Oligopólio midiático afia as garras para manter o domínio sobre o Brasil
“Ultimamente a coisa se tornou mais complexa porque as instituições tradicionais estão perdendo todo o seu poder de controle e de doutrina. A escola não ensina, a igreja não catequiza, os partidos não politizam. O que opera é um monstruoso sistema de comunicação de massa, impondo padrões de consumo inatingíveis e desejos inalcançáveis, aprofundando mais a marginalidade dessas populações”. – Darcy Ribeiro (1922-1997)
Deus ou diabo, preto ou branco, corrupto
ou honesto, bom ou ruim. Para os brasileiros, não existe meio termo.
Temos esta tendência a radicalizar tudo em dois pólos. Uma
característica bem brasileira, coisa de pele, do DNA de colonizados que
esperam ansiosamente a realização da eterna profecia do “país do
futuro”. As coberturas da eleição 2014 tem se aproveitado da
incapacidade nacional em mediar discursos e relativizar oposições em
busca de uma análise crítica e realista do nosso momento histórico. O
oligopólio midiático verde e amarelo (ou seria branco, vermelho e azul?)
sabe explorar períodos importantes do ideário nacional em busca de
passar a mensagem própria ao invés da real. São craques em amplificar
nosso “complexo de vira-latas”, como bem foi visto antes da Copa do
Mundo 2014, escancarando uma suposta incapacidade nossa para realizações
deste vulto, pobres seres periféricos que somos. Quantas vezes não
ouvimos que iríamos “passar vergonha”?
A eleição desenhou o cenário ideal para
que aqueles que detém a responsabilidade de informar finalizem o plano
iniciado em 2003. Inconformados com a vitória de Lula e a troca de
comando do país, empenharam-se em uma guerra suja com o objetivo de
colar no PT a etiqueta de “partido dos corruptos”. Boa parte dos
brasileiros caiu nesta falácia esquecendo-se dos incontáveis escândalos
anteriores a 2003. O maior símbolo desta boçalidade que joga contra a
cidadania é a vontade de “derrotar o PT”. Como fosse o partido o
causador de todos os males atuais, do vírus Ebola à guerra no oriente
médio. Aécio Neves, ao contrário, goza de descarado apoio dos
oligopólios midiáticos, interessados em manter os gordos privilégios e
dando de ombros para o bem do país. Empresas que só enxergam os imundos
umbigos e praticam uma espécie de “censura branca”, alijando opiniões
contrárias, escondendo e suavizando notícias e discursos negativos
contra seus queridinhos. A confusão joga a favor delas, uma vez que
cidadãos menos informados usam os mesmos clichês vazios para referendar
as próprias escolhas, independente da região onde nasceram ou mesmo do
nível de escolaridade.
Temos uma mídia que, no grosso de sua
garganta, desinforma ao invés de informar, esconde ao invés de reportar,
inventa ao invés de contar. Dissemina uma ignorância baixa, que traz
consigo ódios, violências, desinteligências e proíbe o ato da crítica
que não lhe convém. A luta contra a obrigatoriedade do diploma de
jornalista joga a favor das empresas, uma vez que a profissão é cada vez
mais desvalorizada, paga menos e contrata mais profissionais
despreparados e manipuláveis. Qual o objetivo disso? Impedir o povo de
pensar. Continuar controlando uma geração de idiotas da objetividade,
incapazes de raciocínios que levem em conta possibilidades alheias ao
próprio cabresto. O projeto de continuísmo da dominação ideológica
contém, obviamente, a falsa vontade de ver um país com educação e
tecnologia de ponta. Defendem cada vez mais um ensino tecnicista, que
mande os jovens pobres da escola para as fábricas, nunca para as
universidades. Afinal, um povo bem educado não aceita mentiras
gratuitas.
Parafraseando o escritor Monteiro Lobato,
o jornalista Palmério Dória produziu um raciocínio que muito se
aproxima do que descrevi acima: Ou o Brasil acaba com o monopólio da
mídia ou o monopólio da mídia acaba com o Brasil. Esta eleição é só
mais um exemplo do quanto nosso país anda impregnado desse veneno
imbecilizante com um pé nos velhos engenhos, nos navios negreiros e nas
capitanias hereditárias. Aliado a tudo isto, Aécio Neves e seus pares,
inclusive Marina Silva – alguém que virou as costas para o próprio
passado e preferiu ajoelhar-se e beijar a mão do coronel -, defendem que
tudo continue como está. Não é preciso andar muito por aí para perceber
o porque. Basta olhar as capas dos jornalões, das revistas semanais e
ler as entrelinhas dos noticiários televisivos. O PT de Dilma Rousseff e
antes de Lula, não teve coragem para enfrentar este estado de coisas. E
agora vê uma vitória antes dada como certa escapar-lhe cada vez mais
entre os dedos. Não será a primeira vez que o partido enfrenta lutas
duras como esta. O que não pode esquecer é que o erro não pode ser
cometido de novo. O Brasil precisa disso, talvez mais do que qualquer
outra coisa.