quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

MEDO D'O QUÊ?!

O vertiginoso destino de um presidente fake
sul2115 de janeiro de 2020 16:57


Jair Bolsonaro (Foto: Marcos Corrêa/PR)
Sergio Araujo (*)
Petra Costa – Democracia em Vertigem
O que a ausência de Jair Bolsonaro em Davos, onde a devastação da mata amazônica será uma das pautas, e o filme Democracia em Vertigem tem em comum? Em ambos os casos o presidente brasileiro classifica-os como ficção. Pior, nega suas existências, no caso a exploração predatória da imensa floresta e o golpe que desencadeou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Nada de surpreendente, aja visto ter feito o mesmo por diversas vezes, sendo o de maior destaque a negação ao golpe militar de 64.
Nessa lógica narcisista de achar feio o que não é espelho, Bolsonaro só vê e acredita naquilo que é do seu interesse. Por isso age como um inquisidor que não se importa em jogar o país numa era de trevas. Por isso idolatra torturadores como Brilhante Ustra e abomina defensores ambientais como a “piralha” Greta Thunberg que, responsável e destemidamente, já garantiu presença em Davos.
Ao tentar ridicularizar junto a sua bolha de fanáticos seguidores o documentário produzido pela cineasta Petra Costa, dizendo que a película “para quem gosta do que urubu come é um bom filme”, Bolsonaro procura minimizar sua grotesca participação na obra cinematográfica. Livrar a sua cara, é só isso que ele se preocupa. Tudo o mais no filme é secundário.
Obcecado pela reeleição e cada vez mais encastelado pelos seus temores e pelos “débitos” assumidos com seus apoiadores, Bolsonaro se comporta como um medroso metido a valentão que morre de inveja dos corajosos, por ver neles virtudes que não encontra em si.
Por isso ele chama o documentário de Petra de carniça. Por não aceitar o papel de vilão num filme onde os protagonistas são Lula e Dilma. Por isso não concorda em dividir o debate sobre questões ambientais com quem domina o assunto melhor do que ele, mesmo que seja uma adolescente sueca. Por isso parte para o ataque pessoal sempre que se considera afrontado por perguntas indigestas, praticadas por representantes da imprensa.
Tal qual o irmão caçula que chama o irmão mais velho para defendê-lo numa briga de rua, Bolsonaro se cerca de generais no primeiro escalão do seu governo, privilegia as bancadas do boi, da bala e dos evangélicos, e se esconde sob o topete de Donald Trump, para se proteger e garantir que não será deposto do cargo.
Esta sim é a verdade disfarçada de ficção. Essa é que é a dissimulação promovida pelo presidente que ele procura transferir para outros agentes. Ele sabe das suas graves limitações e faz um esforço hercúleo para se mostrar maior do que efetivamente é. Até quando e a que custo não se sabe. O certo, porém, é que numa democracia a falsidade e a desfaçatez tem pernas curtas e a queda, inevitável, quando acontece, é sempre vertiginosa.
Para quem não assistiu “Democracia em Vertigem” transcrevo a narrativa final do documentário. Vale a pena ler até o fim.
“Um escritor grego disse que uma democracia só funciona quando os ricos se sentem ameaçados, caso contrário a oligarquia toma o poder. De pai para filho, de filho para neto, de neto para bisneto e assim sucessivamente.
Somos uma República de famílias. Umas controlam a mídia. Outras, os bancos. Elas possuem a areia, o cimento, a pedra e o ferro. E de vez em quando acontece delas se cansarem da democracia e do estado de direito.
Como lidar com a vertigem de ser lançado a um futuro que parece tão sombrio quanto nosso passado mais obscuro?
O que fazer quando a máscara da civilidade cai e o que se revela é uma imagem mais assustadora de nós mesmos?
De onde tirar forças para caminhar entre as ruínas e começar de novo?”
(*) Jornalista
§§§
As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

COMUNISMO É...

Comunista vem de comum, de coletivo, de comunhão, de comunitário
vermelho15 de janeiro de 2020 20:26


Foto: Aldarey Tamandaré
Comunista vem de comum, do latim communis que também quer dizer universal.
Comum vem de pertencente a todos ou a muitos.
Comum tem por sinônimos: coletivo, conciliatório, conjunto.
Comum é a origem de comungar, comunhão, comunicação, comunitário.
Comunismo pode ser participação, copropriedade (aí mora o medo!), cooperativismo, colaboração, solidariedade, condomínio (quem diria), segundo o precioso “Dicionário Analógico da Língua Portuguesa”, de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo.
Os primeiros comunistas da história são da pré-história: os caçadores-coletores, aqueles valentes que viviam do que caçavam e colhiam. São os tataravós da humanidade, que tanto têm pra nos ensinar.
Os homo sapiens foram caçadores-coletores durante 90% da sua existência. Somos geneticamente comunistas, portanto.
Os povos indígenas isolados são comunistas e mesmo os que mantêm cuidadoso e restrito contato com os não-índios (nós), mesmo eles vivem em estado de comunismo.
No tempo histórico, só a meros 20 mil anos deixamos de ser comunistas – por isso, muito cuidado da próxima vez que olhar no espelho, vai que encontra o comuna que se esconde dentro de você? Ele está louco pra se libertar, não aguenta mais a pressão de ter que ser o que não é, de querer ter o que não precisa e de sacrificar a vida para deixar os ricos mais ricos. E de, podre de rico, ter milhões de infelicidades.
Comunista não tem propriedade. O que é dele é de todos. E cada um ganha de acordo com a sua necessidade.
O mérito, no comunismo, é um valor coletivo. Não tem essa de “eu mereço”. Todos merecem.
No comunismo, o trabalho é a afirmação do prazer.
Tudo ia maravilhosamente bem, apesar dos trancos da vida (e da Terra bravia), até que um dia um infeliz decidiu que era preciso parar, dominar a natureza e acumular – com a desculpa de que era razoável guardar provisões para os dias de seca, de chuva, de neve. (Parece que a preguiça inventou o capitalismo, olha a contradição).
Muito tempo depois, um francês chamado Jean-Jacques Rousseau disse que o grande erro dos nossos tataravós pré-históricos foi não impedir o primeiro homem de cercar um terreno e dizer “é meu”. Alguém tinha de ter levantado e gritado: “Defendei-vos de ouvir esse impostor, estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém” (Rosseau).
Mais adiante, outro esperto acreditou que a tecnologia iria nos salvar do trabalho. A roda, a máquina, o computador ralariam por nós, a produção de bens aumentaria e todos iríamos ter mais tempo para o melhor da vida.
Quando viu o que a tecnologia tinha feito com os humanos, que tinha nos transformado em escravos das máquinas, um barbudo chamado Karl Marx imaginou que era possível mudar o jogo, criar uma sociedade igualitária, sem classes sociais, sem Estado, sem propriedade privada.
Voltaríamos a ser caçadores-coletores, só que com roupas, carros, computadores, passagem aérea e hospedagem em igualdade de condições para todos. E uns pajés pra nos conectar com o mistério e a natureza para nos alumbrar. Não deu certo.
E pensar que nós, os homo sapiens, fomos tão felizes e por uns 180 mil anos!
Conceição Freitas é repórter, cronista e dona de uma banquinha de afetos brasilienses.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

De direita, nem papa se salva

"Bento XVI demonstra que os conservadores não se convertem nem têm jeito. Nem como papa se salvam!" Acesse e compartilhe somente  o link do Cartas Proféticas:  http://cartasprofeticas.org/bento-xvi-demonstra-que-os-conservadores-nao-se-convertem-nem-tem-jeito-nem-como-papa-se-salvam/

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segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Nunca precisamos tanto de revolucionários profissionais.

Sobre a militância
esquerdaonline13 de janeiro de 2020 18:54


Precisamos discutir com maturidade sobre a renovação dos líderes na esquerda. Há duas dimensões diferentes nesta questão. Há uma reorganização das organizações, e há uma substituição de quadros. A reorganização pela esquerda tem sido um processo lento e de vanguarda, pleno de oscilações, que remete à experiência do ativismo mais radicalizado, desde 2013, com a direção do PT.
Dependerá, essencialmente, da dinâmica de uma nova onda de grandes lutas de massas, quando ela chegar. Terá que ser a “quente”. A mudança de referência de massas não se completa a “frio” em uma situação reacionária, portanto, defensiva. Uma nova direção, para poder se afirmar, tem que passar pela prova de grandes combates e vitórias.
A outra dimensão é a renovação de quadros nas organizações existentes. Encontramos com razão muita insatisfação, até frustração acumulada com o excesso de homens de classe média, brancos, envelhecidos e héteros, não poucos paulistas, à frente da maioria das organizações. Há, também, cansaço e desconfiança com lideranças que se perpetuam ao longo de décadas nas posições dirigentes, seja à frente de mandatos, sindicais ou parlamentares, ou de cargos.
Novas lideranças de operários e jovens intelectuais, mulheres e negros, indígenas e LGBT’s, assim como ativistas do nordeste e norte, estão ocupando seu lugar, desde 2013, em uma revolução geracional que só pode ser comparada, talvez, com aquela que ocorreu quarenta anos atrás, nos idos de 1979/1983, quando da onda de fundação do PT e da CUT. Nenhuma revolução é indolor.
O critério de representação é necessário e legítimo, porque é uma inspiração para os explorados e oprimidos. Mas não devemos ser ingênuos. A burocratização dos sindicatos revela que uma origem social proletária não é o bastante. Precisamos de mais e, sobretudo, melhores dirigentes. São dois problemas diferentes, mas indivisíveis, porque é indispensável uma massa crítica importante, quantitativa e qualitativa, para que nela amadureçam grandes talentos.
A classe trabalhadora nunca precisou tanto de revolucionários profissionais. Uma velha brincadeira entre nós era que tinha muito cacique para pouco índio. Mas nunca foi assim. Na verdade, com oscilações, sempre tivemos um déficit na formação de lideranças. A esquerda brasileira organiza, relativamente, uma militância muito menor que sua influência na sociedade permitiria. Isso decorre da debilidade estrutural na formação de quadros. Mais recentemente prevalece a ideia de uma militância como uma doação voluntária ocasional.
Os chefes políticos que representam os interesses do capitalismo são quadros muito especializados. A burguesia brasileira leva a sério a formação de suas lideranças. Deixou de investir somente no improviso e amadorismo das velhas dinastias hereditárias. Surgiram muitas incubadoras financiadas pelos maiores milionários. São quadros formados nas melhores universidades e treinados, desde jovens, para o exercício da carreira política, seguindo modelos de seleção norte-americanos e europeus.
Ser um profissional da revolução não é o mesmo que ser um funcionário político de um aparelho. Claro que a idealização de dirigentes de ferro, os homens de aço, uma caricatura, vulgarização e deformação do bolchevismo com forte inspiração militar, fez estragos terríveis. Longas profissionalizações, que foram necessárias quando a existência de organizações revolucionárias era ilegal, eternizam acomodação e maus hábitos. Há funcionários que não são profissionais da revolução, e profissionais da revolução que trabalham para viver.
Revolucionários profissionais são aqueles que abraçam a defesa da necessidade de uma revolução, mas muito mais do que isso. Significa que a dedicação de suas melhores forças, a concentração de suas energias, o sentido de sua vida está orientado para a luta revolucionária. Isso significa a disposição de assumir responsabilidades. Esse deve ser o primeiro critério na seleção de quadros.
Mas, como julgar a qualidade dos dirigentes? Existe uma régua? Quais são os critérios? Esta discussão é um tema clássico inescapável. Ressurgiu nos últimos meses, mais uma vez, nas comparações entre Trotsky e Stalin.
Devemos considerar quais são os critérios. Existe a tenacidade, inteligência, coragem, enfim, a capacidade é uma variável. Há que considerar, também, a personalidade. Forte ou fraca, agregadora ou conflitiva, doce ou áspera, narcisista ou modesta, estável ou perturbada. Não se pode deixar de avaliar a experiência, e o repertório. A trajetória são as provas dadas, e o nível teórico político, a formação. Não se deve ignorar o desempenho, o balanço ou os resultados alcançados.
Mas é perigoso quando se negligencia o caráter. O caráter remete à índole da pessoa, ao seu modo de ser, à qualidade moral, à integridade, ao domínio de si mesmo, enfim, ao temperamento. A idealização de um mundo em que só há gente boa não é razoável, muito menos uma premissa socialista.
Qualquer organização humana tem o direito e o dever de se proteger, de decidir quem pode ser membro dela. Querer ser membro de uma corrente socialista significa aceitar que qualquer um pode ser criticado, ser julgado e, eventualmente, punido, até com a exclusão. Significa, também, evidentemente, o direito irredutível de poder se defender, porque não é incomum que as diferenças de opinião, os choques de personalidades, transbordem em rivalidades pessoais nocivas para o coletivo. Há uma dialética nestes processos de seleção de quadros. A ausência de autocontrole é o caminho da autodestruição de qualquer organização.
Qualquer um destes critérios é unilateral e destrutivo, se for absolutizado. Quadros com grande aptidão e disposição ficam, muitas vezes, pelo caminho, pelas mais variadas razões, enquanto outros, menos capazes, se impõem, um processo de seleção que pode ser cruel e regressivo, um “antidarwinismo”. Sempre teremos que considerar o peso objetivo das derrotas, que pode ser devastador, e o custo subjetivo dos desgastes pessoais, que pode ser desolador.
Não podemos esquecer que as organizações de esquerda são coletivos em que devem ser construídas equipes de direção. As figuras públicas ocupam um lugar destacado, mas são somente os porta-vozes das correntes, movimentos e partidos. Ser um porta-voz oferece visibilidade e peso político desproporcional. Em uma equipe, há lugar para quadros com as mais diferentes habilidades: parlamentares, sindicalistas, intelectuais, agitadores, propagandistas, teóricos, organizadores.
As posições da organização devem resultar do debate e de votações. Em um regime interno saudável não há lugar para caudilhos. Ninguém é infalível. Ninguém é especialista de tudo. Não pode haver um chefe, porque o sujeito político é uma organização coletiva, sustentada por uma militância voluntária.
Mas, ainda que a direção seja um coletivo surge o problema da liderança da liderança, ou do centro da direção. Ou seja, dos dirigentes que têm a tarefa de preservar a união dos quadros. A solução pode passar por um pequeno coletivo, na forma de triunvirato ou dupla. A pior solução é que esse papel seja assumido por um só, que toma a responsabilidade da condução da equipe de direção. Podemos aprender com as tragédias do século XX.
Em uma de suas últimas participações em reuniões do comitê central bolchevique, já rompido, politicamente, com Stalin, Bukharin tomou a palavra e, em tom de brincadeira, “teorizou” que a história podia se classificada em três grandes eras: o matriarcado, o patriarcado e o secretariado. Pagou com a vida a insolência provocativa.
Nunca precisamos tanto de revolucionários profissionais. Mas podemos ser leninistas do Brasil, portanto, um pouquinho de irreverência deve ser bem vinda. Podemos rir de nós mesmos, sem nos diminuirmos.

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