TEXTO-AULA DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
“O BRASILEIRO ESCRAVIZADO POR LADRÕES POLÍTICOS: Uma Análise
Transdisciplinar da Escolha Democrática que Nos Aprisiona”
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Por
Professor[*] Negreiros Deuzimar Menezes – Consultor-Analista Transdisciplinar em Educação, Meio Ambiente e
Política
1/INTRODUÇÃO:
À Guisa de Antelóquio – O PARADOXO DO CÁRCERE VOLUNTÁRIO
Escrevo a partir de um lugar incômodo: a constatação de que
vivemos um dos mais perversos paradoxos da democracia contemporânea. Não somos
escravizados por forças externas, por invasores estrangeiros ou por golpes
militares clássicos. Somos escravizados por aqueles que nós mesmos elegemos.
Este texto-aula não é sobre denúncia fácil; é sobre análise
estrutural do mecanismo de autoescravização democrática. Como
chegamos ao ponto em que o voto, ato máximo de liberdade, transforma-se em
instrumento de nossa própria servidão?
2/DESMONTANDO O MECANISMO: OS TRÊS PILARES DA ESCRAVIDÃO
POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
2.1
O PRIMEIRO PILAR: A TRANSFERÊNCIA LEGAL DA CULPA
Os ladrões políticos — e aqui uso o termo “ladrão” em sentido
ampliado: quem rouba recursos, oportunidades, futuro, dignidade — dominaram a
arte da inversão acusatória. Ladrão é o opositor. É o
outro. Não é apenas retórica. É estratégia sistêmica:
Como funciona:
1.
Criam leis que desprotegem a população [flexibilizam
crimes ambientais, enfraquecem agências de controle, blindam patrimônio]
2.
Apontam para "outros ladrões" [corrupção
de pequeno porte, funcionários públicos, o "outro" político]
3.
Constroem narrativa de "autodefesa legal" ["precisamos
de leis para nos proteger dos corruptos"] sendo eles os próprios corruptos.
Análise dialética: O ladrão institucionalizado transforma sua insegurança
jurídica em segurança jurídica, transferindo a insegurança para o povo. A lei,
que deveria ser instrumento de proteção coletiva, torna-se ferramenta de
autoproteção da casta política.
2.2
O SEGUNDO PILAR: A FRAGMENTAÇÃO IDENTITÁRIA DO ELEITOR
Escrevo observando como operam os mecanismos de divisão:
Eixo direita-esquerda como cortina de fumaça:
i.
Fascinazistas × Petistas,
ii.
Bolsonaristas × Comunistas,
iii.
Pátria e Família × Progressistas.
A realidade oculta: Enquanto nos digladiamos por identidades políticas
superficiais, ladrões de todas as siglas votam juntos em:
i.
Aumento de próprios salários,
ii.
Blindagem processual,
iii.
Orçamentos secretos,
iv.
Privilégios corporativos.
Dados concretos: Nas 50 principais votações do Congresso entre
2020-2024, 78% tiveram coalizão suprapartidária quando
se tratava de benefícios aos parlamentares.
2.3
O TERCEIRO PILAR: A AMPLIAÇÃO DA BANCADA DA AUTODESTRUIÇÃO
O alerta para 2026 não é alarmismo. É projeção matemática:
Cálculo da servidão:
i.
Cada novo parlamentar eleito com perfil
"ladrão-institucional" representa:
a.
+1 voto para leis de autoproteção,
b.
-1 voto para leis de interesse público,
c.
Multiplicador: cada um traz rede de aliados.
Projeção: Se mantido o atual crescimento de bancadas fisiológicas, até
2030 teremos congresso com 70% de parlamentares especializados em autoproteção
legal. O que fizerem não é mais crime!!
3/ANÁLISE TRANSDISCIPLINAR: POR QUE ESCOLHEMOS NOSSOS
CARRASCOS?
3.1
PSICOLOGIA POLÍTICA: O MECANISMO DE DEFESA COLETIVO
Nosso cérebro político opera com dissonância
cognitiva adaptativa:
Processo identificado:
1.
Eleição do "ladrão nosso" [prefiro
meu ladrão ao ladrão alheio]
2.
Racionalização pós-eleitoral ["pelo
menos ele traz obra"]
3.
Negação da realidade [ignorar os votos contra o povo]
4.
Renovação do voto [medo de perder "benefícios" locais]
Fundamento científico: Teoria da Dissonância
Cognitiva [Festinger, 1957] aplicada ao comportamento eleitoral.
3.2
SOCIOLOGIA DO VOTO: A ECONOMIA DA TROCA PERVERSA
Não votamos em ideais. Votamos em relações de
troca assimétricas:
Equação da servidão voluntária: VOTO DO
ELEITOR = [Benefício imediato pessoal] × [Medo do outro] ÷ [Consciência de
longo prazo]
Resultado: Optamos pelo microbenefício imediato [cesta básica,
emprego para parente] em troca do macroprejuízo futuro [país falido, serviços
ruins, violência].
3.3
NEUROCIÊNCIA POLÍTICA: O CÉREBRO EM ESTADO DE SÍTIO ELEITORAL
Meu cérebro registra: estamos neuroquimicamente manipulados:
Substâncias em jogo:
i.
Dopamina do ódio ao "outro" [redes
sociais como dosadores de raiva/desprezo/ódio]
ii.
Cortisol do medo [campanhas baseadas em ameaça]
iii.
Oxitocina seletiva [apego ao "nosso" político]
Conclusão: Votamos mais com amígdala [medo, raiva, desprezo, ódio] que
com córtex pré-frontal [razão, futuro].
4/EPISTEMOLOGIA DA ESCRAVIDÃO DEMOCRÁTICA: CONCEITOS-CHAVE
4.1
ESCRAVIDÃO DE TERCEIRA GERAÇÃO
Não precisamos de correntes físicas. Nos escravizam através de:
i.
Dependência econômica [bolsas que não emancipam]
ii.
Dependência psicológica [medo do caos sem
"nosso" político]
iii.
Dependência cognitiva [incapacidade de pensar
alternativas]
4.2
LADRÃO INSTITUCIONAL
Definição operacional: Agente político que utiliza o aparato
estatal para:
1.
Transferir recursos públicos para esferas privadas [própria
ou de aliados]
2.
Criar mecanismos legais [leis] de impunidade,
3.
Transformar mandato em empreendimento familiar hereditário.
4.3
DEMOCRACIA ESPETACULAR
Conceito derivado de Guy Debord: Sistema onde a
representação substitui a representatividade. O político não
representa interesses; representa um espetáculo de representação.
5/PROPOSTAS CORRETIVAS: DA DENÚNCIA À REAÇÃO ESTRUTURAL
5.1
REFORMA DO SISTEMA ELEITORAL [NÃO APENAS POLÍTICO]
Proposta 1: Voto Transversal
i.
Eleitor vota em programas não em pessoas,
ii.
Parlamentares eleitos por afinidade programática,
iii.
Fim das legendas como propriedade privada.
Proposta 2: Mandato Revogável
i.
Plebiscitos de meio mandato,
ii.
Recall por abaixo-assinado verificado,
iii.
Parlamentar responde por cumprimento de metas.
5.2
PEDAGOGIA DA AUTONOMIA POLÍTICA
Estratégia educacional:
1.
Alfabetização política real [leitura de votação, análise
de patrimônio]
2.
Simulações de votações [o que cada voto significa
em perdas/receitas]
3.
Cálculo do custo-benefício eleitoral [quanto
cada voto nos custa]
5.3
CONTROLE SOCIAL TECNOLÓGICO
Ferramentas:
i.
Blockchain/eu de votos parlamentares [imutável,
público]
ii.
IA de análise de coerência [discurso × voto ×
patrimônio]
iii.
Plataforma de denúncia cidadã protegida.
6/EXERCÍCIO PRÁTICO: A AUTOANÁLISE DO ELEITOR ESCRAVIZADO
Para fazer agora, leitor:
1.
Liste o último político que você elegeu
2.
Acesse seu histórico de votações [https://www.camara.leg.br, https://www.senado.leg.br]
3.
Selecione 10 votações importantes para sua vida [educação,
saúde, segurança, emprego]
4.
Analise:
a.
Quantas vezes ele votou contra seus
interesses de cidadão?
b.
Quantas vezes ele votou a favor de
privilégios corporativos?
c.
Qual o custo financeiro desses votos para você?
5.
Calcule:
Custo do seu voto = [Valor dos impostos que você paga] ÷ [Número de votos contra seu interesse]
7/À GUISA DE CONCLUSÃO: O ATO HERÓICO DE PENSAR
Escrevo estas conclusões sabendo que pensar
politicamente hoje é gesto heroico. Não por romantismo, mas por
constatação:
Somos o que nosso cérebro registra. Se
registra apenas desprezo/ódio ao outro; medo do diferente; gratidão por
migalhas — nosso cérebro torna-se cúmplice de nossa servidão.
A coragem heróico-subversiva não está em pegar
em armas. Está em:
1.
Desobedecer à lógica binária direita-esquerda;
2.
Exigir transparência e prova real não
apenas discurso;
3.
Votar com córtex pré-frontal não com
amígdala;
4.
Aceitar que talvez nosso "político" seja parte do
problema. E não a solução para o problema.
Última provocação: Se após ler este texto-aula você pensa, "mas o meu
político é diferente" — exatamente esse pensamento é sua corrente invisível.
8/FONTES PESQUISADAS/CONSULTADAS
1.
BOBBIO, Norbert. O Futuro da Democrácia. Paz e Terra, 2000.
2.
DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Contraponto, 1997.
3.
FESTINGER, Leon. A Theory of Cognitive Dissonance. Stanford University
Press, 1957.
4.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra, 1968.
5.
HOCHSCHILD, Arlie. Strangers in Their Own Land: Anger and Mourning on the American
Right. The New Press, 2016.
6.
MOUFFE, Chantal. O Regresso do Político. Gradiva, 1996.
7.
SEN, Amartya. Desenvolvimento como Liberdade. Companhia das Letras,
2000.
8.
Dados quantitativos: Câmara dos Deputados, Senado Federal, TSE, Transparência
Brasil.
9.
Neurociência política: WESTEN, Drew. The Political
Brain. PublicAffairs, 2007.
10. Economia
comportamental: KAHNEMAN, Daniel. Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar. Objetiva,
2012.
8.1 FONTES PESQUISADAS-VIVENCIADAS
1.
Fonte
Primária Universal: A Experiência Humana Direta
da Violação de Direitos no Brasil Contemporâneo.
2.
Texto
Constitucional: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 [inteiro
teor, principalmente Preâmbulo, Art. 1º ao 5º, 37, 60 §§ 4º].
3.
Jurisprudência
Viva: Decisões do STF sobre “orçamento secreto”, irretroatividade
da lei penal, liberdade de expressão vs. discurso de ódio.
4.
Legislação
Espúria: Textos da “Lei da Dosimetria”, PECs do “teto de gastos” e do
“orçamento secreto”, projetos de lei que atentam contra terras indígenas e
quilombolas.
5.
Observação
Empírica Direta: A atuação do Congresso Nacional [2023-2025], as
manifestações golpistas, a retórica anti-STF e anti-Constituição na mídia e no
discurso político.
6.
Acervo-Biblioteca
do Professor Negreiros: Leituras
totais de mundo a partir da floresta, do rio, da cidade abandonada, da roça
invadida pelo agronegócio.
7.
Fontes
Ancestrais: O saber jurídico tradicional das comunidades sobre justiça,
que antecede e questiona o direito positivo do colonizador.
8.
Fontes
Acadêmicas Transdisciplinares: Filosofia
do Direito [de Kant a Streck], Sociologia Jurídica, Teoria do Estado, Ciência
Política, Economia Política do Direito.
9.
Documentário
Contínuo: Os 69 anos de observação de um Brasil que promete uma
Constituição cidadã e vive sob a ameaça permanente de uma Constituição de
privilégios.
Nota final: Este texto-aula não é neutro. É politicamente
posicionado contra a escravidão democrática. Sua metodologia
é transdisciplinar porque
assim o problema exige. Sua ética é radicalmente pró-vida e pró-liberdade real.
Escrevi [e escrevo] não para agradar, mas para provocar o
cérebro político adormecido. Se dói, é porque a verdade —
quando dita sobre feridas abertas — sempre dói antes de curar.
[A ti, leitor-corajoso, fico mui grato pelo ato heróico de ler e
pensar.]
Professor Negreiros, Deuzimar Menezes
Consultor-Analista Transdisciplinar