quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Yuval Noah Harari - filósofo e historiador israelense

OLIMPÍADA DO FUTURO
Jovens de Mossoró, no Rio Grande do Norte, criaram um projeto para combater o avanço do plástico nos oceanos: um canudo à base de mandioca.

Todo dia é dia de negros, brancos, indígenas...

"O 20 de novembro é uma data para se lembrar, um marco importante na luta negra, mas penso que não deve ser simplesmente 'vamos aqui falar sobre isso no 20 de novembro'. A questão racial, como a questão do preconceito em geral, tem que ser tratada todos os dias e não só pelos negros, mas por todos aqueles que são contra o racismo e o preconceito".




Vê TV

Quinta-feira, 21/11/2019

"Bom Sucesso" dá exemplo sobre como abordar tema da consciência negra na TV

O Dia da Consciência Negra, mais uma vez, ajudou a colocar em pauta o tema do racismo e sugestões sobre como enfrentá-lo. Mas, como lembrou a atriz Erika Januza, a discussão precisa ir além da efeméride.

"O 20 de novembro é uma data para se lembrar, um marco importante na luta negra, mas penso que não deve ser simplesmente 'vamos aqui falar sobre isso no 20 de novembro'. A questão racial, como a questão do preconceito em geral, tem que ser tratada todos os dias e não só pelos negros, mas por todos aqueles que são contra o racismo e o preconceito", disse ela.

Pensando na televisão, em particular na teledramaturgia, esta reflexão da atriz é muito importante. É verdade que novelas e séries têm tratado do racismo, com erros e acertos, há muitos anos. O tema está presente, de fato, nas mais variadas produções. Mas a denúncia do racismo basta?

Como observa o ator e humorista Paulo Vieira, não basta. "A criança branca acha que não existe negro no mundo, porque ela só vê o mundo branco na televisão, e a criança negra acha que não há espaço para ela porque todo mundo bem-sucedido na televisão é branco. Não existe outra maneira de ampliar esse debate da representatividade senão as TVs criarem outras celebridades negras, escalarem negros para o papel principal, para galã, para mocinha, para apresentar programas", diz ele.

Um exemplo muito positivo, na minha opinião, do que diz Paulo Vieira pode ser visto na novela "Bom Sucesso", da Globo. Dos 51 personagens da trama, 17 são vividos por atores negros ou pardos. Isso representa um terço do elenco, um índice ainda inferior à realidade da população brasileira, mas muito acima do que se vê em outras produções.

Há negros em diferentes posições na trama - um dos protagonistas (Ramon), um médico (Mauri), a diretora comercial de uma editora de livros (Glaucia), a diretora de uma escola (Elomar), além, claro, dos vários moradores que formam o núcleo do bairro de Bom Sucesso, um subúrbio carioca.

Mais importante, creio, é a forma como os autores, Rosane Svartman e Paulo Halm, enfrentam o assunto sem condescendência. A negritude dos personagens é uma realidade, não um assunto. Desta forma, por exemplo, a protagonista, a costureira Paloma (Grazi Massafera), se vê dividida entre um homem negro de origem humilde, Ramon (David Junior), e um branco e rico, Marcos (Rômulo Estrela). Ambos têm qualidades e defeitos.

Outra abordagem interessante ocorre com o personagem Waguinho (Lucas Leto). O jovem se envolveu com criminosos e acabou participando de um assalto à casa de Paloma. Arrependeu-se e está tentando se regenerar, com a ajuda do padre e de uma professora. Mas ainda provoca desconfiança e medo de vários personagens, negros como ele.

Dois personagens são os vilões da história: o advogado Diogo (Armando Babaioff) e a secretária Gisele (Sheron Menezzes). Ambos são ambiciosos e querem subir na vida passando por cima das pessoas e das regras. Eram amantes e enganaram a editora Nana (Fabiula Nascimento). Ele é branco e ela, negra - e a questão racial, mais uma vez, não tem relação alguma com as atitudes que tomam.

Com as limitações que o horário das 19h30 impõe, "Bom Sucesso" apresenta um retrato diversificado da sociedade brasileira, tanto do ponto de vista socioeconômico quanto racial, explicita as desigualdades, mas sem passar a mão na cabeça de ninguém.

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The Intercept Brasil

Fui a 4 países denunciar Bolsonaro
No início de novembro eu saí do Brasil para uma série de eventos nos Estados Unidos, na Noruega, Suíça e França. Conversei com brasileiros expatriados mas também com pessoas de vários países sobre os horrores da política bolsonarista. Não que esses horrores fossem novidades para alguém: a destruição em marcha da Amazônia, a corrupção no judiciário para proteger a própria família, o enfraquecimento da nossa democracia. Em poucos países do mundo democrático o presidente tem seu nome envolvido em um caso de assassinato.
Ouvi também relatos de colegas jornalistas de todo o mundo, de Oslo a Lagos. Pedro Molina, o maior cartunista da Nicarágua – que hoje vive nos Estados Unidos por causa dos horrores de seu próprio país – balançava a cabeça e sorria tristemente enquanto assistia à minha apresentação na Universidade do Texas, em Austin. Quando eu disse que Bolsonaro havia ameaçado Glenn de expulsão; quando eu disse que parlamentares pediam o fechamento do Intercept; quando eu disse que a própria ONU pediu providências do governo brasileiro contra as ameaças a nossos jornalistas (e foi ignorada), notei que era um roteiro que ela já conhecia. Molina me disse depois, em uma mesa com jornalistas de outros países: “Somos todos pacientes com a mesma doença em graus diferentes de contágio”. Mais de 440 pessoas foram mortas nas ruas do seu país até julho do ano passado, a maioria, manifestantes que foram assassinados a tiros.
Ilustração de Pedro Molina, cartunista da Nicarágua.
Em todos os eventos que participei, pude perceber que as pessoas sabem de uma coisa: seja em Genebra, seja em Kampala, sem a imprensa, a vida de todos fica muito pior. 
Países que respeitam direitos, que prezam pela liberdade de expressão e que apostam na diversidade – e não no ódio e na censura – têm mais imprensa, e não menos. Onde a imprensa está enfraquecida, o horror tomou conta. É por isso que em todos esses eventos falei, ao final, sobre nosso programa de financiamento coletivo. Jornalistas não costumam fazer isso, mas o momento que estamos vivendo não pede moderação nesse caso. Eu não tenho vergonha de dizer que precisamos desse dinheiro para seguir trabalhando.
Quero dividir com você algumas curiosidades que vi e ouvi em cada parada da viagem. Segue o fio:
  • Minha primeira atividade foi em Austin, nos Estados Unidos. No Knight Center for Journalism in the Americas da Universidade do Texas falei sobre “Mídia e democracia nos tempos de cólera e da polarização digital na América Latina”. Lá, estive com jornalistas da Venezuela, México, Argentina, Equador, Chile e Nicarágua. Só as histórias da Nicarágua ganham do Brasil atual. É difícil para a plateia acreditar nas coisas que contamos do cotidiano brasileiro por conta do tamanho dos absurdos. 
  • Saí dos EUA com a sensação de que as pessoas sabem quem é Jair Bolsonaro, têm dimensão do seu autoritarismo e do perigo que representa. O que mais repercutiu por lá foram as queimadas na Amazônia e a crise generalizada no ministério do Meio Ambiente. Pude contar um pouco da nossa cobertura, como demos com exclusividade o falso currículo de Ricardo “Yale” Salles, e desmascarar sua agenda com os destruidores do planeta. Falei também sobre o plano alucinado dos militares para “ocupar” a Amazônia.
  • Em seguida fui a Oslo. No dia em que o Augusto Nunes covardemente agrediu Glenn Greenwald eu estava ao lado de dois jornalistas turcos. Aproveitei e contei a eles como, ao longo do ano, fomos agredidos por congressistas, figuras públicas e outros jornalistas. Um deles me disse: “Começou assim na Turquia. Hoje temos 100 jornalistas presos. Cuidado.” 
  • Fui à Genebra dias depois para uma atividade do Coletivo Grito, de brasileiros que moram por lá: “Autoritarismos em Marcha - O Caso Brasileiro”. Pude conversar com muitos brasileiros na Suíça, inclusive com o mais ilustre deles, o escritor Paulo Coelho, com quem jantei. Paulo me disse que está vendo coisas no Brasil de hoje que não viu nem mesmo durante a ditadura militar, pela qual foi torturado. Notei que há enorme disposição para que se crie um movimento internacional para denunciar a gangue que tomou conta do país. Isso é muito positivo!
  • Meu último destino foi Paris onde conversei com colegas de mídias independentes e dei uma entrevista à Rádio France Internacional. Contei sobre a realidade brasileira e tratei de alternativas para compartilhar o que produzimos por aqui. Aprendi um pouco sobre sustentabilidade de alguns veículos de lá. Fiz reuniões com colegas que também não vivem de anúncio ou investidores, mas conseguem com a participação intensa dos leitores furar a bolha e gerar dinheiro suficiente para fazer algo que a gente sabe que é custoso e não dá lucro: o jornalismo que muda a vida das pessoas.
Desculpa pelo e-mail mais longo do que o normal, mas achei importante compartilhar essas notas da viagem para que você tivesse dimensão do que estamos fazendo. Nosso trabalho no Intercept passa por apurar informações, dar furos, investigar. Mas ele também tem uma inegável dimensão política e eu não tenho vergonha de assumir isso. Política com P maiúsculo. Porque está cada vez mais claro que se a gente tiver vergonha de apontar o dedo, de denunciar para o mundo o que está rolando por aqui e de dar nome às coisas, vamos ser esmagados pelas forças autoritárias. 
Voltei cheio de ideias e com fome para investigar aqueles que querem nos calar, tirar mais direitos, deixar a vida ainda mais precária. O remédio contra isso? Mais jornalismo! Mais imprensa! 
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Um abraço e até mais.

Leandro Demori
Editor Executivo, The Intercept Brasil

Fake news a R$ 25 mil por mês: como o Google treinou e enriqueceu blogueiros antipetistas

Rodrigo Ghedin, Tatiana Dias, Paulo Victor Ribeiro
Grupo de blogueiros aproveitou a onda do impeachment e as instruções da empresa para lucrar com anúncios.

Vazamento inédito revela os detalhes da espionagem do Irã no Iraque

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Mais de 700 telegramas do serviço secreto iraniano revelam como o país se aproveitou do caos após a queda de Saddam Hussein para influir no Iraque.

‘Se eu me debatesse, eles poderiam me dar um tiro': a história da advogada presa durante audiência

Valéria Santos
Todo advogado negro é vítima de racismo, mas muitos não falam nada. Desde o primeiro dia de aula no curso de Direito até o ponto de ser algemada e arrastada na frente de uma cliente.
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GRAMSCI

A mensagem principal dos Cadernos do Cárcere escritos por Gramsci talvez seja a necessidade de uma revisão nos métodos empregados para alcançar o socialismo. Em vez da revolução armada, Gramsci prega uma gradual revolução cultural. Em vez da liderança do operário, a do intelectual. Em vez de um líder máximo, o partido político. Na construção de uma sociedade comunista, a economia deixa de ser protagonista e divide o espaço com a educação.
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No Brasil, o autor italiano Antonio Gramsci (1891-1937) parece ser mais citado por seus detratores do que por seus adeptos. Mas o que de fato ele pensava e

O CAOS SE APROXIMA

Guedes e Bolsonaro empurram a Passos Largos o Brasil no desfiladeiro do Caos nas Ruas. Daí pro Inferno de Dante.



A crise se deve ao fracasso da política econômica de Paulo Guedes
Não é mais possível esconder o fracasso da política econômica do governo. As sucessivas quedas do índice Bovespa nas últimas semanas, a disparada do dólar – alcançando o maior valor nominal desde o plano Real –, o fracasso do leilão do pré-sal, a retirada de bilhões de dólares de investimentos estrangeiros – a maior desde a crise de 2008 –, a queda das reservas internacionais em apenas cinco meses no valor de US$ 22 bilhões, a permanência de milhões de desempregados, são claras evidências que as projeções de crescimento da economia feitas em janeiro estavam absolutamente equivocadas. Tudo indica que o aumento do PIB deve ficar abaixo de 1%, menos da metade do que tinha sido estimado pelas consultorias econômicas, que, como de hábito, erraram feio. E, no horizonte de curto prazo, as perspectivas são sombrias. Em 2020 o crescimento do PIB deve ser próximo ao de 2019. Se há preocupações com o mundo exterior, como na turbulenta relação entre China e Estados Unidos, com os acontecimentos de Hong Kong, as permanentes tensões no Oriente Médio – os protestos no Irã podem se alastrar –, o retorno da América do Sul ao antigo caminho de governos instáveis e questionados nas ruas, como na Bolívia, Equador, Peru e Chile, especialmente; são fatores internos que explicam e determinam fundamentalmente a estagnação econômica. No caso dos nossos vizinhos, basta recordar os anos 1960-1970 quando viveram graves crises – marcadas por sucessivos golpes de Estado – isto não significou para o Brasil algum tipo de interferência direta na economia. Pelo contrário, neste período o país chegou a crescer mais de dois dígitos ao ano.
Mesmo neste cenário preocupante, Paulo Guedes continua a apresentar projetos e emendas constitucionais em enorme profusão. Como se o sucesso da gestão desse a ele um cacife político ao estilo Delfim Netto nos anos do milagre. Não é o caso. Sua gestão é muito fraca. Os resultados são pífios. Não pode reclamar do presidente da República. Tudo o que pediu, acabou recebendo. Agora insiste em propostas que vão desmontar o pouco que existe de um Estado de bem-estar social no Brasil. Sabiamente o Congresso Nacional rejeitou parcela da reforma da Previdência que era nociva aos mais pobres. O fim do abono do PIS, da aposentadoria rural, do BPC, por exemplo, atingia diretamente os despossuídos e também os pequenos municípios e o comércio voltado às classes populares. A suposta economia para o erário significava jogar na miséria milhões de brasileiros. E não podemos esquecer do engodo da capitalização que seria a base da “Nova Previdência”. Guedes e seus sequazes insistiram durante meses apresentando as benesses da capitalização e davam como exemplo positivo o Chile. Sim, o Chile. Diziam que a previdência chilena era excelente. Que todos lá estavam satisfeitos com a aposentadoria recebida (em caso de dúvida, basta acessar os registros da Comissão especial da Previdência da Câmara dos Deputados). Era engodo. Desejava a capitalização para retirar do Estado a administração dos recursos e transferi-los para os especuladores do sistema financeiro, de onde ele veio, registre-se. O mesmo Guedes – aquele que optou por ser professor no Chile, sob o tacão do ditador Pinochet, numa universidade sob tutela militar – disse com ares de profeta do caos que se a reforma não atingisse R$ 1,3 trilhão de economia para o Tesouro, o Brasil iria quebrar. A economia será de R$ 800 bilhões, cerca de 70% do previsto. O Brasil quebrou?
Agora Guedes, para esconder o fracasso da sua gestão, apresentou quase ao final do ano legislativo, um conjunto de projetos de leis e propostas de emendas constitucionais. O pacote não tem um fio condutor. Mas tem um claro objetivo: destruir o Estado edificado pela Constituição de 1988. Aos quatro ventos, o ministro propalou que vai refazer o pacto federativo. Deve desconhecer que o que está propondo deveria necessariamente ser objeto de uma nova assembleia constituinte, algo inimaginável nas atuais circunstâncias. Entre os desvarios, o ministro advoga que a jornada de trabalho dos funcionários públicos seja reduzida, isto em um país onde o Estado presta serviços insuficientes para a maioria da população – os pobres, entenda-se. Ou seja, o que já é precário deve, de acordo com Guedes, piorar. Não satisfeito deseja reduzir o pagamento de salários dos funcionários. Isto mesmo, reduzir. No Executivo, os funcionários não recebem reajuste – reajuste e não aumento de salário – há mais de 4 anos. Sendo assim, os funcionários que, em ternos reais, já ganham menos, vão receber um salário ainda menor. Ah, não terão também mais promoções. Ou seja, só falta transformá-los na casta dos impuros.
Paulo Guedes prepara sua saída do governo, preferencialmente no primeiro semestre de 2020. Dirá que o Congresso não deu os instrumentos para enfrentar a crise. Falácia. Faz parte do show. Dele, claro.
Fonte: https://www.topbuzz.com/a/6761672169429664261?app_id=1197&c=fb&gid=6761672169429664261&impr_id=6761744083944655110&language=pt&region=br&user_id=6629035091002032134

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

O tripé da Sociologia: Durkheim, Weber e Marx (ft. Tese Onze)

A vida de Gramsci – trajetória intelectual e política | Marcos Del Roio ...

O gado passa

sabemos que explosões sociais não desaguam necessariamente em transformações. Mudanças qualitativas no ânimo e na disposição das massas também precisam ser pacientemente construídas, para que uma explosão social não seja apropriada pelo inimigo ou rapidamente esmagada.


Os bois de piranha de Bolsonaro e o vôo de galinha da economia
brasildefato20 de novembro de 2019 14:19


Bolsonaro governa dirigindo-se exclusivamente para sua base social, seguindo o roteiro do fascismo clássico em construir seu próprio partido / Marcello Casal Jr./Agência Brasil
O presidente atrai nossas atenções enquanto a "boiada atravessa o rio"
A expressão é bem conhecida e tornou-se um clichê em comentários políticos. Para atravessar o gado em rio com piranhas, a sabedoria popular ensinou os vaqueiros a escolher um animal velho ou doente e colocá-lo na água em local acima ou abaixo do ponto de travessia. Enquanto as piranhas devoram o boi escolhido, os demais passam pelo rio e seguem a caminhada sem dificuldade.
Neste comentário as piranhas entretidas, somos nós, as forças populares.
Pouco a pouco vamos nos dando conta que o diversionismo causado diariamente por Bolsonaro e seus filhos, tal os truques de mágicos, atrai nossas atenções enquanto a "boiada atravessa o rio".
Bolsonaro governa dirigindo-se exclusivamente para sua base social, seguindo o roteiro do fascismo clássico em construir seu próprio partido.
Enquanto ocupa o cenário, brigando com todos, principalmente seus aliados, as medidas econômicas são aprovadas pelo Congresso e o Diário Oficial complementa uma ofensiva profunda, simultânea e acelerada do desmonte das bases nacionais.
Que representação política poderia ser mais valiosa para o bloco no poder?
O programa econômico e social, cuja agenda vem sendo rigorosamente cumprida, numa velocidade inaudita é quem solidifica a unidade entre as várias frações de classe da burguesia que conformam o bloco no poder.
E como anda essa unidade? Dá sinais de fratura ou de vitalidade?
Mesmo com o relativo fiasco no mega-leilão das bacias de petróleo, as privatizações seguem seu curso, prometendo a entrada de mais recursos. A redução do déficit fiscal com os valores obtidos no leilão do petróleo, leva o governo a enviar ao Congresso uma mensagem para modificar o orçamento do ano que vem e ampliar o espaço para despesas, liberando R$ 14 bilhões para gastos.
Já se prevê a possibilidade de um "vôo de galinha" na economia, à custa da venda de nosso patrimônio público, gerando uma situação favorável aos investidores, que, sem dúvida, ajuda a solidificar a unidade das diversas frações burguesas.
Também contribui para manter a unidade burguesa a acelerada continuidade do desmonte dos direitos trabalhistas e previdenciários. Somente na última semana, a medida provisória que cria o "Programa Verde e Amarelo" eleva a um novo patamar o desmonte dos contratos de trabalho assegurados pela CLT, além de taxar o seguro-desemprego, retirando direitos históricos dos bancários, como a jornada de seis horas e reduzindo os juros e a correção das ações trabalhistas.
A manutenção da unidade das frações burguesas exerce um forte pólo de atração para os setores médios, especialmente a pequena burguesia, cada vez mais ameaçada com o fantasma da proletarização. Ainda que amplie sua frustração com o governo são os setores que mais se deixam levar pela aparências da cena política, facilmente atraídos nas disputas ideológicas e principais vítimas das encenações políticas.
Não é fácil desvincular nossas análises da realidade de nossos desejos e simpatias. Da mesma forma é igualmente desafiador compreender o cenário do teatro político sem se deixar absorver pelas meras representações das forças sociais, quase sempre engajadas no esforço de nos enganar sobre seu objetivo papel de classe.
É fundamental compreender as classes e suas respectivas frações, identificando seus interesses e contradições. E, principalmente, a posição que assumem enquanto forças sociais. Porem, o mais complexo, por envolver uma apreciação subjetiva é avaliar a disposição de luta por seus interesses. Uma dinâmica que não é estática e constantemente gera aparências que podem nos induzir a erros.
Sem compreender esse processo, cada novo fato que implica em derrota ou vitória política será interpretado como uma mudança na correlação de forças, ainda que não tenha alterado a qualidade do enfrentamento e a dinâmica das lutas.
A questão crucial que pode alterar a atual correlação de forças é a dinâmica de luta das classes trabalhadoras. Para buscar compreender sua atual paralisia, que é sempre contraditória e aparente, precisamos responder o que a determina.
Se a hipótese principal é que estamos diante de uma paralisia determinada materialmente pela gigantesca ofensiva em curso, que desestrutura as formas de trabalho e as organizações sindicais, concluiremos que esse impacto das transformações na realidade imprime no comportamento dos trabalhadores as mudanças correspondentes para favorecer sua autopreservação, impondo um necessário período para recompor sua capacidade de luta e construir as ferramentas organizativas adequadas.
Prossegue a desindustrialização e a capacidade de produção industrial amplia a ociosidade, perdendo terreno nos investimentos em inovações tecnológicas e reduzindo os ganhos de produtividade.
O salto repentino na precarização, impulsionado pela terceirização irrestrita, pode se converter em regra para a juventude, com o chamado "Programa Verde e Amarelo". Um processo que se combina com índices elevados de desemprego, uberização das relações de trabalho e uma estrutura sindical repentinamente privada de sua sustentação econômica.
É fácil perceber o desespero dos trabalhadores em lidar com uma ofensiva tão avassaladora que desmonta as perspectivas e obriga a concentrar todas energias na sobrevivência.
Evidente que a classe trabalhadora, como um todo, não ficará indene a estes ataques e, todo o ganho de renda das classes dominantes vai semeando uma seara vermelha que terá sua colheita sob a forma de tensões e convulsão social em algum momento.
Porém, sabemos que explosões sociais não desaguam necessariamente em transformações. Mudanças qualitativas no ânimo e na disposição das massas também precisam ser pacientemente construídas, para que uma explosão social não seja apropriada pelo inimigo ou rapidamente esmagada.
Sem compreender o processo em curso, seguiremos atônitos, apostando em iniciativas messiânicas, fadados a novas frustrações enquanto a boiada vai passando.