quarta-feira, 11 de junho de 2014

O fascismo ronda o Brasil

"[... ] A classe média adora curtir a ilusão de que é candidata a integrar a elite embora, por enquanto, viaje na classe executiva. Porém, acredita que, em breve, passará à primeira classe… E repudia a possibilidade de viajar na classe econômica. [...]" - Frei Betto

O fascismo ronda o Brasil em 2014 - Por Frei Betto.


Ao votar este ano, reflita se por acaso você estará plantando uma semente do fascismo ou colaborando para extirpá-la.
Jean-Marie le Pen, líder da direita francesa, sugeriu deter o surto demográfico na África e estancar o fluxo migratório de africanos rumo à Europa enviando, àquele sofrido continente, “o senhor Ebola”, uma referência diabólica ao vírus mais perigoso que a humanidade conhece. Le Pen fez um convite ao extermínio.
O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy propôs a suspensão do Tratado de Schengen, que defende a livre circulação de pessoas entre trinta países europeus. Já a livre circulação do capital não encontra barreiras no mundo… E nas eleições de 25 de maio a extrema-direita europeia aumentou o número de seus representantes no Parlamento Europeu.
A queda do Muro de Berlim soterrou as utopias libertárias. A esquerda europeia foi cooptada pelo neoliberalismo e, hoje, frente a crise que abate o Velho Mundo, não há nenhuma força política significativa capaz de apresentar uma saída ao capitalismo.
Aqui no Brasil nenhum partido considerado progressista aponta, hoje, um futuro alternativo a esse sistema que só aprofunda, neste pequeno planeta onde nos é dado desfrutar do milagre da vida, a desigualdade social e a exclusão.
Caminha-se de novo para o fascismo? Luis Britto García, escritor venezuelano, frisa que uma das características marcantes do fascismo é a estreita cumplicidade entre o grande capital e o Estado. Este só deve intervir na economia, como apregoava Margareth Thatcher, quando se trata de favorecer os mais ricos. Aliás, como fazem Obama e o FMI desde 2008, ao se desencadear a crise financeira que condena ao desemprego, atualmente, 26 milhões de europeus, a maioria jovens.
O fascismo nega a luta de classes, mas atua como braço armado da elite. Prova disso foi o golpe militar de 1964 no Brasil. Sua tática consiste em aterrorizar a classe média e induzi-la a trocar a liberdade pela segurança, ansiosa por um “messias” (um exército, um Hitler, um ditador) capaz de salvá-la da ameaça.
A classe média adora curtir a ilusão de que é candidata a integrar a elite embora, por enquanto, viaje na classe executiva. Porém, acredita que, em breve, passará à primeira classe… E repudia a possibilidade de viajar na classe econômica.
Por isso, ela se sente sumamente incomodada ao ver os aeroportos repletos de pessoas das classes C e D, como ocorre hoje no Brasil, e não suporta esbarrar com o pessoal da periferia nos nobres corredores dos shopping-centers. Enfim, odeia se olhar no espelho…
O fascismo é racista. Hitler odiava judeus, comunistas e homossexuais, e defendia a superioridade da “raça ariana”. Mussolini massacrou líbios e abissínios (etíopes), e planejou sacrificar meio milhão de eslavos “bárbaros e inferiores” em favor de cinquenta mil italianos “superiores”…
O fascismo se apresenta como progressista. Mussolini, que chegou a trabalhar com Gramsci, se dizia socialista, e o partido de Hitler se chamava Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazista (de Nationalsozialist).
Os fascistas se apropriam de símbolos libertários, como a cruz gamada que, no Oriente, representa a vida e a boa fortuna. No Brasil, militares e adeptos da quartelada de 1964 a denominavam “Revolução”.
O fascismo é religioso. Mussolini teve suas tropas abençoadas pelo papa quando enviadas à Segunda Guerra. Pio XII nunca denunciou os crimes de Hitler. Franco, na Espanha, e Pinochet, no Chile, mereceram bênçãos especiais da Igreja Católica.
O fascismo é misógino. O líder fascista jamais aparece ao lado de sua mulher. Como dizia Hitler, às mulheres fica reservado a tríade Kirche, Kuche e Kinder (igreja, cozinha e criança).
O fascismo é anti-intelectual. Odeia a cultura. “Quando ouço falar de cultura, saco a pistola”, dizia Goering, braço direito de Hitler. Quase todas as vanguardas culturais do século XX foram progressistas:expressionismo, dadaísmo, surrealismo, construtivismo, cubismo, existencialismo. Os fascistas as consideravam “arte degenerada”.
O fascismo não cria, recicla. Só se fixa no passado, um passado imaginário, idílico, como as “viúvas” da ditadura do Brasil, que se queixam das manifestações e greves, e exalam nostalgia pelo tempo dos militares, quando “havia ordem e progresso”. Sim, havia a paz dos cemitérios… assegurada pela férrea censura, que impedia a opinião pública de saber o que de fato ocorria no país.
O fascismo é necrófilo. Assassinou Vladimir Herzog e frei Tito de Alencar Lima; encarcerou Gramsci e madre Maurina Borges; repudiou Picasso e os teatros Arena e Oficina; fuzilou García Lorca, Victor Jara, Marighella e Lamarca; e fez desaparecer Walter Benjamin e Tenório Júnior.
Ao votar este ano, reflita se por acaso você estará plantando uma semente do fascismo ou colaborando para extirpá-la.

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OU AINDA MELHOR!!!!!!

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um anti-metafísico

Alberto Caeiro
Foi um poeta ligado à natureza, que despreza e repreende qualquer tipo de pensamento filosófico, afirmando que pensar obstrui a visão ("pensar é estar doente dos olhos").
Proclama-se assim um anti-metafísico.
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DENUNCIE OS DOIS

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Antes de tudo, SER BRASILEIRO

A Copa e o antibrasileiro profissional

Por Marcelo Zero, no blog de Paulo Moreira Leite:

-O Senhor é patriota?

-Amador.

-Amador?

-É, porque profissional é o Senhor, que é pago para isso.

Esse teria sido o diálogo travado entre o grande advogado Sobral Pinto e o coronel que o prendeu em Goiânia, durante a ditadura militar. Na realidade, as palavras devem ter sido diferentes, mas o sentido geral foi esse.

Sobral sentiu-se extremamente ofendido pela pergunta e retrucou à altura. O grande advogado, católico fervoroso e conservador, detestava a ditadura e suas violências, mas amava profundamente o seu país. O mesmo acontecia com outros opositores do regime militar. Os jovens que aderiram à luta armada contra a ditadura, como Dilma Rousseff, também tinham grande amor pelo Brasil e profunda fé em seu enorme potencial. Na realidade, eles queriam, a sua maneira, libertar o Brasil do “imperialismo” e das amarras que o prendiam ao atraso e às injustiças. Eles achavam que, uma vez liberto, o Brasil e seu povo encontrariam a sua real grandeza.

Ninguém ali tinha complexo de vira-lata. Ninguém se achava menor por ser brasileiro. Ninguém era pessimista, em relação ao Brasil. A bem da verdade, tratava-se de gente que, por acreditar muito no país, era capaz de dar sua vida por ele, como alguns fizeram. E, na Copa de 1970, todos acabaram torcendo pela Seleção.

Agora, a coisa mudou. Para se fazer oposição ao governo popular e democrático do país, parece que o requisito é ser anti-Brasil. Parece necessário se ter um grande desprezo pelo país, e mais ainda pelo seu povo. É imprescindível ser um pessimista que transmita seu desprezo a tudo que é brasileiro com sincopado abanar de rabo e latidos histéricos.

Pelo menos é o que a mídia conservadora e oligopolizada, nosso maior partido de oposição, vem fazendo com grande afinco. Com efeito, para tentar impedir a reeleição da presidenta instaurou-se um vale-tudo que não se acanha em atropelar a autoestima do brasileiro e prejudicar o país.

Tudo é apresentado sob uma ótica distorcida pelo ódio, o pessimismo e o desprezo. Parece que vivemos no último país do mundo, sempre à beira do colapso e irremediavelmente condenado ao atraso pela incompetência e a ignorância de seu próprio povo.

Faz-se tabula rasa de todos os grandes avanços acontecidos na última década e do fato de que o Brasil é um dos países que melhor enfrenta a crise mundial, para se criar um clima pesado de pessimismo e negatividade, o qual, embora não tenha substrato empírico, tem impacto real na psique coletiva do país. E na imagem do Brasil.

A cobertura da Copa é exemplar, a este respeito. Faz-se uma inversão de tudo o que acontece. O novo estádio, muitíssimo melhor que o antigo, que caía aos pedaços, afugentando e ameaçando torcedores, não é notícia. O que é notícia, espalhafatosa e histérica, é o “atraso”, a “goteira”, o “tapume”, e os supostos e até agora não comprovados “superfaturamentos”. O novo aeroporto, também muito melhor que o antigo, de que tantos reclamavam, também não é notícia. O que é notícia é a não-instalação (ainda) da Polícia Federal no local e a confusão em torno da saída de um voo internacional.

As grandes obras de mobilidade urbana, tão necessárias à nossa população das grandes cidades, ou são ignoradas ou são apresentadas pelo mesmo viés negativo.

Distorce-se muito o tempo todo. Até mesmo a taxa de desemprego em seu mínimo histórico é apresentada sob uma ótica negativa, sob a desculpa de que a taxa de inatividade cresceu, o que, na realidade, também é uma boa notícia, pois indica que os nossos jovens estão estudando mais, graças ao aumento das rendas das famílias.

Quando não se pode distorcer, chega-se, em alguns casos, à mentira pura e simples. A velha mídia se esmerou em propagar a ideia de que os investimentos na Copa tinham sido feitos a expensas dos investimentos em Saúde e Educação.

Tudo mentira, é óbvio. Os dados mostram que gastos com os estádios, na realidade empréstimos do BNDES que terão de ser pagos, corresponderam, em quatro anos, a cerca de RS$ 8 bilhões, ao passo que os investimentos em Saúde e Educação ultrapassaram R$ 850 bilhões. A manchete correta sobre o tema seria: “Brasil gasta menos de 1% com estádios do que gasta com Saúde e Educação”. No entanto, essa manchete nunca veio, ou, se veio, veio com muito atraso.

E a distorção sistemática não se refere somente à Copa. Distorcem-se as informações sobre o ENEM, um mecanismo republicano de acesso à universidade, que é atacado sistematicamente por aqueles que ignoravam os grandes problemas e limitações dos nossos vestibulares. Distorcem-se os dados sobre o Bolsa Família, sempre apresentado como um programa que incentiva a preguiça. Inventa-se uma inflação “sem controle”. Em certos meios, mente-se até sobre a Justiça, como no caso da AP 470. A lista é inesgotável.

Claro está que não se deseja que a imprensa oculte problemas e não faça críticas. Mas deveria haver um mínimo de equilíbrio e isenção. Afinal, qual é a contribuição que uma mídia que não disponibiliza informação fidedigna à população presta à democracia? Claro está também que, se a Copa e todas essas grandes obras tivessem sido feitas nos governos conservadores de antanho, a louvação derretida dessa mesma mídia oligopolizada seria interminável e nauseante.

O curioso é que esse esforço furioso da mídia conservadora não surte o efeito desejado. Os candidatos da oposição não conseguem decolar. O clima de pessimismo e desconforto embalado pela mídia parece atingir, a bem da verdade, a política de um modo geral e todas as instituições democráticas. Ninguém está conseguindo se beneficiar com isso.

Mas, se ninguém se beneficia, o dano causado ao país é real. Quanto turistas deixaram de vir ao Brasil por causa dessa campanha sistemática? Será que não há investimentos que foram cancelados por causa disso? Em todo caso, se a Copa for um grande fracasso, quem pagará o preço, por várias décadas, será o Brasil; não o governante de plantão.

O dano maior, contudo, é o dano à autoestima do brasileiro. Um dano terrível. Já ouvi crianças de nove anos dizerem que torcerão por times estrangeiros, porque o Brasil é um “país feio”. Já vi adultos declararem que não colocaram bandeiras do Brasil em seus carros porque temem “pichações”. Vejam a que ponto chegamos: há pessoas no Brasil que temem declarar o seu amor pelo próprio país. Quem pagará por esse crime?

Deveria ser o antibrasileiro profissional. Aquele que é revelado pelo seguinte diálogo:

-O Senhor é antipatriota?

-Profissional.

-Profissional?

-É, porque eu sou pago para fazer esse servicinho sujo contra o Brasil.

* Marcelo Zero é formado em ciências sociais pela UnB e assessor legislativo do Partido dos Trabalhadores.

Quanto pior, melhor...

O time do "quanto pior, melhor"

Por Wagner Gomes

As mudanças que o Brasil vem experimentando desde 2003, quando o ex-presidente Lula assumiu seu primeiro mandato, são irreversíveis. Mas parte da elite brasileira tão acostumada a privilégios e desmandos autoritários não engole que o país tenha certa movimentação social e que cada vez mais pessoas possam desfrutar de condições básicas de vida.

São quase 12 anos de mudanças que o Brasil jamais experimentou. E mesmo defendendo avanços para a classe trabalhadora, é inegável que o Brasil de 2014 não é o mesmo de 2002, onde predominava o desemprego e o privilégio dos mais ricos, estes saudosos desse passado onde podiam tudo.

Nesses anos a classe trabalhadora foi à luta e conquistou significativos avanços no combate à pobreza e à concentração de renda. Óbvio que queremos mais, muito mais para extirpar de nosso seio esse foco social que privilegia poucos com tanta riqueza e os que a produzem veem apenas a pontinha do iceberg da distribuição de renda.

A contenda que a mídia comercial promove em relação à Copa do Mundo 2014 se insere nesse contexto de luta de classes. Desde o dia em que a Fifa escolheu o Brasil para sediar o campeonato, onde vencemos Espanha e Estados Unidos na disputa, a mídia nativa já começou a destilar ódio e preconceito contra o nosso povo.

Não se encontra na mídia nenhuma palavra enaltecendo as qualidades dos trabalhadores brasileiros para a organização da Copa, como se fôssemos totalmente incapazes. Entretanto, as pautas se resumem em atrasos de obras, em custos supostamente exorbitantes, como se os investimentos da Copa fossem todos feitos pelo Governo Brasileiro e a Copa não fosse nos deixar nenhum legado.

A mídia corporativa jogou no time dos adversários, contra os interesses pátrios e principalmente contra a classe trabalhadora que ama o futebol e quer ver a nossa seleção hexacampeã do mundo. Futebol para isso temos de sobra e a construção das obras, seja em relação aos 12 estádios das cidades-sede, seja as de infraestrutura para melhorar a mobilidade urbana não tem acontecido de maneira diferente de outros países que já sediaram o megaevento.

Somam-se em coro aos barões da mídia e à oposição direitista ao governo Dilma, setores oportunistas de uma parcela da esquerda que, para aproveitar algumas bandeiras legítimas em favor de mais educação e mais saúde, misturam alhos com bugalhos e difundem os interesses burgueses contra a nação brasileira.

Mas a Copa está aí. Inconteste. E a nossa torcida é, como sempre foi, para o Brasil vencer e desta vez não é para trazer o caneco, mas para mantê-lo aqui na nossa casa para o nosso país, comemorando a vitória nas ruas e nas praças onde sempre estivemos e sempre estaremos defendendo os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras, lutando por um país mais justo e igual.

A turma do “quanto pior, melhor” está ficando para trás, para o bem do Brasil.

* Wagner Gomes é metroviários e secretário-geral licenciado da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Quanta maldade capitalista

Futebol é coisa de comunista

Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:

Não, não sou eu quem está dizendo isso: é a amalucada direita norte-americana, eterna fonte de inspiração da direita tupiniquim e de risadas para nós. Mais de 20 anos após a queda do muro de Berlim, parece não haver fim para a paranóia anti-comunista nos Estados Unidos, e o futebol não poderia ficar de fora –sinal de que o velho e bom socialismo ainda incomoda muita gente, até na maior nação capitalista do planeta.

Mas veja se não é hilário. Os direitistas gringos apontam inclusive a razão pela qual o esporte não faz sucesso nos EUA, ao contrário do mundo inteiro: porque soccer é praticamente sinônimo de socialismo! E você que achava que aquela grana toda que ganha o Neymar era puro capitalismo… Sigam o “raciocínio”:

– Futebol é um esporte coletivo e todos no time são estimulados a agir como grupo, não como indivíduos. Ahá, típico!

– Futebol é o único esporte que é jogado com os pés em vez das mãos. (Não entendo bem qual a relação com o socialismo, mas OK).

– Futebol é o único esporte com um grande número de torcedores proletários que costumam destruir a propriedade privada quando seus times perdem (o preconceito de classe não poderia faltar, claro).

– Futebol é o único esporte que pode terminar sem vencedores e perdedores. Quer algo mais socialista do que isto?

– Por último: a taça FIFA é igualzinha ao Emmy, e todo mundo sabe que Hollywood é socialista (ahn?).

Se você pensa que eu inventei, leia o original aqui. E assista abaixo este vídeo incrível onde um cara diz que futebol é “o caminho para o socialismo” e, inclusive, pecado (trata-se de uma paródia à estupidez da direita). “Futebol é contra Deus. Isso não pode ser chamado esporte. Só porque tem uma bola?” Com Barack Obama no poder, diz essa gente, o futebol ganhará a América, porque o presidente é… socialista. Sei.

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=yBkbj_S3etY
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=yBkbj_S3etY#t=0

Lamentavelmente, pelo menos para mim, essas histórias não passam de teoria da conspiração. Acredito que a paranoia tenha começado com a histórica partida entre Inglaterra e Hungria em 25 de novembro de 1953, no estádio de Wembley, considerado o jogo capitalistas X comunistas do século. O comunismo, ops, a Hungria ganhou por 6 a 3, com dois gols do lendário Puskas. Meses depois, novamente os húngaros goleariam os ingleses por 7 a 1 em Budapeste. Um baque que o império britânico levaria anos para digerir.

Mas dizer que o futebol é socialista em si, como faz o conservadorismo norte-americano, é uma bobagem sem tamanho se pensarmos na trajetória das duas Alemanhas, a Ocidental e a Oriental, no esporte. A capitalista sempre se saiu melhor no futebol, até porque os comunistas preferiam investir (tcharã!) em esportes indviduais –para você ver como as teorias reaças não resistem a cinco minutos de pesquisa. As diferenças políticas, porém, resultaram em belos duelos em campo também no futebol.

Fora da cortina-de-ferro, na verdade sempre houve atletas e treinadores simpatizantes do socialismo no futebol –reação natural, eu diria, diante da crescente mercantilização do esporte. Na mesma Inglaterra, o treinador Bill Shankly, que levou o Liverpool da segunda divisão para o tricampeonato nos anos 1970, era um socialista militante. “O socialismo em que eu acredito não é realmente política, é uma maneira de viver. É humanismo. Acho que a única maneira de viver e ter realmente sucesso é pelo esforço coletivo, com todo mundo trabalhando junto, se ajudando e compartilhando a recompensa no final. Assim eu vejo o futebol e assim eu vejo a vida”, dizia Shankly. É ou não é para a reaçada viajar na maionese?

Outros nomes célebres do futebol também demonstraram simpatia pelas teses da esquerda. O argentino Diego Maradona, amigo de Fidel e Chávez, tatuou Che Guevara no braço e está comentando a Copa para a venezuelana Telesur. O programa tem o sugestivo nome de De Zurda (de canhota) e Maradona já estreou atacando a cartolagem. “A FIFA leva 4 bilhões de dólares com a Copa. O país campeão fica com 35 milhões de dólares. Está errado isso. A multinacional está acabando com a bola. Você, Blatter, não faz nada e está rico. Não é como Bill Gates, que trabalha. Você não faz nada!” Um craque.

Sócrates e sua “democracia corintiana”, nos anos 1980, deram a mais importante contribuição da esquerda ao futebol brasileiro, nos estertores da ditadura militar. Os atletas conseguiram que todas as decisões do clube fossem votadas pelo grupo, em uma espécie de autogestão inédita no futebol. O doutor costumava dizer: “Sou socialista e morrerei socialista”. O punho cerrado na hora de comemorar mais um gol não era por acaso.

Não poderia esquecer do jornalista João Saldanha, militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) que foi demitido pelo general Emilio Médici do cargo de treinador da seleção que se sagraria tricampeã do mundo no México, em 1970. Autor de Quem Derrubou João Saldanha, o jornalista Carlos Vilarinho sustenta que o técnico, amigo de Carlos Marighella, se transformara em um incômodo para o regime, e por isso foi defenestrado já com o time escalado. Segundo Vilarinho, só Pelé não o apoiou (leia mais aqui). Quem se surpreende?

A origem do nome e da camisa vermelha do Sport Club Internacional é controversa: a versão oficial é que se inspirou em um time de São Paulo chamado Internacional. Mas há quem assegure que é uma homenagem à Internacional Socialista, e a escolha do vermelho para a camiseta não seria à toa. Fato é que alguns torcedores do time gaúcho costumam desfraldar no Beira-Rio uma versão da bandeira do Inter com a foice e o martelo.

A proliferação de torcidas fascistas na Itália (como a do Lazio), fez com que o país se tornasse pródigo em estrelas vermelhas do futebol, naturalmente anti-fascistas. Jogador do Perugia, Paolo Sollier se tornou famoso pelo livro Calci e sputi e colpi di testa, publicado em 1976, onde falava de sua militância na Vanguarda Operária e do futebol, sob um ponto de vista de esquerda. Sua saudação com o punho cerrado lhe rendeu antipatia de torcedores do próprio time. “Encontrei poucos jogadores para falar de política. Dos grandes daquela época (anos 1970), só Gianni Rivera (do Milan, hoje deputado) mostrou interesse: sua atividade pós-futebol confirma que tinha uma boa cabeça. Dos outros, nenhuma notícia.”

Cristiano Lucarelli, chamado de “o goleador dos humildes”, também fã de Che Guevara como Maradona, surgiu no Perugia e atuou no Livorno, cidade e time com tradição comunista: lá nasceu o PCI, o Partido Comunista Italiano. Lucarelli, filho de estivador e militante de esquerda, cresceu treinando futebol durante o dia e lendo o Manifesto Comunista à noite. Em 1997, foi banido da seleção italiana sub-21 por mostrar uma camiseta do Che por baixo do uniforme ao comemorar um gol. Em 2003, recusou convites milionários para jogar no Livorno. “Para alguns, um sonho é ser milionário, comprar uma Ferrari, um iate. Para mim o melhor da vida seria jogar em Livorno”, disse. Olé.

Recentemente, a animada torcida do pequeno Omonoia, do Chipre, tem se destacado por suas manifestações pró-comunistas. De repente, não mais que de repente, brota uma foice e um martelo nas arquibancadas. Ah, se fosse nos Estados Unidos…

E não podemos esquecer a homenagem que o Madureira fez, no ano passado, a Che Guevara, lançando camisetas do time com a estampa do guerrilheiro argentino. Em 1963, o Madureira foi o primeiro time brasileiro a visitar Cuba, e os jogadores foram recebidos pelo Che em pessoa. A camiseta foi a mais vendida da história do clube, provando que o socialismo é mesmo imbatível em estamparia.

Para fechar, este depoimento de Dejan Petkovic a Ana Maria Braga. Nascido na Sérvia, ex-Iugoslávia, o jogador radicado no Brasil não esconde suas simpatias políticas. Plim-plim.

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=B80AsDP2IaM
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=B80AsDP2IaM#t=0

Em resumo: sim, há comunistas no futebol, mas eles são infelizmente exceção e não a regra. Se a teoria dos conservadores abilolados fosse correta, talvez o esporte não tivesse se distanciado tanto da “arte” para se tornar apenas uma mina de ouro, talvez não tivessem feito tantas barbaridades para fazer a Copa no Brasil e talvez os atletas conseguissem concatenar melhor as ideias quando se trata de falar de política. Não é mesmo, Ronaldo?