"[... ] A classe média adora curtir a ilusão de que é candidata a 
integrar a elite embora, por enquanto, viaje na classe executiva. Porém,
 acredita que, em breve, passará à primeira classe… E repudia a 
possibilidade de viajar na classe econômica. [...]" - Frei Betto
O fascismo ronda o Brasil em 2014 - Por Frei Betto.
Ao votar este ano, reflita se por acaso você estará plantando uma semente do fascismo ou colaborando para extirpá-la.
Jean-Marie le Pen, líder da direita francesa, sugeriu deter o surto 
demográfico na África e estancar o fluxo migratório de africanos rumo à 
Europa enviando, àquele sofrido continente, “o senhor Ebola”, uma 
referência diabólica ao vírus mais perigoso que a humanidade conhece. Le
 Pen fez um convite ao extermínio.
O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy propôs a suspensão do Tratado de
 Schengen, que defende a livre circulação de pessoas entre trinta países
 europeus. Já a livre circulação do capital não encontra barreiras no 
mundo… E nas eleições de 25 de maio a extrema-direita europeia aumentou o
 número de seus representantes no Parlamento Europeu.
A queda do Muro de Berlim soterrou as utopias libertárias. A esquerda 
europeia foi cooptada pelo neoliberalismo e, hoje, frente a crise que 
abate o Velho Mundo, não há nenhuma força política significativa capaz 
de apresentar uma saída ao capitalismo.
Aqui no Brasil nenhum partido considerado progressista aponta, hoje, um 
futuro alternativo a esse sistema que só aprofunda, neste pequeno 
planeta onde nos é dado desfrutar do milagre da vida, a desigualdade 
social e a exclusão.
Caminha-se de novo para o fascismo? Luis Britto García, escritor 
venezuelano, frisa que uma das características marcantes do fascismo é a
 estreita cumplicidade entre o grande capital e o Estado. Este só deve 
intervir na economia, como apregoava Margareth Thatcher, quando se trata
 de favorecer os mais ricos. Aliás, como fazem Obama e o FMI desde 2008,
 ao se desencadear a crise financeira que condena ao desemprego, 
atualmente, 26 milhões de europeus, a maioria jovens.
O fascismo nega a luta de classes, mas atua como braço armado da elite. 
Prova disso foi o golpe militar de 1964 no Brasil. Sua tática consiste 
em aterrorizar a classe média e induzi-la a trocar a liberdade pela 
segurança, ansiosa por um “messias” (um exército, um Hitler, um ditador)
 capaz de salvá-la da ameaça.
A classe média adora curtir a ilusão de que é candidata a integrar a 
elite embora, por enquanto, viaje na classe executiva. Porém, acredita 
que, em breve, passará à primeira classe… E repudia a possibilidade de 
viajar na classe econômica.
Por isso, ela se sente sumamente incomodada ao ver os aeroportos 
repletos de pessoas das classes C e D, como ocorre hoje no Brasil, e não
 suporta esbarrar com o pessoal da periferia nos nobres corredores dos 
shopping-centers. Enfim, odeia se olhar no espelho…
O fascismo é racista. Hitler odiava judeus, comunistas e homossexuais, e
 defendia a superioridade da “raça ariana”. Mussolini massacrou líbios e
 abissínios (etíopes), e planejou sacrificar meio milhão de eslavos 
“bárbaros e inferiores” em favor de cinquenta mil italianos 
“superiores”…
O fascismo se apresenta como progressista. Mussolini, que chegou a 
trabalhar com Gramsci, se dizia socialista, e o partido de Hitler se 
chamava Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais 
conhecido como Partido Nazista (de Nationalsozialist).
Os fascistas se apropriam de símbolos libertários, como a cruz gamada 
que, no Oriente, representa a vida e a boa fortuna. No Brasil, militares
 e adeptos da quartelada de 1964 a denominavam “Revolução”.
O fascismo é religioso. Mussolini teve suas tropas abençoadas pelo papa 
quando enviadas à Segunda Guerra. Pio XII nunca denunciou os crimes de 
Hitler. Franco, na Espanha, e Pinochet, no Chile, mereceram bênçãos 
especiais da Igreja Católica.
O fascismo é misógino. O líder fascista jamais aparece ao lado de sua 
mulher. Como dizia Hitler, às mulheres fica reservado a tríade Kirche, 
Kuche e Kinder (igreja, cozinha e criança).
O fascismo é anti-intelectual. Odeia a cultura. “Quando ouço falar de 
cultura, saco a pistola”, dizia Goering, braço direito de Hitler. Quase 
todas as vanguardas culturais do século XX foram 
progressistas:expressionismo, dadaísmo, surrealismo, construtivismo, 
cubismo, existencialismo. Os fascistas as consideravam “arte 
degenerada”.
O fascismo não cria, recicla. Só se fixa no passado, um passado 
imaginário, idílico, como as “viúvas” da ditadura do Brasil, que se 
queixam das manifestações e greves, e exalam nostalgia pelo tempo dos 
militares, quando “havia ordem e progresso”. Sim, havia a paz dos 
cemitérios… assegurada pela férrea censura, que impedia a opinião 
pública de saber o que de fato ocorria no país.
O fascismo é necrófilo. Assassinou Vladimir Herzog e frei Tito de 
Alencar Lima; encarcerou Gramsci e madre Maurina Borges; repudiou 
Picasso e os teatros Arena e Oficina; fuzilou García Lorca, Victor Jara,
 Marighella e Lamarca; e fez desaparecer Walter Benjamin e Tenório 
Júnior.
Ao votar este ano, reflita se por acaso você estará plantando uma semente do fascismo ou colaborando para extirpá-la.