Quem é que manda no Brasil?
diariodovale
27 de janeiro de 2019 08:20
Desde o fim da ditadura militar, governos civis convivem com a presença
constante do misterioso Centrão
Culpado da política ensandecida no
Brasil pode ser o ACM – Foto: Reprodução Wikipedia Commons
Há 32 anos, em
1987, um grupo de deputados e senadores de centro-direita formou um bloco para
confrontar propostas progressistas de Ulysses Guimarães na Constituinte. Ali
nasceu o nome Centrão, mas esse grupo já havia estreado anos antes, em 1984,
quando Tancredo Neves derrotou Paulo Maluf em eleições indiretas e se tornou o
primeiro presidente civil desde 1964. Sem esses parlamentares de
centro-direita, a vitória que acabaria por levar José Sarney ao poder (Tancredo
morreu sem ser empossado) nunca teria acontecido.
De lá para cá,
mesmo sem necessariamente operar com esse nome, o Centrão se mantém presente e
decisivo na política brasileira. Não importa quem esteja no poder, tem que
contar com esse grupo para manter a capacidade de governar.
Por isso mesmo,
sempre há integrantes do Centrão em altos cargos no governo federal, o que dá
ao grupo grande poder e ajuda a manter sua capacidade de eleger representantes,
eternizando sua força no Congresso Nacional e permitindo que eles ocupem altos
cargos.
Portanto, não
importa quem seja o presidente, nem qual sua orientação ideológica, sem o
Centrão não tem governo. Isso porque o Congresso, no Brasil, tem mais poder do
que o legislativo dos Estados Unidos. E o Centrão é maioria no Congresso.
Exemplos do poder
do Centrão
Ainda durante o
governo Sarney, os parlamentares do Centrão barganharam por cargos o apoio à
extensão do mandato do presidente.
Sarney entregou o
cargo a Fernando Collor de Mello, que governou de março de 1990 a dezembro de
1992. Foi o primeiro presidente a sofrer impeachment, e os deputados dos
partidos de centro-direita, pressionados pela opinião pública, foram essenciais
na deposição de Collor.
Itamar Franco, que
assumiu no lugar de Collor, cumpriu o restante do mandato: ele deu um jeito na
inflação com o Plano Real, privatizou, entre outras estatais, a CSN… com apoio
de quem no Congresso? Do pessoal de centro-direita que nunca assumia posições
ideológicas claras.
O sucessor de
Itamar, Fernando Henrique Cardoso, teve como principal realização dos seus dois
mandatos a colocação do país “nos trilhos” em relação às contas públicas, mas
enfrentou muita impopularidade no fim do mandato, por causa das restrições que
impôs a gastos públicos. Quem foi que deu suporte ao presidente no Congresso?
Adivinhou: o Centrão.
Lula, ao assumir,
encontrou um país com superávit orçamentário. Fez um dos governos com mais
gastos públicos de que se tem notícia. Investiu pesado em programas sociais
como o Bolsa-Família, lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)… e
precisou fazer acordos com o Centrão, inclusive entregando ministérios, para
ter governabilidade.
Em seu primeiro
mandato, Dilma Rousseff seguiu bem de perto a cartilha de Lula, e teve como
vice Michel Temer, que representava o Centrão. No início do segundo mandato,
com parte do Centrão já alojada na oposição, Dilma se entusiasmou com a vitória
e se indispôs com duas figuras: Temer, que apresentara um pacote de reformas
liberalizantes chamado “A Ponte para o Futuro”, solenemente ignorado pela
presidente, e Eduardo Cunha, que conquistou a presidência da Câmara contra o PT
e acabou por ser essencial no impeachment.
O período de Temer
no poder foi a expressão do Centrão no comando.
Sobre o sucessor,
Jair Bolsonaro, ainda se pode dizer pouco. O Centrão, que se aliou a Alckmin no
primeiro turno, foi deixado de lado na formação do ministério, mas ainda está
para haver a posse dos parlamentares e aí é que o país começa pra valer a fazer
política. A impressão é que, assim como seus antecessores, o Capitão vai ter
que conversar com esse grupo.
Uma piada do
Centrão
Dizem que Antônio
Carlos Magalhães,ou ACM, famoso político baiano, e um dos maiores
representantes do Centrão, estava em um avião uma vez, quando houve um estrondo
e cheiro de enxofre. O Diabo, em carne, osso, chifres e cauda, se apresentou e
disse: “Tuninho Malvadeza (apelido de ACM), esse avião vai cair daqui a pouco,
então tive o prazer de vir te buscar pessoalmente”.
ACM faz sinal de
calma para sua equipe, chama o Capiroto no canto e fala duas ou três frases. de
vermelho, o Capeta fica amarelo. Volta para a frente do avião e diz: “Foi
brincadeira. façam uma boa viagem!”, sumindo em seguida.
Um assessor
pergunta à velha raposa o que ela disse na conversa ao pé do ouvido. ACM
repete: “Disse assim: em Salvador tem prefeito, mas quem manda sou eu. Na Bahia
tem governador, mas quem manda sou eu. No Brasil tem presidente, mas quem manda
sou eu. Quer mesmo que eu vá pro inferno?”.
Detalhe
Depois de lembrar
da piada, me lembrei de que ACM morreu em 2007. Pelas coisas que estão
acontecendo por aí, ele já deve ter conseguido derrubar o Luci do Trono das
Trevas…
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