quarta-feira, 9 de outubro de 2019

BOLSONARO E A RÃ

Mito Chinês
Bolsonaro e a rã
A rã presa no poço não entende o mar.
Bolsonaro, e grande maioria dos brasileiros, não entendem o mar.

Há um provérbio chinês que costuma ser usado para satirizar a falta de visão e de perspicácia no individuo.

Segundo um mito chinês, uma rã, que morava num poço abandonado próximo ao mar, só podia movimentar-se no limitadíssimo espaço que era o fundo do poço e, conseqüentemente, o que via não passava de um pequeno pedaço do céu. Nada conhecia lá fora, e nada sabia sobre a existência de um imenso mundo.

Bolsonaro viveu 30 anos abandonado no fundão da câmara legislativa, coincidentemente como a rã no fundo do poço.

Certa vez, uma tartaruga do mar apareceu à beira do poço, e a rã, lá do fundo, apressou-se a vangloriar-se:
– Vê, amiga tartaruga, que linda e confortável residência é a minha! Aqui, eu salto livremente e descanso num buraco na parede do poço quando me apetece. Se quero nadar, a água cobre-me as pernas e chega-me ao queixo. Passeios? Passear aqui nesta terra pantanosa é uma verdadeira delícia! Garanto que tu, minha amiga tartaruga, nunca tiveste uma vida tão feliz como esta! Vem, vem ver o meu paraíso!
Levada pela curiosidade, a tartaruga do mar deu um passo em frente e, mal viu o “paraíso” da rã, recuou, dizendo:
– Sabes uma coisa, minha amiga rã? O mar é tão imenso que tem milhares e milhares de quilômetros de extensão, e milhares e milhares de braças de profundidade… Dez anos de inundações consecutivas não conseguiriam aumentar nem um centímetro o nível das suas águas, e dez anos consecutivos de seca não lograriam baixá-lo. Ali sim, é vida!

Desta lenda provém o provérbio: A rã no fundo do poço, para fazer referência às pessoas de visão curta e com falta de perspicácia, e do qual derivam algumas expressões de uso corrente, como “opinião de rã no fundo do poço”, “ponto de vista de rã do poço”, “contemplar o céu do fundo do poço”.

É esta a postura de Bolsonaro e de grande maioria do povo brasileiro numa comparação com a rã neste artigo. Ele é a rã do poço juntamente com a maioria dos brasileiros que vivem num poço, próximo ao oceano, que ali nasceram e dali nunca saíram, pois não conseguem saltar tão alto. Mesmo porque desconhecem o mundo ao redor do poço, pois, como nunca o viram. Para essas pessoas, assim como para a rã, não hã nada além das paredes de pedra de seu poço. Desta forma, ignoram o imenso oceano ao seu redor e que dele somente ouvem o seu som, ignorando por completo o que realmente é. Não só ignoram o oceano, ou seja, a condição do mundo onde vivem, mas também ignoram sua própria condição de “rã presa no poço”.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Bolsonaro, o soldado recrutado de D. Trump

A multinacional que a Lava-Jato destruiu
Blog Altamiro Borges7 de outubro de 2019 10:44


O juiz ladrão, que a jugar por algumas pesquisas ainda continua enganando boa parte do nosso povo, foi recompensado pelo líder da extrema direita com o Ministério da Justiça e a vaga promessa de uma futura indicação para o Supremo Tribunal Federal.
Para quem tem olhos críticos a submissão a Bolsonaro, que mais de uma vez expôs Moro à humilhação pública para mostrar a ele e a quem mais de direito quem é que manda, ilumina o caráter do político curitibano, que outrora desfilou fantasiado de magistrado.
As conversas comprometedoras divulgadas pelo The Intercept revelam a farsa montada com o propósito político de derrubar o governo do PT, prender o maior líder popular da história brasileira, impedindo-o de participar do pleito presidencial de 2018 e impor ao país uma política abertamente antinacional, antidemocrática e antipopular.
Ligações perigosas
Resta esclarecer muitos aspectos da controvertida operação, especialmente sobre as ligações perigosas entre os heróis da Lava Jato e os EUA. Tais relações ainda permanecem na obscuridade. Lembremos que Moro, quando foi a Washington junto com Jair Bolsonaro, fez questão de visitar a sede da CIA.
A sinistra agência de espionagem do imperialismo, hoje aparentemente ofuscada pela NSA (Agência Nacional Segurança dos EUA, que espionou Dilma, a Petrobras e a Odebrecht), esteve envolvida em golpes de Estado no Irã (1953), no Brasil (1964) e Chile (1973), entre muitos outros.
As digitais do imperialismo também ficaram impressas no golpe de 2016. É notório que os EUA são os principais beneficiários da deposição de Dilma Rousseff e da prisão de Lula. A agenda de restauração do neoliberalismo, inaugurada por Temer e radicalizada por Bolsonaro, contemplou uma mudança radical da política externa do Brasil, novamente submissa aos desígnios de Washington.
A política entreguista em relação ao pré-sal e às estatais, alvos de sucateamento e privatização, também servem ao mesmo propósito reacionário. O amor do Clã Bolsonaro ao chefe da Casa Branca não faz bem ao Brasil, é uma afronta à soberania nacional.
A serviço do imperialismo
A destruição da maior construtora brasileira foi outro grande favor da República de Curitiba ao império. Moro e a força tarefa da Lava Jato, sempre em conluio com a Rede Globo e outros veículos da mídia burguesa e a cumplicidade do STF e líderes militares, armaram um circo em torno da prisão de altos executivos da empresa para corroborar a narrativa de que a caça aos corruptos não poupou a grande burguesia brasileira.
Ocorre que os “poderosos” eleitos pelos mocinhos da Globo contribuíram para as campanhas petistas (e também de outras legendas), estavam afinados com a política externa altiva e ativa do Itamaraty, liderada por Celso Amorim, e em confronto, objetivo, com os interesses de multinacionais estadunidenses na América Latina, África e Oriente Médio.
A concorrência no exterior é dura e a Odebrecht, um conglomerado gigante, tocava obras em 28 diferentes países. Os magnatas do ramo estão dando gargalhada nos EUA com mais esta obra da Lava Jato, um duro golpe na engenharia nacional, na economia e na projeção do Brasil no mundo.
Em julho de 2017 o então vice-procurador geral adjunto do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ), Kenneth Blanco, escancarou as relações perigosas ao enaltecer o sucesso da Lava Jato, com a prisão de Lula, e o “relacionamento íntimo”, à margem das formalidades legais, entre os procuradores e o departamento que dirigia.
“Dado o relacionamento íntimo entre o Departamento de Justiça e os promotores brasileiros, não dependemos apenas de procedimentos oficiais como tratados de assistência jurídica mútua, que geralmente levam tempo e recursos consideráveis para serem escritos, traduzidos, transmitidos oficialmente e respondidos”, revelou.
A nação só tem a perder com a falência da Odebrecht. A classe trabalhadora talvez seja a principal vítima. A empreiteira empregava 276 mil trabalhadores em 2014, quando teve início a Lava Jato. Hoje tem apenas 48 mil funcionários, segundo informações divulgadas recentemente pela direção da empresa. Um corte de 82%.
Demissões em massa não ocorreram apenas na Odebrecht, mas em várias empresas abatidas pela operação que, sob a máscara do combate à corrupção, provocou um rombo estimado por alguns economistas em cerca de 2% do PIB brasileiro.
Não tenho dúvidas de que a Lava Jato fez o jogo do imperialismo e das multinacionais estadunidenses, perpetrando o que podemos classificar de crime de lesa pátria, com respaldo das classes dominantes, do Judiciário e do Congresso Nacional. Um crime que devia ser rigorosamente apurado e punido.
Reproduzo a este respeito as reflexões do saudoso historiador Moniz Bandeira que citei no livro “O golpe do capital contra o trabalho”:
“A quem serve o juiz Sérgio Moro, eleito pela revista Time um dos dez homens mais influentes do mundo? A que interesses servem com a Operação Lava Jato? A quem serve o procurador-geral da República, Rodrigo Janot? Ambos atuaram e atuam com órgãos dos Estados Unidos, abertamente, contra as empresas brasileiras, atacando a indústria bélica nacional, inclusive a Eletronuclear, levando à prisão seu presidente, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva. Os prejuízos que causaram e estão a causar à economia brasileira, paralisando a Petrobras, as empresas construtoras nacionais e toda a cadeia produtiva, ultrapassam, em uma escala imensurável, todos os prejuízos da corrupção que eles alegam combater. O que estão a fazer é desestruturar, paralisar e descapitalizar as empresas brasileiras, estatais e privadas, como a Odebrecht, que competem no mercado internacional, América do Sul e África.”

SÓ SEI QUE NADA SOU

Quem sou (eu)?!
Quem é você?!
Quem és tu?!
Quem sois vós?!
Quem somos (nós)?!
......
Cronologicamente
(no tempo do tempo)
Ninguém é!!
Daí o problema (existencial)
Achar que é...!!
É o que(ê)?!
NADA!!
......
As pessoas foram...
E em que estaram se transformando... ou continuando como foram...
......
Psicologicamente
Faz-se com que se viva em permanente estado de crise existencial (crise de identidade).
......
Se não foi (foste...) um ser realmente humano e cristão, poderá se transformar em humano e cristão.
......
Só sei que nada sou
Fui e serei aquilo em que irei me transformando e que irão me transformando.
Professor Negreiros, Deuzimar Menezes 7/10/2019.

AntiCristo, antiDeus

AntiCristo, antiDeus é quem é antiAmazônia, AntiEcologia, AntiMeioAmbiente, antiNatureza. É antiCriação.


Anticristo usa jovens desinformados para acelerar implantação de seu reino

domingo, 6 de outubro de 2019

O boi, a causa da desigualdade entre os homens.

Pesquisas apontam novo "divisor de águas" da história da Riqueza humana: os bois
Gazeta do Povo6 de outubro de 2019 09:46


A palavra “desigualdade” traz à mente todo tipo de tentações da riqueza e luxo modernos: mansões, iates, jatos particulares e ilhas paradisíacas. Mas as raízes dessa desigualdade têm um fundamento bem menos glamuroso, segundo um novo estudo publicado na revista Antiquity por pesquisadores das Universidades de Oxford, Bocconi e Santa Fe Institute.
De acordo com a pesquisa, os bois de carga teriam sido os principais impulsionadores da concentração de renda nos primórdios da desigualdade. Os autores do estudo examinaram registros arqueológicos deixados por 150 sociedades antigas de ambos os lados do Atlântico. As descobertas se baseiam, em parte, nos novos métodos para medir a desigualdade em diferentes pontos do desenvolvimento das sociedades humanas.
A narrativa tradicional sustentava que o desenvolvimento da agricultura, que permitiu às pessoas estocar grandes quantidades de grãos e outros alimentos, foi a força motriz da divisão quase global das pessoas entre as que têm e as que não têm. Mas os pesquisadores constataram que a desigualdade só ganhou contornos nítidos milhares de anos depois do estabelecimento da agricultura. O ponto de ignição, argumentam, foi justamente quando os bois de carga se tornaram populares, por volta de 4.000 a.C.
As juntas de arado revolucionaram a agricultura ao dar escala ao trabalho humano. Antes, os agricultores tinham que revirar o solo com as mãos, enxadas e outros instrumentos simples. Mas um boi amarrado ao arado tornou possível realizar o mesmo trabalho em apenas uma fração do tempo consumido anteriormente.
A autora do estudo pela Universidade de Oxford, Amy Bogaard, estima que antes da chegada das cangas de bois, uma família típica da antiguidade conseguia administrar um sítio de cerca de um hectare, pouco mais do que um campo de futebol. Com o apoio dos bovinos para o trabalho pesado, essa produtividade foi multiplicada “por 2,5 vezes ou até 10 vezes”, dependendo de fatores como a condição da terra e dos animais.
Os bois foram, em outras palavras, uma das primeiras formas de capital – um ativo que poderia gerar valor econômico para seus proprietários. Os autores do estudo comparam aqueles animais aos robôs usados hoje nas fábricas: "uma tecnologia que economiza trabalho e levou à dissociação entre riqueza e mão-de-obra - dissociação fundamental para o estágio da desigualdade moderna da riqueza".
Quanto mais bois você tivesse, mais terras você poderia cultivar - e quanto mais terras você cultivasse, mais bois poderia comprar, na versão neolítica de uma equação bem conhecida do capitalismo.

A força capitalista dos bois

Uma das evidências “fumegantes” em favor da hipótese da força capitalista dos bois está na diferença de desigualdade entre sociedades antigas da Europa e Eurásia, onde os bois eram difundidos, e aquelas do outro lado do Atlântico, nas Américas, onde os animais não foram introduzidos até a época de Cristóvão Colombo. Essas sociedades pré-colombianas não possuíam animais de carga equivalentes capazes de lidar com trabalhos agrícolas pesados, e o novo estudo constatou que a desigualdade nessas sociedades era tipicamente menor do que no Velho Mundo.
Para possibilitar tais comparações, os autores analisaram quatro tipos de riqueza familiar que são visíveis no registro arqueológico: terra, espaço de armazenamento doméstico, espaço de moradia e bens enterrados nos túmulos do falecido. Trata-se de um registro necessariamente quebrado e incompleto: certas mercadorias se deterioraram ao longo do tempo, foram destruídas ou roubadas. Alguns indivíduos, como líderes tribais ricos ou padres, eram mais propensos a deixar uma pegada arqueológica do que um trabalhador comum que morresse sem um tostão.
Grande parte do foco da pesquisa estava em corrigir, na medida do possível, os vieses divergentes inerentes a esses registros. Isso foi feito examinando aspectos presentes em alguns dos locais e registros mais completos de habitação, bem como em alguns espaços modernos, como Florença do século 15 e partes da Alemanha do século 17.
O resultado final não é perfeito - os espaços em branco no registro histórico nunca podem ser realmente preenchidos - mas os autores escrevem que suas estimativas são compatíveis com achados anteriores, usando uma metodologia diferente, publicada em 2017 na revista Nature.
"Havendo oportunidades para monopolizar terras ou outros ativos importantes em um sistema de produção, as pessoas irão fazê-lo", disse Bogaard em comunicado. "E se não houver mecanismos institucionais ou outros mecanismos redistributivos, a desigualdade é sempre onde vamos acabar".

Brasil em transe religioso

Quando você condena a religião do outro, você deixa de praticar a sua
Revista Pazes5 de outubro de 2019 23:04


Atire a primeira pedra quem nunca criticou a religião alheia e colocou a sua crença como a única verdade… absoluta! Mas quando você condena a religião do outro, você deixa de praticar a sua! Mesmo quando vivemos uma vida pautada no respeito às diferenças e a tolerância, ainda assim, inconscientemente, acabamos julgando o posicionamento do outro quando o assunto é religião.
INFELIZMENTE MUITAS GUERRAS ACONTECERAM, AINDA ACONTECEM E ACONTECERÃO POR CONTA DAS DIVERGÊNCIAS RELIGIOSAS.
O amor ensinado por Cristo e por tantos líderes espirituais acabou sendo transformado em ódio por alguns fanáticos religiosos que defendem a intolerância crescente no ser humano. As religiões surgiram com o intuito de religar o ser humano com a sua essência divina. Mas o homem, envolto em suas certezas irracionais, acabou transformando, o que era inicialmente, uma obra de amor ao próximo, em algo que destrói, separa, e em muitos casos até mata.
Sem condenar as religiões em si, mas sim, aqueles que pregam o ódio a outros modos de enxergar a vida, e o pós morte, poderemos algum dia, desvincular o conceito de um Deus, criador, a figura de um inquisidor que impõe as suas verdades.
SOMOS DIVERSOS E PERFEITOS EM NOSSAS DIFERENÇAS.
Um Deus justo jamais deixaria seus filhos criarem tantos deuses diferentes se ele não quisesse, de alguma forma, nos ensinar algo com isso. E com certeza, ele não aprovaria uma guerra em seu nome. Mas para mim isso está muito claro! Para você está Convenhamos, Deus é amor. Jesus pregou a caridade, a compaixão e o perdão, além de inúmeras outras coisas positivas.
Em nenhuma página de nenhum livro pode-se encontrar algo que remeta a Jesus algum ato de violência ou crueldade com qualquer forma de vida que cruzou o seu caminho. Nem mesmo as religiões que não seguem literalmente os ensinamentos de Cristo, conseguem ficar totalmente desconectados dos seus ensinamentos.
Gandhi disse certa vez que acreditava no Cristo dos Evangelhos, mas não no Cristo dos cristãos. Segundo ele, os “cristãos” do seu tempo distorciam a mensagem de Jesus através de suas atitudes e preconceitos. E perguntou: Como alguém que ama a Deus e ao próximo poderia aceitar que seres humanos fossem divididos em castas e tratados sem qualquer dignidade?
E eu lanço a mesma pergunta a vocês: Como alguém que prega a palavra de Jesus ou de qualquer outro que diz ser uma figura representativa das palavras de Deus, pode, em sã consciência e com o coração voltado ao amor, julgar e condenar outro ser humano por conta das suas crenças e de sua fé?
Cada religião nessa Terra, existe por um motivo, como também existem pessoas das mais diversas culturas e níveis evolutivos.
CADA RELIGIÃO CAI PERFEITAMENTE, COMO UMA LUVA, PARA CADA TIPO DE PESSOA QUE A ACOLHE.
Porque cada um de nós possuímos saberes e culturas diferentes, estamos inseridos em contextos educacionais diversos, e sofremos traumas ou aprendemos a ver a vida de maneiras completamente distintas. A única coisa que nos une é o amor, e esse amor, muitas vezes é esquecido pelos fiéis de várias religiões.
A cada ser humano que já experimentou o privilegio de amar verdadeiramente, recebeu de presente a possibilidade de se desvencilhar de qualquer amargura que o acomete. Experimente amar todas as espécies e todas as criações sabendo que cada acontecimento que Deus permite é, na verdade, uma lição que ele endereça a nós, de maneira singela e amorosa.
Se você condena a religião que não é a que você segue, como sendo coisa do “cccc” ou demoniza aquele que a cultua, você automaticamente se desvia do caminho do amor, para adentrar ao labirinto obscuro do julgamento seguido de condenação, e pior, estará condenando sem o consentimento e o aval daquEle que você julga conhecer melhor do que ninguém. Pensemos…

Conflito em aceitação homem/mulher é transferência...

O procurador-geral da República Augusto Aras

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Trabalhadores não trabalhadores

Didático: Uma foto que mostra o que é a "uberização" do trabalho
Luiz Muller4 de outubro de 2019 14:26


Tá achando que motorista do Uber é “empresário” ou o guri de bicicleta leva comida nas costas é “empreendedor”? A foto mostra o que significa o uso das tecnologias para aumentar a exploração sobre o povo.
Fotografia urbana de Buenos Aires, sob o governo neoliberal de Mauricio Macri. Desemprego de 20% da mão de obra ativa, PIB minguante. Sub-ocupação, miséria disseminada e horizontal.
Ou alguém acha mesmo que esta mulher, cuja foto captei facebook do amigo Cristovão Feil é “empreendora”? Segue o comentário dele:
O caos e para além do caos.
Na foto, um instantâneo que flagra a uberização do trabalho, ou seja, a incessante busca do capital por incentivar (via novas tecnologias) que a mais-valia relativa passe a se constituir em mais-valia absoluta, também conhecido como aumento da produtividade do trabalho assalariado.
Para tanto, é necessário derrubar direitos e conquistas dos próprios assalariados.
A moça da fotografia, mãe e trabalhadora, hoje é chamada cinicamente de “empreendedora”, alguém que se vira como pode, sem direito a nenhuma garantia social ou previdenciária, e tendo que andar com o filho na forma precaríssima de seu instrumento de trabalho.
A barbárie já habita o nosso meio.
O extremo da exploração esta aí. O Estado “mínimo” neo liberal não oferece nem creche e nem escolas infantis. E com as novas tecnologias, o neo liberalismo resolveu apostar na desregulamentação do mundo do trabalho, jogando os trabalhadores a disputarem entre si enquanto os donos do Capital Financeiro e das tecnologias investem na exploração absoluta, jamais vista desde a origem do capitalismo.
A mulher tendo que trabalhar num trabalho precário, sem direito nenhum e tendo que carregar sua criança, por que nem isto mais se lhe oferece o Estado. Enquanto isto aumenta o lucro dos Bancos e de empresas sem nenhum grande “ativo”(bens físicos com valor).
É a escravidão moderna…e consentida, por que ideologicamente estas pessoas exploradas não se identificam como trabalhadoras, mas como supostas “empresarias”, que dependendo do seu próprio esforço, poderiam chegar a ser “milionárias”. Como?
Esta gurizada que anda de bicicleta nas ruas, pedalando 15 horas por dia pra ganhar pouco mais de R$ 1.000,00 em média, como mostram pesquisas, detonam suas cartilagens e corpos, expostos a esforços físicos a céu aberto, sob sol ou chuva. E nenhum direito. Enquanto isto os donos dos aplicativos para os quais trabalham, saltam do padrão de “milionários” para “bilionários”.
A foto publicada pelo Cristóvão é simbólica. A TRABALHADORA super explorada, sozinha, sem consciência de Classe e sem Classe a lhe oferecer consciência. Hora de reorganizar a Classe trabalhadora, que já não é mais a antiga Classe de trabalhadores industriais, mas a de trabalhadores prestadores de serviço e trabalhadores no comércio e até a volta da produção artesanal, mas amplamente dependente de aplicativos e das redes.
Hora de mostrar aos que vivem do trabalho, que é possível e necessário a organização coletiva do próprio trabalho que executam , para que possam avançar.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

As Memórias de Janot

 As memórias de Janot acabam por mostrar que a elite governante do Brasil é composta por pessoas que, ao longo das últimas décadas, se transformaram em semirrobôs da engrenagem estatal, em tecnocratas positivistas da pior espécie, em escravos de uma vida vazia como só o Estado, com suas tentadoras e diabólicas promessas de segurança financeira e estabilidade, é capaz de oferecer.



A Vida é curta demais para ler o livro do Janot. Por isso eu li para você
Gazeta do Povo3 de outubro de 2019 15:46




O ex-procurador geral da República, com algum estardalhaço desajeitado e um imbróglio jurídico involuntário, está lançando Nada menos que tudo, seu livro de memórias, coescrito pelos jornalistas Jaílton de Carvalho e Guilherme Evelin. O livro despertou o interesse dos poucos brasileiros que ainda se dispõem a ler qualquer coisa por dois motivos. Primeiro porque Janot, em entrevista, deu vazão a seus sonhos homicidas em relação ao ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, episódio que, aliás, não consta no livro. Depois porque as memórias de Janot, ou melhor, do doutor Janot chegam às livrarias na esteira de outros livros de relativo sucesso, todos tratando da conturbada política brasileira das últimas duas décadas.
O que move alguém a entrar na livraria, gastar algum dinheiro, voltar para casa e dedicar parte do escasso tempo ocioso da vida contemporânea a ler as memórias de um ex-procurador da República é algo que está além da minha compreensão. Diz o bom-senso que a vida é curta demais para esse tipo de leitura – e o bom-senso é bom por algum motivo. A leitura de um relato como o de Nada menos que tudo só seria justificável se Janot fosse dotado de um extraordinário talento literário ou se suas memórias revelassem escândalos capazes de fazer ruir a civilização ocidental. O que, evidentemente, não é o caso.
Foi por zelo profissional, pois, que li o livro que tem a ambição de entrar para os anais da historiografia contemporânea brasileira, mas que parece mais destinado mesmo ao anedotário. No meio jurídico, Janot se tornou alvo de discussões entremeadas por risos por causa do já mencionado caso da imaginação homicida do autor – punida orwellianamente com uma humilhante operação de busca e apreensão, ordem restritiva e ameaça de censura e até prisão. E também no mercado editorial, uma vez que o golpe publicitário dos pensamentos assassinos de Janot se transformou no mais cômico exemplo de golpe publicitário fracassado que se tem notícia desde o sumiço daquele menino no Acre. Para piorar, se Janot criou uma narrativa na qual engatilhava uma arma contra um ministro não exatamente querido do STF para criar empatia com os leitores e possíveis compradores do livro, o tiro delirante saiu pela culatra, porque Nada menos que tudo vazou na Internet, comprometendo os royalties destinados ao autor.
Li a jornada narcísica de Janot também porque seres humanos me interessam e um livro de memórias representa sempre uma oportunidade de conhecermos melhor um ser humano que, cotidianamente presente na TV, rádio e Internet, tende a se tornar um indivíduo monodimensional, muitas vezes reduzido à caricatura. É para isso, aliás, que servem os livros de memórias, os bons e também os péssimos: para revelar a pessoa real por trás do personagem, para enfatizar o lado comum, prosaico, inegavelmente humano dos episódios grandiosos, para nos aproximar do Olimpo e nos fazer perceber que os deuses ou semideuses, no dia a dia, sofrem percalços muito parecidos com os nossos.
Uma pena que Nada menos que tudo fracassasse miseravelmente em substituir o personagem da crônica político-jurídica por um homem de verdade. Não sei se por acaso ou se por total falta de talento do narrador e seus assistentes, a verdade é que as memórias de Janot acabam por mostrar que a elite governante do Brasil é composta por pessoas que, ao longo das últimas décadas, se transformaram em semirrobôs da engrenagem estatal, em tecnocratas positivistas da pior espécie, em escravos de uma vida vazia como só o Estado, com suas tentadoras e diabólicas promessas de segurança financeira e estabilidade, é capaz de oferecer.

Um servo do Estado, para o Estado, pelo Estado

No caso de Rodrigo Janot, a escravidão se completa com a ambição de entrar para a história oficial como um herói, um servo altivo e honrado do Estado, destinado a, quem sabe, figurar um dia num dicionário ilustrado ao lado do verbete “cidadania”.
Prova disso é a ausência quase total de referências à infância e juventude do autor. Aliás, para descobrir que Rodrigo Janot é também Monteiro de Barros e que nasceu em Belo Horizonte, tive de recorrer à Wikipedia. Meia hora mais tarde e vasculhando a Internet, não é possível encontrar muito mais do que isso. Como um daqueles personagens sem passado dos velhos filmes de espionagem, Janot parece ter surgido no mundo quando foi nomeado procurador-geral pela ex-presidente Dilma Rousseff. É como se ele saísse de um ventre materno tardio já de terno e gravata para assumir o cargo que lhe causaria tantos aborrecimentos.
O primeiro capítulo do livro, portanto, é dedicado a essa gestação do homem público. Janot conta que “de repente, meu celular tocou”. E a frase salta aos olhos pela ênfase no “de repente”, como se o Criador estalasse os dedos e se fizesse a luz. Era o vice-presidente Michel Temer bancando o M das histórias de James Bond e dizendo para o “cidadão comum” Janot que em breve ele teria uma missão: torna-se procurador-geral da República – com licença não para matar, como o famoso espião, mas para pedir, num futuro próximo, a prisão do próprio Michel Temer.
Daí, no único trecho do livro que, com um pouco de generosidade, se pode chamar de “humano”, Janot volta no tempo para se autoelogiar como o homem probo que, apesar do passado de tímida militância esquerdista, típico de uma geração que entrou para o funcionalismo público depois de chegar “à conclusão de que a melhor maneira seria combater o regime por dentro do Estado” e tomou posse no Ministério Público “cheio de expectativas de que ajudaria a mudar o Brasil”, pediu que um ídolo político, o ex-deputado José Genoíno, fosse preso.
E aqui o livro já começa a ganhar cor: o melancólico cinza de um homem que em muitas vezes lembra o triste amanuense Belmiro de Cyro dos Anjos (livro que li numa juventude remota e que só sobrevive em mim como impressão), nascido para ser não alma, e sim RJ, CPF e comprovante de endereço, tudo com autenticação cartorária. Um homem que sublima seus sentimentos em nome da retidão cívica, que dá a impressão de trocar facilmente a honestidade do livre-arbítrio pela honestidade do dever jurídico:
“Foi difícil, né, procurador? Dever de ofício, né?, ele [Fernando Pimentel, ex-governador de Minas Gerais e envolvido em casos de corrupção] comentou comigo.
“Foi sim, ministro, dever de ofício. Mas não dá para tergiversar em relação a isso”, respondi. Em seguida, completei com uma frase que viraria meu mantra: “A gente faz o que tem de fazer”.
Diálogo parecido acontecia meses mais tarde, consolidando o tecnocrata. Eis a conversa que Janot relata com Rogério Chequer, um dos líderes do movimento Vem Pra Rua:
“Vamos dar apoio, mas o senhor tem que investigar!” E sugeriu alvos predeterminados. Se não me falha a memória, ele chegou a dizer que tinha mais de 1 milhão de seguidores e que cobraria resultados. Eu respondi:
“Calma, rapaz, a coisa aqui é técnica”.

A jornada do herói embriagado

Se o herói Rodrigo Janot de Nada menos que tudo é gestado naquele telefonema “repentino” do então vice-presidente Michel Temer, ele nasce quando a ex-presidente Dilma Rousseff o nomeia procurador-geral. Com uma mistura de ingenuidade calculada e humor negro involuntário, Janot conta que, quando o então ministro da Justiça José Eduardo Cardozo lhe ligou chamando-o para uma reunião com a presidente que selaria sua nomeação ao cargo, ele estava etilicamente alterado.
Eu tinha de chegar ao Alvorada sem qualquer vestígio de bebida alcoólica. De imediato, Dantas [o advogado Antônio Carlos Ribeiro Dantas] propôs café com sal. Topei a sugestão e ingeri a mistura. Foi um estrago. Tive engulhos e corri para o banheiro. Vomitei o que bebera e algo mais. Para que eu me recuperasse, Dantas e minha mulher me socorreram com alguns copos de água.
Depois disso, Janot, seguindo o manual já cansado das narrativas heróicas criadas a partir das lições de Joseph Campbell, desce aos infernos. Ele visita uma série de presídios pelo país, em mais uma daquelas iniciativas estéreis do Conselho Nacional de Justiça para transformar os cárceres do país em algo que não uma “masmorra medieval”, como dita o velho clichê. É dos corredores escuros, úmidos e mal-cheirosos das piores penitenciárias do país que Janot emerge mais uma vez triunfante, destinado a cumprir um destino nobre, um Lancelot encarregado de sair pelo Reino munido de suas petições para acabar com a corrupção.
Sim, porque no capítulo 4, intitulado “Como tudo começou: todo poder a Curitiba!”, Rodrigo Janot se autoproclama pai da Lava Jato, vassalo do Estado, mas senhor da Procuradoria, incumbido, talvez por vontade divina, a criar a força-tarefa capitaneada por outro obediente servo do Estado, Deltan Dallagnol. Capitaneando essa nau de burocratas virtuosos, Janot, como um Sísifo exausto, reflete, depois de elaborada a famosa “lista do Janot”, sobre o papel da Lava-Jato da qual, vale repetir, ele se considera pai:
“Era como se a solução de nossos problemas políticos e sociais estivesse entrelaçada à lista”.

O estilo faz o homem

Rodrigo Janot, sempre mais personagem do que homem, se revela muito no estilo de suas memórias – por mais que ele tenha contado com a ajuda de dois ghost-writers. A começar pela linguagem chula e dos muitos pontos de exclamação que marcam os diálogos do livro.
“Nós temos que fazer, senão (sic) estamos fodidos. Se temos que fazer, vamos fazer! Ah, mas é presidente do Senado, é presidente da Câmara, foda-se. Se fosse o cara da esquina, não estaríamos descendo o cacete nele? Qual a diferença desse cara para o outro? Não, não, vamos fazer!”
Pior do que isso, porém, são os momentos em que o ex-procurador geral usa de um tom professoral para expressar a sapiência que acumulou em décadas de gabinetes, provavelmente lendo tomos e mais tomos de teoria do direito. “Um procurador medroso não procura (e não acha) nada”, escreve ele em certo momento, para logo em seguida concluir que “a covardia é, sim, um sinal de fraqueza”.
Não menos importante é o uso abundante de lugares-comuns. Ao longo de todo o livro, Janot “chora copiosamente”, segue “a letra fria da lei”, sofre “derrotas e vitórias acachapantes”, vai “de vento em popa”, tem “saúde de ferro”, para diante de “dúvidas que acenderam a luz amarela”, expõe “obviedades ululantes” e põe “os pingos nos is”. Recurso preguiçoso, os clichês demonstram também uma visão de mundo estreita, marcada por raciocínios fáceis que avançam apoiados em muletas idiomáticas.

A teatralidade da humilhação, do choro, dos gases e das autocertezas

O bom de ler memórias tão desinteressantes é que as páginas avançam e o leitor, desesperado por encontrar um episódio que o tire do semissono, começa a se ver interessado por longos parágrafos que, no fundo, não revelam nada. Em Nada menos que tudo, esses episódios se estendem por 250 páginas. Você vira a página e encontra lá o nome famoso (um Aécio, uma Gleisi), citado cotidianamente nas páginas de política e polícia dos jornais, e se engana, na esperança de encontrar algo que o faça saltar da poltrona – mas nada acontece.
Ao longo de intermináveis páginas que são um primor de vazio narrativo, Janot descreve, por exemplo, a humilhação a que o ex-senador e hoje deputado federal Aécio Neves se submeteu ao lhe pedir que não o investigasse. “My life is in your hands [minha vida está em suas mãos]”, teria escrito Aécio numa carta a Janot, carta esta que o ex-procurador diz ter guardado como documento histórico, mas que ele não faz nenhuma questão de mostrar ao leitor. “Talvez ao longo da história isso diga algo sobre o tamanho de alguns os nossos homens públicos”, reflete Janot, sem se dar conta de que ele está falando também de si.
Aí, quando as pálpebras estão pesando e ainda falta mais da metade do livro, o leitor se depara com um momento de humor involuntário. Ao descrever a segunda sabatina a que se submeteu no Senado, um rancoroso Janot se dedica a falar de um de seus maiores desafetos (entre tantos), o senador Fernando Collor, que se sentou na primeira fila para ficar xingando o já nervoso ex-procurador geral. Neste trecho, aliás, Janot faz questão de mostrar o quão importante ele é e quão nobres e difíceis são suas missões ao dizer que, diante da possibilidade de Collor repetir os feitos do pai e matá-lo, contratou um segurança dedicado a cravar os olhos no intempestivo senador e contê-lo num possível ataque. Até que:
Em meio àquele estranho duelo de olhares, um garçom se aproximou com um guardanapo e duas pílulas. Eu, sem entender nada do que estava acontecendo, simplesmente repeli a oferta. Logo depois reapareceu o mesmo garçom, dessa vez com um bilhete escrito à mão pela minha mulher. Minha filha, assistindo à sabatina pela TV, percebera que eu estava inquieto na cadeira e sugerira à minha esposa me passar pílulas contra gases.
Rodrigo Janot humilha um já combalido Aécio Neves, enfrenta os olhares furiosos de Collor, mas se derrete todo diante de Gleisi Hoffmann. Ao narrar um encontro que teve com a ex-senadora, que aparentemente foi buscar consolo para os problemas do ex-marido, Paulo Bernardo, um desavergonhado Janot mais uma vez mostra que seu senso de dever nada tem a ver com uma base moral sólida, e sim com a submissão ao Estado e à instituição que ele parece representar a contragosto.
Com a voz baixa e visivelmente abatida, a senadora começou dizendo reconhecer erros cometidos por Paulo Bernardo, mas argumentando que estavam colocando carga demais sobre o marido. No meio da conversa, ao relatar o sofrimento dela e dos filhos, ainda crianças, diante da prisão do pai, começou a chorar. Eu disse: “Senadora, eu sei o que é sofrimento em família, mas o que deve ser feito será feito”. Nesse momento, também vi que estava chorando.

Acerto de contas consigo mesmo

Não há, em Nada menos que tudo, espaço algum para a transcendência, a reflexão, o autoexame da alma, todas essas coisas que um leitor busca num livro de memórias. Para Rodrigo Janot, tudo é preto-no-branco. Nuances desaparecem completamente até mesmo quando o narrador conta episódios como o das gravações dos irmãos Batista, que quase provocaram a queda do ex-presidente Michel Temer e que rendeu aos empresários uma controversa imunidade penal.
Ao falar da delação dos executivos da Odebrecht, por exemplo, Janot mais uma vez se revela um ser reduzido a um cargo estatal, um narcisista destinado a livrar o país da corrupção, nem que para isso tenha que prejudicar a própria saúde. Ele conta que, durante as negociações com os executivos, descobriu dois carcinomas no rosto. “A descoberta de uma doença que pode ter consequências graves não deixa ninguém feliz, mas minha preocupação naquele momento era outra. Como tomar uma dose de Dormonid®, necessária para aquela cirurgia, sem colocar em risco o mais cobiçado segredo da República?”, conta, numa tentativa de transformar um vazio existencial e moral numa virtude.
Rodrigo Janot, por sinal, só dá sinais de ser algo além de um escravo do Estado quando bebe vinho (situação que se repete preocupantemente durante o livro) e, já no final, quando exalta os próprios dotes culinários. “A alegria pelas coisas simples é o que nos torna semideuses”, conclui ele, revelando, mais uma vez, como se vê e como pretende ser visto.
Isso porque Janot não está preocupado em deixar o livro com um legado. Ele está interessado apenas em prestar contas para si mesmo, exaltando seus feitos, justificando de forma quase infantil seus quase inexistentes erros e dizendo que aqueles que o criticaram só fizeram isso porque não foram capazes de entender sua lógica brilhante e honrada. Nada menos que tudo é isso: página após página, uma tentativa de legitimar as ações de um personagem secundário que se vê como protagonista, sem qualquer tipo de reflexão mais profunda.
Janot, contudo, se trai nas muitas entrelinhas do livro que, no mais, não passa de um gigantesco e cansativo ato falho. O leitor que se colocar no papel de psicanalista e ouvir com atenção a voz monótona do paciente, com seus pretensiosos pretéritos-mais-que-perfeitos, vai descobrir ali um ser com vocação para autômato positivista, um verdadeiro, inequívoco e assustador representante da tecnocracia brasileira.