segunda-feira, 25 de maio de 2020

ESTOU CONDENADO A MORTE POR BOLSONARO!!!!!!






Aos ex-amigos, cúmplices da barbárie

Juca Kfouri
24/05/2020 23h02
POR JOSÉ EDUARDO GONÇALVES*


"Não sei quando tudo isso começou. Quando foi que pessoas que eu gostava, convivia, conversava afetuosamente e, em alguns casos, até admirava pelo exercício talentoso de seus ofícios, se transformaram em seres irracionais, irresponsáveis e levianos, defensores de ideias autoritárias, mesquinhas, rasas , preconceituosas, medievais e, em muitos casos, até fascistas. Quando foi, afinal, que pessoas que tinham uma conduta social equilibrada e pareciam olhar o mundo pela mesma janela que você – cada um à sua maneira, claro – viraram esta coisa esquisita que já não reconheço como próxima de alguma civilidade? Em Kafka, um sujeito acorda pela manhã transformado em um inseto asqueroso. A família reunida, cada um em seu papel, mas o filho surge como uma anomalia, de um dia para o outro, sem qualquer explicação. Kafka foi muito mais fundo nessa história do que esse filme de quinta categoria ao qual estou me referindo, mas confesso que não vi como a coisa se deu, apenas acordei um dia e vi como o meu mundo anda cheio de insetos repugnantes. De radicais defensores de ideias tão obtusas quanto irresponsáveis. Também não foi assim tão de repente, a coisa vem acontecendo há um bom tempo, é verdade, mas hoje sinto como se esses bichos escrotos tivessem se consolidado à minha frente. Eu os enxergo em toda a sua pequenez.
O estopim desta clarividência – em relação à abjeta transformação de certos seres humanos – foi o vídeo da fatídica reunião ministerial do dia 22 de abril, em que o presidente reuniu sua claque para tratar do enfrentamento da crise da pandemia, assunto sobre o qual não se falou durante mais de duas horas de sandices, agressões e exibição de ideias golpistas. O vídeo é assustador, mas não é dele que quero falar, não em primeiro lugar. É da reação de pessoas que, voltando ao primeiro parágrafo, revelaram-se pior do que o farsesco personagem central da trama. Faço um voo no tempo. Em 1993, como bem lembrou aqui um querido amigo, eu escrevi uma crônica na IstoÉ Minas que começava assim: "Não posso reclamar dos meus amigos: são os mais estranhos que eu poderia arrumar". No texto, falo de alguns, invento outros (que são, na verdade, bem reais), presto meu tributo à esquisitice de tantos. O fato é que gosto de gente estranha, diferente, só para ficar claro que não me compraz apenas a companhia de gente normal. Eu diria, até, que os normais me interessam pouco. Só que uma coisa é ser estranho – e outra é ser estranhamente nocivo.
Muito bem, de ontem pra hoje me peguei lendo opiniões de muita gente sobre o tal vídeo onde se pregou a desobediência sanitária na base da porrada, a prisão de representantes eleitos pelo povo, a desqualificação de adversários, a intromissão na Polícia Federal para proteger os entes queridos, o desmantelamento das leis ambientais na calada da noite etc etc etc. Um monte de gente reagiu dizendo que o vídeo é o passaporte para a reeleição do Ogro. No meio desta gente que aplaude e acha adequado esse conjunto de sandices há pessoas que conheço. Tem artista, designer, arquiteto, advogado, fotógrafo, médico, engenheiro, empresário, gente da moda etc etc. Pessoas com quem já convivi, conversei, compartilhei opiniões. Pessoas que, em alguns casos, cheguei a admirar. Que chamei de amigos. Como é que essas pessoas se tornam, de repente, cúmplices de uma barbárie colossal?
Convivo com conservadores e até com pessoas de uma direita civilizada, educada, capaz de divergir sem agredir. Os ex-amigos não se colocam no campo da direita civilizada. Porque Bolsonaro não é isso. Não é um conservador, nem um bocó simplesão, um sujeito sem modos e sincerão, que gosta das coisas direitinhas. Um sujeito que quer o bem do país. Ele está longe desse figurino. Ele não é nem da direita. Bolsonaro é o radical fundamentalista da extrema direita em sua pior versão (não esqueçamos: ele já defendeu publicamente o fechamento do Congresso e o fuzilamento de adversários políticos, em entrevista a uma emissora de televisão, em 1999 – "para dar jeito no Brasil, só matando uns 30 mil", o que incluiria, no caso, até mesmo o então presidente Fernando Henrique Cardoso). Ele tem como herói o único torturador reconhecido e condenado como tal no Brasil.
Mas isso é história já sabida.
Voltemos ao vídeo estarrecedor, tal o seu caráter pedagógico ao revelar, com clareza euclidiana, o que pensam os bolsonaristas e o que eles estão tramando, em todas as frentes – na saúde, na educação, na segurança pública, na questão ambiental, na diplomacia internacional, na convivência com a democracia. Está tudo lá, sem retoques. E há quem diga: "antes do vídeo eu era 100% Bolsonaro, agora sou 500% Bolsonaro". E daí?
Daí que não suporto gente assim. Fui capaz de entender aqueles que se desapontaram com os rumos da economia e com as revelações sobre corrupção no centro do poder, prática secular no país. Mas era preciso optar pelo esgoto, pela escuridão, a ignorância e a truculência? Eu divirjo respeitosamente de conservadores. De fascistas, torturadores e retrógrados eu quero distância. Não fui eu que tachei Bolsonaro de o pior líder mundial da atualidade. Nem foi a mídia esquerdista ou comunista que afirmou que ele é hoje a maior ameaça ao mundo. Quem está chocado com o Ogro são eles, os jornalões da direita global. É o The Economist, a Bíblia dos liberais da economia. É a maior referência do jornalismo econômico no mundo – o Financial Times. É o The Guardian. O New York Times. É a grande mídia conservadora do mundo que está assustada com o baixíssimo nível de quem ocupa a presidência no Brasil.
A reunião ministerial de 22 de abril de 2020 está fadada a entrar para a história da República brasileira. Um registro cru dos intestinos da gente que nos governa. Um acinte de tal ordem que não cabe mais qualquer dúvida: quem é Bolsonaro que assuma, de uma vez por todas, o ônus de carregar o pacote de ideias que ele encarna. Sem mimimi. Não tem mais disfarce ou joguinho de cena. Depois de ver aquelas imagens podres não há saída: ou se está de um lado ou de outro. Ou se defende aquelas ideias ou se é contra. Simples. Mas necessário.
Necessário porque o mundo é uma construção coletiva, queiram ou não. E o mundo no qual eu acredito e pelo qual luto é imperfeito e cheio de defeitos, mas é um mundo de razoável civilidade. De valores consagrados universalmente. E até de razoável otimismo. Só os muito cretinos ou intelectualmente falsos são capazes de negar que, aos trancos e barrancos, a sociedade brasileira vinha construindo um percurso de avanços desde a redemocratização. Estão aí conquistas como a criação do SUS, a estabilização da moeda, a universalização do ensino, o avanço dos direitos humanos, os programas de redução da desigualdade social (como o Bolsa Família), entre tantas outras. Hoje vivemos a ameaça da degringolada geral. A ordem é destruir o que está aí. É interromper o fluxo que nos impelia a ser melhores do que tínhamos sido até então.
Não quero este mundo medíocre que tentam nos empurrar goela abaixo, definitivamente. Confesso a minha impossibilidade de conviver sadiamente com quem quer me matar e aos meus semelhantes. Aos que continuam apoiando o genocida de plantão, um convite à coragem. Isso mesmo, assumam que Bolsonaro os representa em seus valores e ideias. Aos que aplaudiram as infâmias ditas no vídeo, sugiro que façam camisetas com os seguintes dizeres:
EU SOU BOLSONARO E EU APOIO:
– A tortura e os torturadores
– O povo armado contra as medidas de controle da epidemia
– A prisão de governadores e ministros do Supremo
– O uso da Polícia Federal para proteger minha família e meus amigos
– A quebra das leis de proteção ambiental
– Qualquer ataque à cultura, às artes e aos artistas
– O sucateamento da universidade pública e da ciência
– O extermínio dos povos indígenas
– A milícia e os heróis milicianos
– A censura à produção intelectual
– As hostilidades contra a Imprensa e os jornalistas
Façam isso, ex-amigos e conhecidos. Saiam às ruas (sem máscaras, obviamente) com esses dizeres estampados em suas camisetas e faixas ornadas de patriotismo. Pois é isso, de fato, o que vocês estão defendendo. Quem apoia Bolsonaro é cúmplice desse pacote de horror. Nessa altura da nossa história, não existe meio termo. Ou você é ou não é a favor dessas ideias.
No momento em que escrevo o Brasil é o segundo país do mundo em casos confirmados de contaminação pelo coronavírus. São quase 350 mil infectados e mais de 22 mil mortes (amanhã serão muito mais). Enquanto isso, o presidente que os traidores da democracia elegeram cospe seus perdigotos defendendo que se arme a população para lutar contra as medidas de contenção da epidemia. Se isso não é a barbárie, então o que seria?".
*José Eduardo Gonçalves é jornalista.
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SOBRE O AUTOR

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://blogdojuca.uol.com.br/lista-colunas-na-folha/

Blog do Juca Kfouri



sábado, 16 de maio de 2020

MÉTODO CIENTÍFICO. - ppt carregar

MÉTODO CIENTÍFICO. - ppt carregar: O QUE É MÉTODO CIENTÍFICO? Ferramenta para a aquisição e construção do conhecimento (uma forma de como se fazer algo). Conjunto de etapas ordenadamente dispostas a serem executadas que tenham por finalidade a investigação de fenômenos naturais para a obtenção de conhecimentos. OBJETIVIDADE SISTEMATICIDADE Os resultados devem ser passíveis de reprodução e confirmação (conjunto de atividades que permitem alcançar um objetivo)

terça-feira, 12 de maio de 2020

O POVO A SI CONDENA

O POVO SALVA A SI, O POVO A SI CONDENA.
BOLSONARO SABE O POVO-GADO QUE TEM!!



A versão mais obscura e, infelizmente, mais realista do brasileiro, principalmente do médio, é dada ao conhecimento público agora, nos últimos cinco anos. É um retrato de si em si, do seu modo de pensar o mundo, a sociedade e a política que caracteriza o típico “cidadão” no Brasil.

Em seu “mundo real”, da sua versão mais obscura e realista agora visível, exposta a vivo e a cores, nu e cru graças a bolsonaro, este brasileiro é preconceituoso, violento, analfabeto [em todo o seu processo de formação na aprendizagem, na educação, nas letras, na política, na economia, na ciência... em praticamente tudo], é racista, machista, homofóbico, autoritário, interesseiro, moralista, cínico, canalha, fofoqueiro, corrupto, desonesto, assassino, genocida, nazifascista, suicida...

Quando um povo é filosoficamente justo, ético, moral, probo, de PAZ... Não permite que lhe aconteça o que estar lhe acontecendo como agora. Ou que lhe façam o que estão lhe fazendo e ao vitimado país Brasil como agora!!

Um povo só se levanta contra as injustiças se ele não for intimamente adepto das injustiças, não for realmente injusto, não for a própria injustiça, mas for um povo esclarecido e filosoficamente JUSTO;

Um povo só se levanta contra o antietismo se ele não for intimamente adepto do antiétismo, não for realmente antiético, não for a própria antiética, mas for um povo esclarecido e filosoficamente ÉTICO;

Um povo só se levanta contra o imoral se ele não for intimamente adepto da imoralidade, não for realmente imoral, não for a própria imoralidade, mas for um povo esclarecido e filosoficamente MORAL;

Um povo só se levanta contra a improbidade se ele não for intimamente adepto da improbidade, não for realmente ímprobo, não for a própria improbidade, mas for um povo esclarecido e filosoficamente PROBO;

Um povo só se levanta contra a violência se ele não for intimamente adepto da violência, não for realmente violento, não for a própria violência, mas for um povo esclarecido e filosoficamente de PAZ;

Um povo só se levanta contra a corrupção se ele não for intimamente adepto da corrupção, não for realmente corrupto, não for a própria corrupção, mas for um povo esclarecido e filosoficamente INCORRUPTO;

Um povo só se levanta contra a desonestidade se ele não for intimamente adepto da desonestidade, não for realmente desonesto, não for a própria desonestidade, mas for um povo esclarecido e filosoficamente HONESTO;

...se ele não for intimamente adepto do esclarecido e filosoficamente... analfabetismo, preconceituoso, racista, machista, homofóbico, autoritário, interesseiro, moralista, cínico, canalha, cafajeste, fofoqueiro...

Honestidade, sinceridade, e verdade são as três palavras mais importantes para ao menos fazer parte da vida desse brasileiro...

O POVO SALVA A SI, O POVO A SI CONDENA.
BOLSONARO SABE O POVO-GADO QUE TEM!!
..........
Negreiros Deuzimar Menezes, 65, Professor (de Professar...), num canto, de um lugar qualquer, em 01 de maio de 2020.

domingo, 10 de maio de 2020

O Jair que há em nós


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Sociedade e Cultura

O Jair que há em nós

Por Ivann Lago

04/05/2020 14:12

Créditos da foto: (Adriano Machado/Reuters)

O Brasil levará décadas para compreender o que aconteceu naquele nebuloso ano de 2018, quando seus eleitores escolheram, para presidir o país, Jair Bolsonaro. Capitão do Exército expulso da corporação por organização de ato terrorista; deputado de sete mandatos conhecido não pelos dois projetos de lei que conseguiu aprovar em 28 anos, mas pelas maquinações do submundo que incluem denúncias de “rachadinha”, contratação de parentes e envolvimento com milícias; ganhador do troféu de campeão nacional da escatologia, da falta de educação e das ofensas de todos os matizes de preconceito que se pode listar.

Embora seu discurso seja de negação da “velha política”, Bolsonaro, na verdade, representa não sua negação, mas o que há de pior nela. Ele é a materialização do lado mais nefasto, mais autoritário e mais inescrupuloso do sistema político brasileiro. Mas – e esse é o ponto que quero discutir hoje – ele está longe de ser algo surgido do nada ou brotado do chão pisoteado pela negação da política, alimentada nos anos que antecederam as eleições.

Pelo contrário, como pesquisador das relações entre cultura e comportamento político, estou cada vez mais convencido de que Bolsonaro é uma expressão bastante fiel do brasileiro médio, um retrato do modo de pensar o mundo, a sociedade e a política que caracteriza o típico cidadão do nosso país.

Quando me refiro ao “brasileiro médio”, obviamente não estou tratando da imagem romantizada pela mídia e pelo imaginário popular, do brasileiro receptivo, criativo, solidário, divertido e “malandro”. Refiro-me à sua versão mais obscura e, infelizmente, mais realista segundo o que minhas pesquisas e minha experiência têm demonstrado.

No “mundo real” o brasileiro é preconceituoso, violento, analfabeto (nas letras, na política, na ciência... em quase tudo). É racista, machista, autoritário, interesseiro, moralista, cínico, fofoqueiro, desonesto.

Os avanços civilizatórios que o mundo viveu, especialmente a partir da segunda metade do século XX, inevitavelmente chegaram ao país. Se materializaram em legislações, em políticas públicas (de inclusão, de combate ao racismo e ao machismo, de criminalização do preconceito), em diretrizes educacionais para escolas e universidades. Mas, quando se trata de valores arraigados, é preciso muito mais para mudar padrões culturais de comportamento.

O machismo foi tornado crime, o que lhe reduz as manifestações públicas e abertas. Mas ele sobrevive no imaginário da população, no cotidiano da vida privada, nas relações afetivas e nos ambientes de trabalho, nas redes sociais, nos grupos de
 whatsapp, nas piadas diárias, nos comentários entre os amigos “de confiança”, nos pequenos grupos onde há certa garantia de que ninguém irá denunciá-lo.

O mesmo ocorre com o racismo, com o preconceito em relação aos pobres, aos nordestinos, aos homossexuais. Proibido de se manifestar, ele sobrevive internalizado, reprimido não por convicção decorrente de mudança cultural, mas por medo do flagrante que pode levar a punição. É por isso que o politicamente correto, por aqui, nunca foi expressão de conscientização, mas algo mal visto por “tolher a naturalidade do cotidiano”.

Se houve avanços – e eles são, sim, reais – nas relações de gênero, na inclusão de negros e homossexuais, foi menos por superação cultural do preconceito do que pela pressão exercida pelos instrumentos jurídicos e policiais.

Mas, como sempre ocorre quando um sentimento humano é reprimido, ele é armazenado de algum modo. Ele se acumula, infla e, um dia, encontrará um modo de extravasar. Como aquele desejo do menino piromaníaco que era obcecado pelo fogo e pela ideia de queimar tudo a sua volta, reprimido pelo controle dos pais e da sociedade. Reprimido por anos, um dia ele se manifesta num projeto profissional que faz do homem adulto um bombeiro, permitindo-lhe estar perto do fogo de uma forma socialmente aceitável.

Foi algo parecido que aconteceu com o “brasileiro médio”, com todos os seus preconceitos reprimidos e, a duras penas, escondidos, que viu em um candidato a Presidência da República essa possibilidade de extravasamento. Eis que ele tinha a possibilidade de escolher, como seu representante e líder máximo do país, alguém que podia ser e dizer tudo o que ele também pensa, mas que não pode expressar por ser um “cidadão comum”.

Agora esse “cidadão comum” tem voz. Ele de fato se sente representado pelo Presidente que ofende as mulheres, os homossexuais, os índios, os nordestinos. Ele tem a sensação de estar pessoalmente no poder quando vê o líder máximo da nação usar palavreado vulgar, frases mal formuladas, palavrões e ofensas para atacar quem pensa diferente. Ele se sente importante quando seu “mito” enaltece a ignorância, a falta de conhecimento, o senso comum e a violência verbal para difamar os cientistas, os professores, os artistas, os intelectuais, pois eles representam uma forma de ver o mundo que sua própria ignorância não permite compreender.

Esse cidadão se vê empoderado quando as lideranças políticas que ele elegeu negam os problemas ambientais, pois eles são anunciados por cientistas que ele próprio vê como inúteis e contrários às suas crenças religiosas. Sente um prazer profundo quando seu governante maior faz acusações moralistas contra desafetos, e quando prega a morte de “bandidos” e a destruição de todos os opositores.

Ao assistir o show de horrores diário produzido pelo “mito”, esse cidadão não é tocado pela aversão, pela vergonha alheia ou pela rejeição do que vê. Ao contrário, ele sente aflorar em si mesmo o Jair que vive dentro de cada um, que fala exatamente aquilo que ele próprio gostaria de dizer, que extravasa sua versão reprimida e escondida no submundo do seu eu mais profundo e mais verdadeiro.

O “brasileiro médio” não entende patavinas do sistema democrático e de como ele funciona, da independência e autonomia entre os poderes, da necessidade de isonomia do judiciário, da importância dos partidos políticos e do debate de ideias e projetos que é responsabilidade do Congresso Nacional. É essa ignorância política que lhe faz ter orgasmos quando o Presidente incentiva ataques ao Parlamento e ao STF, instâncias vistas pelo “cidadão comum” como lentas, burocráticas, corrompidas e desnecessárias. Destruí-las, portanto, em sua visão, não é ameaçar todo o sistema democrático, mas condição necessária para fazê-lo funcionar.

Esse brasileiro não vai pra rua para defender um governante lunático e medíocre; ele vai gritar para que sua própria mediocridade seja reconhecida e valorizada, e para sentir-se acolhido por outros lunáticos e medíocres que formam um exército de fantoches cuja força dá sustentação ao governo que o representa.

O “brasileiro médio” gosta de hierarquia, ama a autoridade e a família patriarcal, condena a homossexualidade, vê mulheres, negros e índios como inferiores e menos capazes, tem nojo de pobre, embora seja incapaz de perceber que é tão pobre quanto os que condena. Vê a pobreza e o desemprego dos outros como falta de fibra moral, mas percebe a própria miséria e falta de dinheiro como culpa dos outros e falta de oportunidade. Exige do governo benefícios de toda ordem que a lei lhe assegura, mas acha absurdo quando outros, principalmente mais pobres, têm o mesmo benefício.

Poucas vezes na nossa história o povo brasileiro esteve tão bem representado por seus governantes. Por isso não basta perguntar como é possível que um Presidente da República consiga ser tão indigno do cargo e ainda assim manter o apoio incondicional de um terço da população. A questão a ser respondida é como milhões de brasileiros mantêm vivos padrões tão altos de mediocridade, intolerância, preconceito e falta de senso crítico ao ponto de sentirem-se representados por tal governo.

*Publicado originalmente
 no blog do autor


Faço minhas tuas reais constatações.

Outras Palavras - Deixemos morrer quem nos destrói

O melhor da semana - Deixemos morrer quem nos destrói | O dinheiro do mundo, a nova classe e como vencê-la | O próximo desatino de Jair Bolsonaro | A Embraer voa rumo ao nada

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Outras Palavras

<contato@outraspalavras.net>
10 de maio de 2020 10:05
Para: institutouniversidadepanameria@gmail.com
Seleção semanal nº 49 - 10/5/2020leia no navegador
Deixemos morrer quem nos destrói
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Por George Monbiot
O dinheiro do mundo, a nova classe e como vencê-la
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