Filipenses, a primeira à Tessalônica e a endereçada a
Filêmon.
Por sua ação missionária em meios não judeus, a figura de Paulo de
Tarso teve uma importância indiscutível na constituição do cristianismo
(especialmente do cristianismo “paulino”) em sua ansiedade em construir
uma teologia sobre Cristo (e não de Jesus),
usando elementos próximos à do pensamento mitológico grego,
transformando Jesus em um semi-deus, o que causou impacto na formulação
da teologia ortodoxa posterior - inicialmente no Império mas, bem
depois, mais especialmente na teologia protestante, o que é
indiscutível. O problema real mais grave, contudo, surge quando
comparamos os dizeres e visões teológicas de Paulo com os que são
atribuídos ao próprio Jesus, pelos evangelhos, especialmente o de
Mateus.
Igualmente digno de nota é de que certamente Paulo não pensava que
suas cartas acabariam por ir parar na Bíblia (ao menos naquilo que se
transformaria Bíblia cristã). Elas eram produtos do interesse de Paulo
em esclarecer problemas e situações das comunidades que ele tinha
ajudado a criar, e não súmulas teológicas indiscutíveis a serem tomadas
como regra. Só muito mais tarde alguém com alguma influência política as
julgariam apropriadas para formarem parte do cânone do Novo Testamento.
Paulo, como todos sabem, foi um aspirante a doutor da Lei (sacerdote
graduado). Um judeu do século I, contemporâneo de Cristo, mas que nunca
o vira pessoalmente durante seu ministério, e que, profundamente zeloso
da ortodoxia judaica, de início foi perseguidor implacável dos
primeiros cristãos. Contudo, esta atitude agressiva iria mudar
radicalmente após Paulo (na época, Saulo) ter uma visão do Cristo
pós-morte. Isso o abalou o suficiente para que passasse por uma crise
religiosa, se convertendo ao cristianismo e se transformando de
perseguidor a divulgador. Contudo, apesar do que diz supostamente Lucas
nos Atos dos Apóstolos (escrito muitos anos após a morte de Paulo,
provavelmente em torno do ano 75), Paulo não procurou nas fontes
apropriadas, ou seja, nos discípulos diretos de Jesus, a base da sua
própria mensagem. Ao invés disto, após um contato muito superficial com
alguns discípulos menores – e não com os apóstolos, o que só se daria
após três anos -, Paulo se afastou para pensar sobre sua experiência da
visão que teve do ente que antes perseguira. Com estas reflexões ele
também questionou sua herança formal judaica, para voltar três anos
depois com toda uma visão pessoal já sedimentado do seria ou deveria ser
o cristianismo, moldada com elementos judaicos e gregos (Paulo era
cosmopolita). Só então, depois, teve contato com alguns dos apóstolos
diretos de Jesus e, nas suas palavras, destes mais precisamente apenas
Pedro e Tiago, “irmão do Senhor”, sem que este contato tivesse qualquer
grande impacto na sua já cristalizada visão do cristianismo. Assim,
lemos pela pena do próprio Paulo em Gálatas 1:16-20:
“Não consultei carne nem sangue, nem
subi a Jerusalém aos que eram apóstolos antes de mim, mas fui à Arábia e
voltei novamente a Damasco. Em seguida, após três anos, é que subi a
Jerusalém para avistar-me com Pedro e fiquei com ele por 15dias. Não vi
nenhum apóstolo, mas somente Tiago, o irmão do Senhor. Isso vos escrevo e
asseguro diante de Deus que não minto.”
O estudo crítico das epístolas junto com os novos textos descobertos
no século XX daquela época mostra que ante o que pareciam ser elementos
próprios de Paulo em muitas de suas cartas, as descobertas de textos
antigos, como os famosos Manuscritos do Mar Morto (que, ao contrário do
que muitos pensam, nada têm de cristãos) mostrou serem elementos de
discussão comum entre a classe judaica mais instruída na época,
especialmente as interpretações apocalípticas dadas à singularidade da
vida e borá de Cristo (o apocalipsismo era uma mentalidade constante
entre os judeus da época). Porém, muito mais sério do que isso, uma
parte da visão “cristã” de Paulo parece chocar de frente com os próprios
ensinamentos de Jesus. Isso fica mais grandemente visível no núcleo do
pensamento paulino de que a simples justificação pela fé em Jesus,
especialmente nos fatos de seu sacrifício e ressurreição, serem os
únicos elementos que justificariam a salvação de um crente, doutrina
arduamente abraçada pela maioria das igrejas e seitas evangélicas, mas
que bate frontalmente com o que Jesus diz em Mateus em 25:31-45:
«Quando o Filho do Homem vier na sua
glória, acompanhado por todos os seus anjos, há-de sentar-se no seu
trono de glória. 32Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele
separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos
bodes. 33À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os bodes.
34O Rei dirá, então, aos da sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai!
Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do
mundo. 35Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de
beber, era peregrino e recolhestes-me, 36estava nu e destes-me que
vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.’
37Então, os justos vão responder-lhe:
‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com
sede e te demos de beber?38Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou
nu e te vestimos? 39E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos
visitar-te?’ 40E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: ‘Em verdade vos
digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a
mim mesmo o fizestes.’
41Em seguida dirá aos da esquerda:
‘Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado
para o mal e para os seus anjos!42Porque tive fome e não me destes de
comer, tive sede e não me destes de beber, 43era peregrino e não me
recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não
fostes visitar-me.’ 44Por sua vez, eles perguntarão: ‘Quando foi que te
vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na
prisão, e não te socorremos?’ 45Ele responderá, então: ‘Em verdade vos
digo: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a
mim que o deixastes de fazer.’”
O conhecido especialista em Novo Testamento Bart D. Ehrman reflete
que esta passagem de Mateus “sugere que a salvação não é apenas uma
questão de crença, mas também de ação, uma idéia absolutamente ausente
do raciocínio de Paulo”. Poderíamos dizer ausente não apenas de Paulo,
mas das igrejas “paulinas”, especialmente as atuais igrejas
televangélicas. Na passagem de Mateus acima transcrita se percebe mesmo
que os escolhidos (as “ovelhas”) podem sequer ter tomado conhecimento da
vida de Jesus (“Senhor, quando foi que te vimos...”). Nos dizeres de
Bart D. Ehrman,
“As ‘ovelhas’ ficam perplexas (de terem sido escolhidas como
herdeiras do Reino). Elas não se lembram sequer de ter encontrado Jesus,
o Filho do Homem, quanto mais de fazer essas coisas por ele. Mas ele
diz a elas: ‘Cada vez que fizeste a um desses meus irmãos mais
pequeninos, a mim o fizestes’. Em outras palavras, é cuidando dos que
têm fome, sede, estão nus, doentes e encarcerados que é possível herdar o
Reino de Deus.
“Como essas palavras se coadunam com
Paulo? Não muito bem. Paulo acreditava que a Cida eterna era dada
àqueles que acreditavam na morte e ressurreição de Jesus. No relato de
Mateus sobre as ovelhas e os bodes, a salvação é dada a quem nunca havia
falar de Jesus. É dada a quem trata os outros de forma humana e
carinhosa no momento de maior necessidade. É uma visão da salvação
inteiramente diferente” (Bart D. Ehrman, “Quem foi Jesus? Quem Jesus não foi”, Ed. Ediouro, 2010).
Portanto, segundo alguns pesquisadores – e entre eles, alguns
teólogos mais esclarecidos – , existe material suficiente para suspeitar
que Paulo divulgou uma doutrina “paulina” em franco contraste com a mensagem de Jesus. Paulo ajudou a cristalizar uma religião sobre Cristo e não de Cristo. Edgar Jones, autor do livro Paulo: O Estranho, diz que "Jesus
de Nazaré deve ser cuidadosamente diferenciado do Jesus de Paulo.
Gerações e séculos passaram até que a corrente paulina com seu forte
apelo em favor do Império Romano ganhasse ascendência sobre a corrente
apostólica".
O fato é que, até o século 4, existiam várias correntes
de cristianismo, em linhas gerais divididas entre as que eram lideradas
pelos discípulos de Paulo e outras atreladas, pelos seguidores, à
tradição mais ligada aos apóstolos de Cristo. Uma que dava ênfase à
transformação pessoal calcada na preocupação ética com o próximo a
partir das mensagens éticas do evangelho e outra mais voltada para a
conversão ideológica à própria figura de Jesus. Sobre essa divisão
veja-se, por exemplo, a ênfase que está na epístola atribuída ao
apóstolo Tiago, o irmão do Senhor – e que portanto, se for dele mesmo
conheceu e conviveu com Jesus. Ainda que provavelmente a epístola não
seja do Tiago apóstolo, parece ser de alguém que conhecia melhor os
ensinos de Jesus que Paulo. Esta epístola dá a grande ênfase à caridade e
às obras humanistas, criticando quem acha que apenas a fé o ajudará a
purificar a alma e atingir o nível do Reino dos Céus, o que está
concorde com o trecho de Mateus que já vimos.
Na epístola a Tiago atribuída, lê-se:
“14 Que aproveitará, irmãos meus, a
alguém que tem fé, se não tiver obras? Acaso podê-lo-á salvá-lo a fé? 15
Se um irmão, porém, ou uma irmã estiverem nus e lhes faltar o alimento
diário, 16 e lhes disser algum de vós: Vá em paz, aquentai-vos e
farte-se, e não lhes deres o que é preciso para o corpo, de que lhes
aproveitará estas palavras? 17 Assim também a fé, se não tiver obras, é
morta em si mesma”.
“18 Poderá logo alguém dizer: Tu tens a
fé e eu tenho as obras. Mostrai-me tu a tua fé sem obras e eu te
mostrarei a minha fé pelas minhas obras. 19 Tu crês que há um só Deus,
fazes muito bem, mas também os demônios o crêem e tremem. 20 Queres tu,
pois, saber, oh homem vão, que a fé sem obras é morta? (...) 24 Não
vedes como é que é pelas obras que um homem é justificado e não somente
pela fé? (...) 26 Porque bem como um corpo sem espírito é morto, assim
também a fé sem obras é morta.”
O professor Bart Ehrman, resumindo o pensamento da maioria dos
pesquisadores e do que é mesmo ensina na maior parte dos centros de
formação teológica de grandes universidades, chega mesmo a enfatizar
que, de acordo com os indícios das palavras ou, ao menos do pensamento,
do Jesus histórico:
“ As ‘ovelhas’ recebem sua recompensa celestial e eterna por todas as
coisas boas que fizeram: alimentar os que tinha fome, vestir os
despidos, cuidar dos doentes; os ‘bodes’ são punidos por não terem
feitos boas ações. Um cristão posterior inventaria tal tradição? Após a
morte de Jesus, seus seguidores alegaram que a pessoa se tornava justa
perante Deus e receberia sua recompensa eterna ao [simplesmente]
acreditar na morte e na ressurreição de Jesus, não fazendo boas ações.
Portanto, essa hsitória (encontrada em Mateus 25) rema contra a corrente
desse ensinamento, ao indicar que a pessoa será recompensada por suas
boas ações. Logo: isso tem de remontar a Jesus.
“Em síntese, Jesus ensinou (...) que as pessoas (...) deveriam mudar seu
comportamento e viverem como Deus esperava que vivessem. Isso envolvia o
amor desinteressado pelos outros. Assim, Jesus teria cidade as
Escrituras: ‘Amarás a teu próximo como a ti mesmo’ (Mateus 22:39,
citando Levítico 19:118). Sua formulação da idéia é a Regra de Ouro:
Tudo aquilo, portanto, que querei que os homens vos façam, fazei-o vós a
eles” (Mateus 7:12). É difícil afirmar, de forma mais concisa, as
exigências éticas da lei de Deus” (EHRMAN, 2010, “Quem foi Jesus, Quem Jesus não foi?”, PP. 177-178).
Quando o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império
Romano, especialmente com Teodósio, a corrente paulina saiu-se
vitoriosa, especialmente porque uma das cartas (Romanos) de Paulo diz
textualmente que os cristãos deveriam se submeter às autoridades
constituidas, no caso, Roma. "As idéias de Paulo, afáveis aos
dominadores, foram definitivamente incorporadas à doutrina cristã", diz
Fernando Travi, teólogo evangélico. Ora, essa submissão passiva ás
autoridades políticas soa estranha a um seguidor de um revolucionário
morto por estas mesmas autoridades, com o aval das autoridades
religiosos locais, por seu potencial perigo político. O teólogo
franciscano Jacir de Freitas Faria, mestre em exegese bíblica pelo
Pontifício Instituto Bíblico (PIB), de Roma, comunga da mesma opinião:
"Paulo é uma figura basilar do cristianismo, mas não podemos deixar de
ser críticos a ele nessa relação com o Império Romano".
Outro ponto de controvérsia clássico sobre Paulo é a sua clara e nem
sempre sutil opinião sobre as mulheres. Na carta endereçada à
comunidade cristã de Colosso, ele escreve: "Quanto às mulheres, que elas
tenham roupas decentes, se enfeitem com pudor e modéstia. (...) Durante
a instrução, a mulher conserve o silêncio, com toda submissão. Não
permito que a mulher ensine, ou domine o homem".
Postado por
Carlos Antonio Fragoso Guimarães
às
17:40
O homem que inventou Cristo
Para conquistar fiéis, ele fez concessões que desagradaram aos
discípulos de Jesus – e ainda despertam acirradas discussões entre
pensadores e religiosos.
por Yuri Vasconcelos
O mundo cristão não seria o mesmo sem a mensagem que São Paulo
transmitiu ao Império Romano. Para conquistar fiéis, ele fez concessões
que desagradaram aos discípulos de Jesus – e ainda despertam acirradas
discussões entre pensadores e religiosos. Afinal, Paulo espalhou ou
deturpou a palavra de Cristo?
Estamos no ano 34 da era cristã. Passaram-se poucos anos desde a
crucificação de Jesus. Sua mensagem espalhou-se rapidamente por toda a
Palestina e seus discípulos eram implacavelmente perseguidos,
principalmente pelos judeus. Os seguidores de Jesus são acusados de
heresia e traição à Lei de Moisés. Em Jerusalém, um jovem judeu chamado
Saulo faz verdadeiras atrocidades com os cristãos. Persegue-os
furiosamente, invade suas casas e os manda para prisão. Informado de
que, a cada dia, cresce a comunidade cristã em Damasco, na Síria, pede e
obtém do Sinédrio, o Supremo Tribunal da comunidade judaica de
Jerusalém, cartas de recomendação aos rabinos daquela cidade,
autorizando-os a caçar os hereges cristãos. Acompanhado de alguns
homens, percorre a cavalo os cerca de 200 quilômetros até Damasco.
Depois de sete dias de viagem, sob um sol escaldante, consegue
finalmente avistar as muralhas da cidade.
Mas, de repente, uma forte luz vinda do céu incide sobre ele e
assusta seu cavalo, que o joga no chão. Naquele instante, o jovem judeu
ouve uma voz que diz: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”
Atônito, ele indaga: “Quem és, Senhor?” A voz responde: “Jesus, a
quem tu persegues. Mas levanta-te, entra na cidade e te dirão o que
deves fazer”.
O séquito de Saulo permanece mudo de espanto, sem entender de onde
vem aquela voz. Saulo, por sua vez, ergue-se do chão, mas não consegue
enxergar nada. Em Damasco, permanece três dias e três noites em jejum,
refletindo sobre o estranho acontecimento, até ser visitado por Ananias,
um discípulo de Cristo, que lhe diz: “Saulo, meu irmão, o Senhor me
enviou. O mesmo que te apareceu no caminho por onde vinhas. É para que
recuperes a vista e fiques repleto do Espírito Santo”. Nesse exato
momento, duas escamas caem dos olhos de Saulo, que volta a ver. Em
seguida, ele é batizado. Convertido, Saulo de Tarso tornou-se aquele que
talvez tenha sido o mais importante difusor da palavra de Jesus: São
Paulo.
O episódio acima, narrado em detalhes no livro Atos dos Apóstolos, do
Novo Testamento, teria marcado radicalmente a vida de Paulo. Não é
possível provar que ele tenha de fato acontecido. Os textos bíblicos são
as únicas fontes disponíveis para se reconstituir a história do santo –
acreditar neles é uma questão de fé. Tenha ocorrido de forma tão
espetacular ou não, a conversão de Paulo mudou para sempre os rumos da
religião cristã. Para muitos teólogos, Paulo foi um personagem
fundamental nos primeiros anos do cristianismo. Seu trabalho de
evangelização foi, em grande parte, responsável pelo caráter universal
da doutrina cristã e sua mensagem, expressa em cartas enviadas às
comunidades que fundava, ainda hoje é considerada o alicerce da
jurisprudência, da moral e da filosofia modernas do Ocidente. Enquanto a
maioria dos apóstolos que conviveram com Jesus restringiram sua
pregação à Palestina, Paulo levou a palavra de Cristo para lugares
distantes, como a Grécia e Roma.
Sua importância na construção da Igreja primitiva é tão grande que
muitos estudiosos atribuem a ele o título de pai do cristianismo.
“Paulo desempenhou um papel maior na evangelização dos primeiros
cristãos”, diz o biblista Jerome Murphy-O’Connor, professor da Escola
Bíblica e Arqueológica de Jerusalém e um dos maiores estudiosos do
santo. O historiador André Chevitarese, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), especialista em cristianismo e judaísmo antigos,
concorda: “O cristianismo, tal como existe hoje, deve muito a Paulo. Se
não fosse o apóstolo, ele provavelmente não teria passado de mais uma
seita judaica”. Isso não quer dizer que o trabalho dos 12 apóstolos
tenha sido irrelevante, mas eles pregaram numa região, a Palestina, que
viria a ser devastada pelos romanos entre os anos 66 e 70. “Sem dúvida,
Paulo foi o apóstolo que teve maior repercussão com o passar dos
séculos”, afirma o teólogo Pedro Lima Vasconcellos, professor do
Departamento de Teologia e Ciências da Religião da Pontifícia
Universidade Católica (PUC), de São Paulo.
O termo apóstolo, no sentido de evangelizador, é freqüentemente usado
para se referir a São Paulo. Não há evidências históricas, entretanto,
de que ele tenha conhecido Jesus Cristo.
A influência de Paulo é indiscutível. Mas, para uma corrente de
historiadores e teólogos, ele deturpou os ensinamentos de Jesus Cristo –
a ponto de a mensagem cristã que sobreviveu ao longo dos séculos ter
origem não em Cristo, mas em Paulo. Esses pensadores julgam ser mais
correto dizer que o que existe hoje é um “paulinismo”, não um
cristianismo. “As cartas de São Paulo são uma fraude nos ensinamentos de
Cristo. São comentários pessoais à parte da experiência pessoal de
Cristo”, afirmou o líder pacifista indiano Mahatma Ghandi, em 1928.
Opinião semelhante tem o prêmio Nobel da Paz de 1952, o alemão Albert
Schweitzer, que declarou: “Paulo nos mostra com que completa indiferença
a vida terrena de Jesus foi tomada”.
As principais críticas da corrente antipaulina concentram-se em
pontos polêmicos das cartas do apóstolo. Nelas, entre outras coisas,
Paulo defende a obediência dos cristãos ao opressivo Império Romano, bem
como o pagamento de impostos, faz apologia da escravidão, legitima a
submissão feminina e esboça uma doutrina da salvação distinta daquela
que, segundo teólogos antipaulinos, teria sido defendida por Jesus. “A
mentira que foi Paulo tem durado tanto tempo à base da violência. Sua
conversão foi uma farsa”, afirma Fernando Travi, fundador e líder da
Igreja Essênia Brasileira. Os essênios eram uma das correntes do
judaísmo há 2 mil anos, convertidos na primeira hora ao cristianismo.
“Ele criou uma religião híbrida. A prova disso é o mundo que nos cerca.
Um mundo cheio de guerra, de sofrimentos e de desespero.”
Paulo: Judeu, grego e romano
Para entender melhor o papel de São Paulo na origem e construção do
cristianismo é preciso voltar no tempo e acompanhar de perto sua vida. O
principal relato sobre ele está presente nos Atos dos Apóstolos, livro
escrito pelo evangelista Lucas, que foi também dos maiores discípulos de
Paulo. Seus relatos, no entanto, não são considerados um retrato fiel
dos acontecimentos. “Os Atos devem ter sido escritos cerca de 15 a 20
anos após a morte de Paulo, quando ele já poderia estar caindo no
esquecimento. Lucas, então, expressa uma visão romanceada do apóstolo,
transformando-o em um herói ou, mais do que isso, em um modelo de
discípulo”, afirma José Bortolini, padre da Congregação Pia Sociedade de
São Paulo, mestre em exegese bíblica e autor do livro Introdução a
Paulo e suas Cartas. Outra fonte de informação sobre o apóstolo são as
cartas (ou epístolas) escritas por ele para as comunidades cristãs que
tinha fundado.
Com base nessas duas fontes, sabemos que Paulo era um judeu detentor
de cidadania romana, criado em um ambiente culturalmente grego.
Ele nasceu em Tarso, na Ásia Menor, onde atualmente está a Turquia.
Era uma cidade grande, com mais de 200 mil habitantes, por onde passava
uma estrada que ligava a Europa à Ásia. Situada na província romana da
Cilícia, a Tarso de então era predominantemente grega – um dos mais
efervescentes centros de cultura do mundo helênico, chegando a rivalizar
com Atenas. Mas também era cosmopolita. Abrigava um porto fluvial
movimentado e se impunha como um importante pólo comercial. Suas ruas
estreitas viviam apinhadas de gente e suas casas abrigavam povos de
várias regiões: egípcios, bretões, gauleses, núbios e sírios – além dos
judeus (como a família de Paulo), que na época já haviam se assentado em
várias cidades do império.
A cidadania romana, citada nos escritos de Lucas, é um ponto
controverso da biografia de Paulo. Tê-la garantia alguns privilégios,
como o direito de participar das assembléias que decidiam questões sobre
a vida e a organização da cidade e a isenção do pagamento de alguns
impostos. Os cidadãos romanos também não podiam ser crucificados, caso
fossem condenados à morte. Segundo Lucas, Paulo herdara a cidadania do
pai ou do avô, que a teriam obtido por mérito ou comprado por uma
volumosa quantia. Mas o apóstolo nunca se declarou romano em suas
cartas. Para o biblista Murphy-O’Connor, o silêncio é compreensível:
“Não havia razão para Paulo mencionar sua posição social em cartas a
comunidades que ele desejava convencer de que ‘nossa pátria está nos
céus’ ”, escreve o teólogo no livro Paulo: Biografia Crítica. Cidadão
romano ou não, Paulo provavelmente fazia parte de uma elite – seu pai,
especula-se, era dono de uma oficina onde se fabricavam tendas. Ele
mesmo, aliás, dominava esse ofício.
O ano exato do nascimento de Paulo, bem como a data dos principais
acontecimentos de sua vida, são, ainda hoje, motivo de controvérsia.
Muitos historiadores supõem que ele tenha nascido por volta do ano 5 da
era cristã. Era, portanto, alguns anos mais novo do que Jesus – cujo
nascimento, segundo descobertas históricas recentes, é datado entre 6 e 4
a.C. Paulo foi educado na casa de seus pais, na sinagoga e na escola
ligada a ela. Aos 15 anos, deixou Tarso e mudou-se para Jerusalém, onde
matriculou-se na escola de Gamaliel, um dos sábios mais respeitados do
mundo judaico. Paulo teve uma formação acadêmica de primeira – nos
parâmetros atuais, algo equivalente a um doutorado em Harvard.
Nas tempos de estudante, Paulo presenciou uma situação que estaria na
origem de sua “cristofobia”. Um dos alunos mais brilhantes era um jovem
chamado Estêvão, um nazareno – nome dado aos que seguiam os
ensinamentos de Cristo. Em uma discussão, Estêvão foi fiel a sua fé e
declarou que Jesus era o messias: tal afirmação provocou a ira dos
colegas, inclusive de Paulo. Pela blasfêmia, Estêvão foi levado diante
do Sinédrio e condenado à morte por apedrejamento. Conforme o costume da
época, as pessoas que iam apedrejar o condenado deveriam tirar suas
próprias vestes e colocá-las aos pés de uma testemunha. No martírio de
Estevão, a testemunha era Paulo.
A partir desse episódio, Paulo, que já era um intransigente defensor
da lei e dos costumes judaicos, viu nos seguidores de Cristo uma ameaça
real à sua própria religião. Foi então que passou a cultivar um ódio
crescente pelos nazarenos e tornou-se um implacável perseguidor dos
membros dessa seita. Depois de muito aterrorizar os cristãos de
Jerusalém, decidiu agir na Síria. Foi quando aconteceu sua conversão no
caminho de Damasco.
O missionário viajante
Paulo tinha cerca de 28 anos quando ocorreu seu encontro místico com
Jesus. Depois de ter se tornado um fervoroso discípulo do Nazareno,
viveu algum tempo na comunidade cristã damasquina, até ser expulso pelos
judeus. Refugiou-se por cerca de dois anos na Arábia – território
dominado pela tribo dos nabateus –, que se estendia do mar Vermelho até
Damasco, margeando a Palestina pelo leste. Nesse período, estudou e
refletiu sobre os ensinamentos de Cristo. Por volta do ano 37, retornou a
Damasco, onde fez suas primeiras pregações. Mais uma vez, provocou a
fúria da comunidade judaica e teve de deixar a cidade numa fuga
cinematográfica. Como os portões da cidade estavam vigiados, ele
escondeu-se num cesto que foi descido pelas muralhas. Era noite e Paulo
andou por cinco horas até sentir-se a salvo. Após seis dias de
caminhada, chegou a Jerusalém. Havia três anos que ele tinha deixado a
cidade.
Os cristãos de Jerusalém o receberam com desconfiança. Afinal de
contas, ainda estavam vivas na memória as atrocidades cometidas por
Paulo. Coube a Barnabé, um ex-colega da escola de Gamaliel convertido ao
cristianismo, apresentá-lo aos apóstolos. Foi nessa ocasião que
aconteceu o primeiro encontro com Pedro, um dos discípulos mais próximos
de Jesus. Durante 15 dias, eles permaneceram juntos. Mas não tardou
para o Sinédrio saber que Paulo, agora cristianizado, havia voltado.
Diante do perigo que corria em Jerusalém, Paulo mais uma vez teve de
fugir: o destino foi Tarso, sua cidade natal, onde permaneceu por sete
ou oito anos. Nada se sabe sobre sua vida nesse período.
Por volta de 45 d.C., convidado por Barnabé, Paulo mudou-se para
Antióquia da Síria, onde a igreja dos nazarenos crescia rapidamente.
Depois de Roma e Alexandria, no Egito, Antióquia era a terceira maior
cidade do Império Romano. “Diferentemente do que acontecia em Jerusalém,
onde os seguidores de Jesus ainda estavam ligados à lei e aos rituais
judaicos, em Antióquia se respirava ar novo – lá, boa parte dos
neocristãos vinha do paganismo”, afirma padre Bortolini. O termo
cristão, como designação dos discípulos de Jesus, surgiu pela primeira
vez nessa cidade. Esse fato reveste-se de importância porque pela
primeira vez os seguidores de Jesus não são mais vistos como judeus
dissidentes.
Foi de lá que Paulo – descrito em textos apócrifos como “um homem
pequeno com uma grande cabeça careca” – partiu para sua primeira jornada
missionária. Nessa ocasião, ele tinha cerca de 40 anos. Durante 12
anos, de 46 a 58, Paulo empreendeu quatro viagens evangelizadoras,
visitando boa parte do Império Romano, que se estendia da Grã-Bretanha
ao Oriente Médio, passando pelo norte da África. Eram jornadas árduas,
feitas a pé ou de navio, sempre na companhia de outros discípulos.
Quando viajavam por terra, seguiam pelas estradas romanas, percorrendo
30 quilômetros por dia. O perigo os espreitava, como escreve o apóstolo
em uma de suas epístolas aos coríntios: “Sofri perigos nos rios, perigo
por parte de ladrões, perigo por parte dos meus irmãos de raça, perigo
por parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no
mar, perigos por parte dos falsos irmãos”.
A estratégia pastoral de Paulo era bem definida. Pregava nas
sinagogas, em casas e praças de grandes centros urbanos, que funcionavam
como pólos irradiadores da mensagem. Ao sair, designava um líder
responsável pelo rebanho. A primeira viagem, entre 46 e 48, foi feita em
companhia de Barnabé e de Marcos, outro discípulo cristão, o mesmo a
quem é atribuído um dos quatro evangelhos. Foram à ilha de Chipre e
percorreram a Ásia Menor (veja mapa) antes de retornar a Antióquia. É a
partir dessa primeira expedição que Paulo deixa de ser chamado pelo nome
judeu Saulo – a mudança é narrada por Lucas no Ato dos Apóstolos, 13:9.
Antes de partir para a segunda viagem, Paulo foi intimado a
participar do Concílio Apostólico de Jerusalém, em 49, que reuniu a nata
do cristianismo primitivo. Foi um encontro tenso, onde, pela primeira
vez, vieram à tona as divergências entre Paulo e o grupo de
judeus-cristãos, tendo à frente Pedro e Tiago Menor, líder da comunidade
cristã em Jerusalém. A assembléia discutiu assuntos delicados, como a
obrigatoriedade da circuncisão para os pagãos convertidos ao
cristianismo. A questão era importante e polêmica, pois a circuncisão
era encarada como a porta de entrada do judaísmo. Ao aceitá-la, os
convertidos assumiam que adotariam integralmente a cultura judaica.
Paulo era contra, pois acreditava que o sacramento do batismo era
suficiente para a conversão. Em suas pregações, ele encontrava forte
resistência dos pagãos, que não entendiam por que deveriam se submeter
ao ritual de iniciação judaico para tornar-se cristãos. Depois de
acirradas discussões, Paulo saiu vitorioso.
Foi, em parte, por causa dessa liberalização que Paulo arrebanhou um
número tão grande de fiéis. Ao final do encontro, Paulo recebeu a
alcunha de “apóstolo dos gentios”, em contraposição a Pedro, chamado de
“apóstolo dos judeus”.
A segunda jornada missionária começou depois do Concílio de Jerusalém
e estendeu-se até 52. O ponto alto dessa jornada foi a pregação na
Europa. Pela primeira vez, a palavra de Deus deixava a Ásia e
espalhava-se por um novo continente. Paulo visitou várias cidades
gregas, fundando importantes núcleos cristãos. “Foi por causa dessa
passagem [da Ásia para a Europa] que o cristianismo sobreviveu e se
desenvolveu”, argumenta padre Bortolini. Foi também nessa jornada que
Paulo escreveu, em 51, a Epístola aos Tessalonicenses, o mais antigo
documento do Novo Testamento. Nas cartas paulinas, o trabalho braçal
ficava por conta de escribas: Paulo as ditava e as assinava de próprio
punho para autenticar o documento. A maioria delas foi escrita em grego,
mesma língua usada por Paulo em suas pregações. Esse era o idioma
universal, comparável ao que hoje é o inglês.
O apóstolo também se expressava em hebraico, língua da elite judaica,
na qual foi escrita a maior parte dos livros do Antigo Testamento, e em
aramaico, a língua materna de Jesus e corrente na camadas populares da
Palestina. Mesmo sendo poliglota, o apóstolo encontrava dificuldade para
se comunicar em suas peregrinações, diante da multiplicidade de línguas
e dialetos daquela época. Em muitas ocasiões, recorria a intérpretes.
Em uma de suas cartas, a Epístola aos Gálatas, percebe-se a tensão
existente entre Paulo e os 12 apóstolos que conviveram com Cristo. Nela,
Paulo afirma que “enfrentou abertamente [Pedro, em Antióquia], porque
ele se tornara digno de censura”. O motivo da briga foram dois preceitos
alimentares judaicos. Pedro defendia que os neocristãos não poderiam
sentar-se à mesa com gentios – seus iguais até pouco antes. Deveriam
também rejeitar sobras de carnes de animais sacrificados aos deuses
pagãos. Paulo discordava e teve uma acirrada discussão com Pedro.
Na terceira viagem missionária, de 53 a 57, Paulo deteve-se por três
anos em Éfeso, a capital da Ásia Menor. Lá, presume-se, esteve preso por
alguns meses – ao longo de sua vida, o apóstolo deve ter permanecido
quatro anos atrás das grades. Durante essa jornada, coletou dinheiro
para os cristãos pobres de Jerusalém. No retorno à Terra Santa, não se
sabe como foi recebido por Tiago, chefe da igreja de Jerusalém. Nem
Lucas nem Paulo deixam claro se ele aceitou o dinheiro “impuro” da
coleta. Sabe-se apenas que foi na volta a Jerusalém que Paulo foi preso,
na praça do Templo, sob a acusação de introduzir gentios na sinagoga.
Os judeus estavam furiosos com a presença do pregador na cidade e,
temendo por sua segurança, o tribuno romano Cláudio Lísias o encarcerou
de novo. Dessa vez, foi em Cesaréia, perto de Jerusalém, onde amargou
dois anos de reclusão. Eis que ele pediu para ser julgado em Roma pelo
imperador – direito conferido aos cidadãos romanos.
No outono de 60, o apóstolo foi enviado à capital imperial, uma
cidade com quase 1 milhão de moradores. Paulo foi saudado pela
comunidade cristã e permaneceu em prisão domiciliar, vigiada por
soldados. Encontrava-se com as pessoas, mas não podia sair de casa.
Aproveitou esse período para transmitir a palavra de Deus. Depois de
dois anos de cativeiro, seu processo foi encerrado sem uma sentença
condenatória.
Pouco se sabe a respeito dos anos seguintes da vida de Paulo, já que o
Novo Testamento não dá indicações do que aconteceu com ele após a
prisão em Roma. Mas, segundo a tradição, acredita-se que tenha
empreendido uma viagem à Espanha ou visitado as igrejas cristãs que
fundara na Grécia e Ásia Menor e retornado a Roma na primavera de 67. O
império era chefiado por Nero, que anos antes havia ateado fogo na
cidade e jogara a culpa pelo desastre nos seguidores de Jesus. Por isso,
os cristãos eram duramente perseguidos e tinham que se reunir em
catacumbas para escapar da fúria insana do imperador. Quando capturados,
viravam presa para as feras do Coliseu. Ao deparar com essa situação,
Paulo empenhou-se em reconstruir a comunidade. Não tardou e foi preso,
acusado de chefiar a seita dos nazarenos.
Na prisão, escreveu sua derradeira carta ao discípulo Timóteo, um dos
líderes da igreja de Éfeso. Ele sabia que não escaparia da morte. No
outono daquele ano, foi levado pelos guardas para fora da cidade e
degolado. No local de seu martírio foi construída a praça Tre Fontane e
perto dali, junto ao seu túmulo, erguida a basílica de São Paulo
Extramuros. Diz a lenda que, no momento de sua execução, uma cega de
nome Petronila aproximou-se do apóstolo e lhe ofereceu um véu para
cobrir-lhe o rosto. Paulo teria devolvido o véu à mulher e, quando ela o
colocou sobre os seus próprios olhos, recobrou milagrosamente a visão. A
conversão de Paulo é comemorada no dia 25 de janeiro. Foi uma escolha
aleatória, já que não se sabe o dia exato de sua conversão.
Como a cidade de São Paulo foi fundada nesse dia, acabou recebendo o
nome do santo. A festa de São Paulo é celebrada em 29 de junho, junto
com a de São Pedro. Foi uma forma encontrada pela Igreja para
homenagear, de uma só vez, os dois líderes máximos do cristianismo
primitivo.
Cristianismo ou paulinismo?
As 13 cartas escritas por São Paulo sintetizam o pensamento do
apóstolo, que viria a moldar a doutrina cristã. Elas foram redigidas
entre os anos 50 e 60 e são os mais antigos documentos da história do
cristianismo – os quatro evangelhos canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e
João ficaram prontos apenas entre os anos 70 e 100. A influência do
apóstolo na consolidação da doutrina cristã pode ser medida pelo fato de
suas epístolas representarem quase metade dos 27 livros do Novo
Testamento. Com elas, dizem os estudiosos, Paulo não tinha a pretensão
de formular tratados teológicos. “Elas são resultado de experiências
vivenciadas pelas comunidades paulinas”, afirma o André Chevitarese. Uma
corrente de biblistas defende que nem todas foram de fato escritas por
Paulo – algumas teriam sido redigidas por seus discípulos após a morte
do apóstolo. “Elas são muito diferentes em estilo literário e conteúdo”,
afirma Pedro Vasconcellos, da PUC. Para a Igreja, no entanto, todas as
cartas são de autoria de Paulo.
Se são uma rica fonte de difusão da doutrina cristã, esses documentos
são também a principal causa da controvérsia sobre o apóstolo. Na
opinião de Fernando Travi, líder da Igreja Essênia Brasileira, a
descoberta, no século passado, de escrituras datadas dos primeiros anos
do cristianismo, como os Manuscritos do Mar Morto, o Evangelho dos 12
Santos (ou da Vida Perfeita) e o Evangelho Essênio da Paz, indica que
boa parte do conteúdo das cartas de Paulo está em oposição aos
ensinamentos de Jesus (leia quadro na pág. 64). “Existem sérios indícios
de que, como num plano de sabotagem, Paulo divulgou uma doutrina
falsificada em nome do messias”, diz ele. Opinião parecida tem o pastor
batista americano Edgar Jones, autor do livro Paulo: O Estranho. “Jesus
de Nazaré deve ser cuidadosamente diferenciado do Jesus de Paulo.
Gerações e séculos passaram até que a corrente paulina com seu forte
apelo em favor do Império Romano ganhasse ascendência sobre a corrente
apostólica”, diz o teólogo.
O fato é que, até o século 4, o cristianismo dividia-se em duas
correntes distintas, uma liderada pelos discípulos de Paulo e outra
pelos seguidores dos apóstolos de Cristo. Quando o cristianismo
tornou-se a religião oficial do Império Romano, a corrente paulina
saiu-se vitoriosa. “As idéias de Paulo, afáveis aos dominadores, foram
definitivamente incorporadas à doutrina cristã”, diz Fernando.
Para os críticos de Paulo, um exemplo dessa “afabilidade” está
presente na Epístola aos Romanos. “Cada um se submeta às autoridades
constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que
existem foram estabelecidas por Deus. Aquele que se revolta contra a
autoridade opõe-se à ordem estabelecida por Deus”, escreve Paulo. E
continua: “É também por isso que pagais impostos, pois os que governam
são servidores de Deus”. “Essa passagem revela que ele estava a serviço
das autoridades romanas. Jesus, por sua vez, se insurgia contra as leis
de Estado”, afirma Fernando. Para os defensores de Paulo, esse texto foi
tirado de seu contexto e tornou-se, ao longo dos séculos, uma teoria
metafísica do Estado. “O texto só tinha valor para quem vivia em Roma,
onde qualquer movimento de desobediência seria esmagado”, diz o teólogo
Pedro Vasconcellos.
Para outros teóricos, deve-se diferenciar a doutrina religiosa
paulina das opinões do apóstolo sobre a ordem social. “A teoria de
Igreja de Paulo é fundamentada no antiautoritarismo, o que influenciou
muito a doutrina protestante. Na sua igreja, a idéia de liberdade é
plena, mas quando ela é extrapolada para o meio social, surge o seu
conservadorismo”, diz o pastor luterano Milton Schwantes, professor da
Universidade Metodista de São Paulo e doutor em literatura bíblica. O
sacerdote franciscano Jacir de Freitas Faria, mestre em exegese bíblica
pelo Pontifício Instituto Bíblico (PIB), de Roma, comunga da mesma
opinião: “Paulo é uma figura basilar do cristianismo, mas não podemos
deixar de ser críticos a ele nessa relação com o Império Romano”.
Outro ponto controverso das epístolas paulinas refere-se à defesa que
seu autor faz da escravidão. Na Epístola aos Efésios, Paulo é taxativo:
“Servos, odedecei, com temor e tremor, em simplicidade de coração, a
vossos senhores nesta vida, como a Cristo”. Para os antipaulinos, o
apoio dado pelo apóstolo à escravidão tem sido usado pela Igreja ao
longo dos séculos para legitimar situações espúrias de dominação e
diverge radicalmente da palavra de Cristo, que pregava um mundo livre de
opressões. A corrente pró-paulina argumenta, mais uma vez, que é
preciso analisar o contexto histórico para entender seus escritos: “Sua
falha em condenar a escravidão torna-se compreensível quando sabemos que
cerca de 60% da população de qualquer cidade grande daquele tempo era
formada por escravos. Toda economia estava estruturada em torno desse
fato e, por isso, uma atitude crítica seria incompreensível”, afirma o
biblicista Jerome Murphy-O’Connor, de Jerusalém.
O apóstolo dos pagãos também é bombardeado por suas posições a
respeito das mulheres. Na carta endereçada à comunidade cristã de
Colosso, ele escreve: “Quanto às mulheres, que elas tenham roupas
decentes, se enfeitem com pudor e modéstia. (...) Durante a instrução, a
mulher conserve o silêncio, com toda submissão. Não permito que a
mulher ensine, ou domine o homem”. Suas palavras atraem até hoje a ira
das feministas, que o acusam de misoginia. Seus defensores, por outro
lado, argumentam que , ao contrário, ele incentivava a participação das
mulheres na vida social. “Paulo acreditou firmemente na igualdade entre
os sexos e, em suas igrejas, as mulheres exerciam todos os ministérios.
Alguns exegetas munidos de preconceito interpretaram erroneamente os
textos paulinos”, diz Murphy-O’Connor.
Outro petardo disparado pelos críticos diz respeito à doutrina da
salvação defendida por Paulo. “Paulo diz que os pecados são perdoados se
a pessoa acreditar que Jesus morreu na cruz por ela. É a doutrina da
salvação em que o herói derrama seu sangue e todos são perdoados por
causa dele. Enquanto isso, Jesus diz: ‘Eu sou o caminho, a verdade e a
vida’. Para Jesus, a salvação será dada àqueles que seguirem seus
ensinamentos”, afirma Fernando Travi. Os defensores de Paulo discordam e
afirmam que o apóstolo foi mais uma vez mal interpretado.
“Creio que houve uma transformação conservadora da mensagem de Paulo.
Temos que libertá-lo das idéias errôneas a seu respeito perpetuadas ao
longo dos séculos”, diz Pedro Vasconcellos, da PUC.
Conservador ou radical, fiel ou não a Jesus Cristo, São Paulo foi,
sem dúvida, um dos poucos evangelizadores – se não o único – a fazer o
cristianismo passar da cultura semita à greco-romana, possibilitando que
ela se tornasse uma religião mundial. “Ele criou condições para que
povos não-judaicos, ao receberem a mensagem de Deus, fossem inseridos de
forma igualitária na comunidade cristã”, afirma o André Chevitarese, da
UFRJ. Sem Paulo, considerado por muitos o pai do cristianismo, a
história da humanidade teria tomado outro rumo. A Idade Média, marcada
pela força da Igreja Católica, ocorreria de outra forma e o mundo em que
vivemos seria totalmente diferente. Nada seria como é.
Para saber mais
Na livraria
Paulo – Biografia Crítica, Jerome Murphy-O·Connor, Edições Loyola, 1996
Introdução a Paulo e suas Cartas, José Bortolini, Paulus, 2001
Paulo Apóstolo: Um Trabalhador que Anuncia o Evangelho, Carlos Mesters, Paulus, 2002
Libertando Paulo: A Justiça de Deus e a Política do Apóstolo, Neil Elliott, Paulus, 1998
Na internet
Paul – The Stranger (livro eletrônico de Edgar Jones sobre a vida de Paulo)
http://www.voiceofjesus.org/b2tableofcontents.html
Quem é quem no cristianismo
Conheça os principais personagens da igreja primitiva cristã
O FUNDADOR
Jesus:
Filho de Deus, concebido por Maria, nasceu por volta de 5 a.C. e
pregou exclusivamente na Palestina. Morreu na cruz em torno de 30 d.C.
A LINHA DE FRENTE
Pedro:
Era o líder dos 12 apóstolos. Pedro, que negou Jesus por três vezes,
foi o primeiro papa da Igreja Católica. Dois livros do Novo Testamento
(Primeira e Segunda Epístola de São Pedro) são creditados a ele. Segundo
a tradição cristã, foi crucificado e morto por volta de 64 d.C. em Roma
Os apóstolos:
Além de Pedro, o grupo dos 12 apóstolos que conviveram com Jesus era
formado pelos evangelistas João e Mateus, por André, irmão de Pedro,
Bartolomeu, Filipe, Tomé, Tiago Maior, irmão mais velho de João, Simão,
Tiago Menor e seu irmão Judas Tadeu e Judas Iscariotes. Depois da
traição de Iscariotes, Matias, que havia convivido com Jesus, tomou seu
lugar e passou a ser considerado do time dos 12 apóstolos
Tiago:
Identificado na Bíblia como o irmão de Jesus, é o principal líder da
comunidade cristã de Jerusalém. Escreveu uma das cartas do Novo
Testamento (Epístola de São Tiago). Segundo os historiadores, foi
apedrejado até a morte pelos judeus por volta do ano 62 d.C.
OS EVANGELISTAS
Mateus:
Apóstolo de Cristo, é considerado o autor do primeiro dos quatro
evangelhos, escrito por volta de 80 d.C., 50 anos depois da morte de
Jesus. Antes de sua conversão ao cristianismo, Mateus exercia a função
de coletor de impostos
João:
O mais jovem dos apóstolos escreveu o quarto evangelho. Era
considerado o discípulo amado de Jesus e foi o único dos 12 apóstolos
que não o abandonou na hora de sua morte. No Novo Testamento, é autor
também de três epístolas e do Apocalipse
Marcos:
Também chamado de João Marcos, foi autor do segundo evangelho,
escrito em Roma pouco antes do ano 60 da Era Cristã. Ele não chegou a
conhecer pessoalmente Cristo e, segundo estudiosos, escreveu o evangelho
a partir de informações de Pedro
Lucas:
Autor do terceiro evangelho e dos Atos dos Apóstolos, não conviveu
com Jesus. Nasceu pagão e pouco se sabe sobre sua vida pessoal e
conversão ao cristianismo. Muito ligado a Paulo, é identificado por este
como médico
O MISSIONÁRIO
Paulo:
Um dos mais influentes personagens dos primeiros anos do
cristianismo, não chegou a conhecer Jesus. Nasceu em torno de 6 d.C. e
converteu-se ao cristianismo quando tinha cerca de 28 anos. Viajou por
quase todo o Império Romano disseminando a palavra de Cristo e morreu
decapitado por volta de 67 d.C., em Roma
GRUPO DAS MULHERES
Sabe-se muito pouco sobre o que elas fizeram, mas os estudiosos
concordam que Maria Madalena, Maria de Cleófas, Marta e Joana, entre
outras, tiveram um papel importante na origem do cristianismo. Nesse
time, cabe destacar o papel de Maria Madalena, que é citada nos
evangelhos nas passagens da crucificação e da ressurreição de Jesus
Paulo, no tempo e no espaço
O apóstolo dos gentios fez quatro viagens missionárias: conheça o percurso de cada uma delas
Tarso:
Terra natal de Paulo, era um dos mais importantes núcleos do Império
Romano na Ásia. Ficava na fronteira do Ocidente e do Oriente e tinha um
ar cosmopolita e multicultural
Jerusalém:
Principal centro do cristianismo, foi onde Paulo recebeu sua educação
religiosa, na escola de Gamaliel. A cidade também foi sede do Concílio
Apostólico (49), que liberou os neocristãos advindos do paganismo da
circuncisão
Damasco:
Cidade na Síria para onde Paulo se dirigia quando teve uma visão de
Jesus e converteu-se como um de seus mais ardorosos discípulos
Antióquia da Síria:
Depois de Jerusalém, foi aqui que surgiu a mais importante comunidade
cristã da Antiguidade. A igreja de Antióquia era formada principalmente
por pagãos convertidos, ao contrário de Jerusalém, composta quase
exclusivamente por cristãos-judeus
Cesaréia:
Paulo permaneceu encarcerado nessa cidade durante dois anos, entre 58
e 60, depois que foi preso na praça do Templo, em Jerusalém. Em
seguida, foi levado para Roma
Chipre:
Primeira parada de Paulo em sua viagem missionária inaugural, em 46.
Era a terra natal de Barnabé, aparentemente o líder da jornada
Éfeso:
O apóstolo passou mais de dois anos em Éfeso, grande centro cultural e
comercial da Ásia. Foi uma estadia mais longa do que o habitual.
Provavelmente ele esteve preso por algum tempo na cidade
Filipos:
Primeira grande cidade do continente europeu visitada por Paulo, em
sua segunda viagem missionária, que durou de 49 a 52. Aqui nasce a
primeira comunidade cristã da Europa
Tessalônica:
Principal localidade da Macedônia, tinha uma população formada por
gregos, romanos, judeus e orientais. Paulo fundou uma importante igreja
no local
Atenas:
Capital cultural do mundo grego, foi visitada por Paulo durante sua
segunda jornada de peregrinação. Sua pregação na cidade não foi bem
recebida
Corinto:
Paulo viveu por 18 meses na cidade (do inverno de 50 ao verão de 52),
que abrigava uma população de 500 mil habitantes. Foi aqui que ele
escreveu a Primeira Epístola aos Tessalonicenses, considerada o mais
antigo livro do Novo Testamento
Roma:
Paulo chegou preso a Roma em 60. Ficou na cidade cerca de dois anos,
em prisão domiciliar. Depois de solto, deve ter ido à Espanha. Retornou à
capital do império em 67, quando foi novamente preso e decapitado
Ano a ano, a vida dos apóstolo
Cerca de 5 ou 6 d.C.
Nasce em Tarso, importante cidade da Ásia Menor
20
Muda para Jerusalém para estudar na escola do rabino Gamaliel
34
Converte-se ao cristianismo
37
Faz suas primeiras pregações em Damasco. Volta a Jerusalém como cristão, mas, perseguido pelos judeus, foge para Tarso
37 a 45
Permanece em Tarso
45
Visita, a convite de Barnabé, a igreja da Antióquia, a segunda mais importante para os cristãos depois da de Jerusalém
46 a 48
Faz sua primeira viagem apostólica em companhia de Barnabé e Marcos
49
Participa do Concílio Apostólico de Jerusalém
49 a 52
Faz a segunda viagem apostólica, agora com Timóteo e Lucas
53 a 57
Faz a terceira viagem apostólica. Permanece quase três anos em Éfeso
57
É preso pelos romanos em Jerusalém
60
É enviado como prisioneiro a Roma
63
É solto por falta de provas. Parte em uma missão infrutífera à Espanha
Cerca de 67
Retorna a Roma e é preso mais uma vez. É executado por degolamento
Pregação controversa
As supostas contradições entre os ensinamentos de Cristo e de Paulo
Sobre A obediência ao Estado
O que Cristo teria dito: “Cuidarei e protegerei o fraco e aqueles que
são oprimidos e todas as criaturas que sofrem injustiça.” Evangelho dos
12 Santos, Ensinamento 46:18*
O que Paulo disse: “Cada um se submeta às autoridades constituídas,
pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram
estabelecidas por Ele.” Epístola aos Romanos, 13:1-3
Sobre a escravidão
O que Cristo teria dito: “Protegereis o fraco (...) Deus mandou-me
ajudar os quebrantados, para proclamar a liberdade dos cativos.”
Evangelho dos 12 Santos, Ensinamento 13:2
O que Paulo disse: “Servos, odedecei, com temor e tremor, em
simplicidade de coração, a vossos senhores nesta vida, como a Cristo;
servindo-os, não quando vigiados, para agradar a homens, mas como servos
de Cristo, que põem a alma em atender à vontade de Deus.” Epístola aos
Efésios, 6:5-6
Sobre a submissão feminina
O que Cristo teria dito: “Em Deus, o masculino não é sem o feminino,
nem o feminino sem o masculino (...) Deus criou a espécie humana na
divina imagem macho e fêmea (...) Assim, devem os nomes do Pai e da Mãe
ser igualmente reverenciados.” Evangelho dos 12 Santos, Ensinamento
52:10
O que Paulo disse: “Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo.
As mulheres o sejam a seus maridos, como ao Senhor, porque o homem é
cabeça da mulher, como Cristo é cabeça da Igreja e o salvador do Corpo.”
Epístola aos Efésios, 5:21-23
Sobre o doutrina da salvação
O que Cristo teria dito: “Mas eis que um maior que Moisés está aqui, e
Ele vos dará a mais alta Lei, ainda a perfeita Lei, e esta Lei
obedecerás. (...) Aqueles que acreditam e obedecem salvarão suas almas, e
aqueles que não obedecem as perderão. Pois digo a vós, a não ser que
vossa justiça sobrepuje a dos escribas e fariseus, não entrareis no
Reino do Céu.” Evangelho dos 12 Santos, Ensinamento 25:10
O que Paulo disse: “Se com tua boca confessares Jesus como Senhor, e
em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás
salvo. ” Epístola aos Romanos, 10:9
* O Evangelho dos 12 Santos é um texto apócrifo do início do
cristianismo, supostamente escrito pelos 12 apóstolos. Ele não é
reconhecido pela Igreja.
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