quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
Uma Aldeia Oprimida
Francimar Moreira
Não foi na idade média, e muito menos na era pré-histórica, que ela existiu. A opressão de que falamos atravessou os séculos e sobrevive reinando altaneira e com a mais absoluta desenvoltura, a despeito da revolução francesa, da Declaração Universal dos Direitos Humanos e de todas as lutas em que estiveram envolvidos bravos combatentes que deram a própria vida na tentativa de libertar o homem dos grilhões opressores.
Não foi implantada a ferro e fogo nem sustentada a baionetas ou câmaras
de torturas, como é comum acontecer, apesar de conviver com fogo e
chumbo. A maldita, à qual nos referimos, é fruto de uma histórica e
longeva dominação que tem na ignorância e covardia dos que se deixam
dominar e na absoluta ausência de escrúpulos dos vilões opressores, o
amálgama que alimenta, ampara e robustece a malfazeja.
Não foi por falta de aviso ou denúncia, porquanto não somente o padre Antonio Vieira – um dos mais argutos e festejados homens que habitaram essa Aldeia – denunciou reiteradamente, com destemor e determinação, os horrores de seu tempo, como Jesus Cristo, o mensageiro-mor da fraternidade, em uma sábia e antológica advertência, proclamou: “Bando de víboras; que coam mosquitos, mas engolem elefantes!”.
Não foi por falta de indignação e rebeldia, visto que muitos já manifestaram o seu mais firme e contundente repúdio, e até pegaram em armas, na tentativa vã de remover essa vilania que oprime a Aldeia e mantém escravizados alguns milhões de seres humanos. Faltou, sim, infelizmente, que um número maior de pessoas compreendesse a dimensão da sordidez e tivesse coragem moral de também se rebelar contra o seu caráter obsceno.
Não foi denunciado a contento?... Foi. Porquanto homens extraordinários arriscaram a própria vida, fazendo isso. Como foi o caso do admirável professor João Parsondas de Carvalho, que – rompendo distâncias na escuridão de noites taciturnas sobre o lombo de animais, em canoas, a pé e até nadando sobre as águas barrentas de rios caudalosos – enfrentou sacrifícios atrozes para denunciar a barbárie praticada no seu tempo.
Não houve tantas vítimas e rios de sangue derramado, em quantidade suficiente, para que o mundo inteiro fosse sensibilizado pela infâmia que de fato tem ocorrido nessa Aldeia aviltada? É certo que houve. Vítimas nunca faltaram. É só verificar o sofrimento do povo, ou ler as páginas d’A GUERRA DO LEDA – da lavra do fantástico Parsondas de Carvalho –, que serão encontrados relatos chocantes sobre as atrocidades praticadas naquela época.
Não foi falta de gritos e ranger de dentes, que ecoassem mundo afora, despertando os que vivem nos palácios, ou ser ouvidos pelos defensores de plantão da causa dos oprimidos? Não. Não foi isso. O próprio Parsondas de Carvalho, com maestria e coragem, descreveu sobre os gritos de crianças, mulheres e anciões desesperados, diante das atrocidades cometidas pelos capangas do governador-tirano, Benedito Leite.
Não faltou, então, um levante popular, uma revolução, ou mesmo um governo comprometido com a maioria do povo dessa Aldeia, que, de fato, governasse para todos?!... È lógico que faltou. Os sucessivos governos colocaram-se, reiteradamente, ao lado dos opressores e governaram para os aliados políticos, apoiadores e sócios. A maioria do povo apenas foi usada para legitimar o poder por meio do voto de cabresto.
Não existem nefastas consequências sociais e econômicas diante desse vilipêndio?... Os índices negativos, a alta concentração de renda, a pobreza extrema..., os pequenos e médios comerciantes apelando para o contrabando e produtos roubados, ou vendo seus meios de sobrevivência desaparecer, porque não têm como concorrer com os protegidos ou sócios dos chefes da Aldeia, falam por si. E por fim: “A violência filha da outra” – como diria Chico Buarque de Holanda –, é retroalimentada pelos vermes da iniquidade que reina.
Não existe esperança de mudar essa esdrúxula e humilhante situação que tanto sofrimento e vergonha causam aos habitantes dessa Aldeia? Existe, sim. Após séculos de submissão e barbárie, os detentores do direito de votar resolveram mudar a principal liderança do lugar. E esta, vencido 1/12 avos do primeiro ano de governo, não somente tem se havido com absoluta competência, como sinaliza que haverá novos tempos.
Não existe perigo de retrocesso? Ameaças sempre estarão rondando!... Mas o novo timoneiro da Aldeia compreendeu que se fazia necessário realizar mudanças que sinalizassem que as coisas tomariam novos rumos. Isso ocorrendo, os seus habitantes, esperançosos de que virá um novo tempo, encarregar-se-ão de formar o escudo protetor necessário para resistir às tentativas de golpes – qualquer que seja a sua natureza.
Não haverá conspiração, ainda que a médio ou longo prazo? Sim. Ela sempre existirá e já deve estar havendo. Os que se acostumaram sugar nas tetas da Aldeia não vão desistir facilmente de tentar tê-las novamente ao alcance da boca. No entanto, basta o novo comando criar a expectativa de que a maioria dos antes subjugados vislumbre a possibilidade de ver suas vidas melhorarem, para que o escudo protetor de que falamos se fortaleça e impossibilite que os conspiradores tenham sucesso em sua pretensão.
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Opinião
Não foi na idade média, e muito menos na era pré-histórica, que ela existiu. A opressão de que falamos atravessou os séculos e sobrevive reinando altaneira e com a mais absoluta desenvoltura, a despeito da revolução francesa, da Declaração Universal dos Direitos Humanos e de todas as lutas em que estiveram envolvidos bravos combatentes que deram a própria vida na tentativa de libertar o homem dos grilhões opressores.
Francimar Moreira é ex-vereador de Imperatriz |
Não foi por falta de aviso ou denúncia, porquanto não somente o padre Antonio Vieira – um dos mais argutos e festejados homens que habitaram essa Aldeia – denunciou reiteradamente, com destemor e determinação, os horrores de seu tempo, como Jesus Cristo, o mensageiro-mor da fraternidade, em uma sábia e antológica advertência, proclamou: “Bando de víboras; que coam mosquitos, mas engolem elefantes!”.
Não foi por falta de indignação e rebeldia, visto que muitos já manifestaram o seu mais firme e contundente repúdio, e até pegaram em armas, na tentativa vã de remover essa vilania que oprime a Aldeia e mantém escravizados alguns milhões de seres humanos. Faltou, sim, infelizmente, que um número maior de pessoas compreendesse a dimensão da sordidez e tivesse coragem moral de também se rebelar contra o seu caráter obsceno.
Não foi denunciado a contento?... Foi. Porquanto homens extraordinários arriscaram a própria vida, fazendo isso. Como foi o caso do admirável professor João Parsondas de Carvalho, que – rompendo distâncias na escuridão de noites taciturnas sobre o lombo de animais, em canoas, a pé e até nadando sobre as águas barrentas de rios caudalosos – enfrentou sacrifícios atrozes para denunciar a barbárie praticada no seu tempo.
Não houve tantas vítimas e rios de sangue derramado, em quantidade suficiente, para que o mundo inteiro fosse sensibilizado pela infâmia que de fato tem ocorrido nessa Aldeia aviltada? É certo que houve. Vítimas nunca faltaram. É só verificar o sofrimento do povo, ou ler as páginas d’A GUERRA DO LEDA – da lavra do fantástico Parsondas de Carvalho –, que serão encontrados relatos chocantes sobre as atrocidades praticadas naquela época.
Não foi falta de gritos e ranger de dentes, que ecoassem mundo afora, despertando os que vivem nos palácios, ou ser ouvidos pelos defensores de plantão da causa dos oprimidos? Não. Não foi isso. O próprio Parsondas de Carvalho, com maestria e coragem, descreveu sobre os gritos de crianças, mulheres e anciões desesperados, diante das atrocidades cometidas pelos capangas do governador-tirano, Benedito Leite.
Não faltou, então, um levante popular, uma revolução, ou mesmo um governo comprometido com a maioria do povo dessa Aldeia, que, de fato, governasse para todos?!... È lógico que faltou. Os sucessivos governos colocaram-se, reiteradamente, ao lado dos opressores e governaram para os aliados políticos, apoiadores e sócios. A maioria do povo apenas foi usada para legitimar o poder por meio do voto de cabresto.
Não existem nefastas consequências sociais e econômicas diante desse vilipêndio?... Os índices negativos, a alta concentração de renda, a pobreza extrema..., os pequenos e médios comerciantes apelando para o contrabando e produtos roubados, ou vendo seus meios de sobrevivência desaparecer, porque não têm como concorrer com os protegidos ou sócios dos chefes da Aldeia, falam por si. E por fim: “A violência filha da outra” – como diria Chico Buarque de Holanda –, é retroalimentada pelos vermes da iniquidade que reina.
Não existe esperança de mudar essa esdrúxula e humilhante situação que tanto sofrimento e vergonha causam aos habitantes dessa Aldeia? Existe, sim. Após séculos de submissão e barbárie, os detentores do direito de votar resolveram mudar a principal liderança do lugar. E esta, vencido 1/12 avos do primeiro ano de governo, não somente tem se havido com absoluta competência, como sinaliza que haverá novos tempos.
Não existe perigo de retrocesso? Ameaças sempre estarão rondando!... Mas o novo timoneiro da Aldeia compreendeu que se fazia necessário realizar mudanças que sinalizassem que as coisas tomariam novos rumos. Isso ocorrendo, os seus habitantes, esperançosos de que virá um novo tempo, encarregar-se-ão de formar o escudo protetor necessário para resistir às tentativas de golpes – qualquer que seja a sua natureza.
Não haverá conspiração, ainda que a médio ou longo prazo? Sim. Ela sempre existirá e já deve estar havendo. Os que se acostumaram sugar nas tetas da Aldeia não vão desistir facilmente de tentar tê-las novamente ao alcance da boca. No entanto, basta o novo comando criar a expectativa de que a maioria dos antes subjugados vislumbre a possibilidade de ver suas vidas melhorarem, para que o escudo protetor de que falamos se fortaleça e impossibilite que os conspiradores tenham sucesso em sua pretensão.