Luis Nassif: Para entender o jogo midiático do Ministério Público Federal
Da
esquerda para a direita, Camanho, Dallagnol, Moro, Janot, holofotes,
Homem Aranha, Aragão, Batman, os Vingadores, todos personagens do grande
show da mídia, que nem Janot nem Aragão consegue conter.
Desde o final dos anos 90, a corporação Ministério Público Federal
tomou-se de pudores em relação a vazamentos de informação e uso da
imprensa para reforçar acusações criminais.
Logo após o impeachment de Fernando Collor, houve movimentos individuais
de aproximação de procuradores com as mais diversas personalidades e
jornalistas. Até ACM foi procurado.
A midiatização dos inquéritos produziu uma vasta literatura de episódios
degradantes para a corporação. Resultou daí uma nova geração que se
cercou de pudores, às vezes até com certo exagero. Muitas vezes evitava
representar de ofício (isto é, sem ser provocada) para não incorrer no
pecado do exibicionismo.
A Operação Lava Jato rompeu com todos esses pudores. A mesma fraqueza
exibida por Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) no julgamento da
AP 470 pegou, agora, jovens procuradores, muito menos experientes e
muito mais suscetíveis aos bafejos da fama. Foram corrompidos pela
visibilidade proporcionada pela mídia e cometeram os crimes da soberba e
do desrespeito aos limites da lei e da Constituição.
O MPF é uma grande organização com diversos tipos de personagens. Tem
uma cultura interna com muitas virtudes, como o foco na construção
interna da reputação. Ou seja, o procurador trabalhar para ter
reconhecimento dos próprios pares. Mas há um lado exibicionista,
presente hoje em alguns procuradores de Twitter – não todos, alguns
twitters de procuradores são sérios e informativos.
O MPF tem as figuras referenciais, aquelas que servem de guia para os
jovens. Mas, nos últimos anos apareceu um sentimento pesado de
templários da ordem, a única ilha de virtudes em um país tomado pela
corrupção – conforme alardeia o inacreditável Alexandre Camanho de
Assis, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República
(ANPR).
Alguns meses atrás o procurador Eugênio Aragão escreveu um documento
fortíssimo, com alertas para a categoria, a visão corajosa de quem
antevê riscos para a corporação com as seguidas exibições de musculatura
e arrogância. Quase foi crucificado.
O Procurador Geral, Rodrigo Janot, é considerado um político habilidoso,
que conseguiu juntar todas as tendências do MPF na sua chapa, chamou
para sua assessoria figuras referenciais, consagradas internamente.
Não sei o que ocorreu internamente. Mas aparentemente o bom senso foi
atropelado pelo deslumbramento da equipe do Lava Jato, estimulando uma
geração de jovens turcos, não apenas com o vício de procurar os
holofotes, mas principalmente de utilizar a longa e suspeita mão da
mídia para incriminar os alvos – em uma demonstração chocante de
desrespeito aos direitos individuais.
A exposição do procurador Deltan Dallagnol, sua submissão à mídia, assim
como o juiz Sérgio Moro, podem lhe angariar aplausos do populacho, da
malta, daqueles que acham que bandido bom é bandido morto. Mas
certamente aprofundarão as mágoas e suspeitas dos legalistas. Estão
cavando um buraco que custará caro ao poder que representam.
E, pior, não há pessoas de bom senso para conter a boiada e chamar os
procuradores à responsabilidade funcional e constitucional.