sexta-feira, 13 de março de 2015

nacionalismo e universalismo humanista

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O difícil equilíbrio entre nacionalismo e universalismo humanista

Patriotismo
O nacionalismo moderno teve a sua gênese nas lutas dos povos europeus contra a tirania dos reis absolutistas e contra a Igreja, que foi, durante muito tempo, a única instituição cujo poder pairava acima de todos os povos. De lá pra cá, o nacionalismo tem servido a diversos propósitos – uns, bastante nobres, como no processo de independência de algumas ex-colônias pelo mundo, mas outros, nem tanto, como na afirmação da superioridade nacional perante outras nações, além de intenções golpistas em seu nome.
O processo nacionalista no Brasil começou ligado ao movimento romântico, de exaltação das nossas supostas qualidades particulares, nossa cultura e nosso povo. E esse tipo de louvação utópica da “pátria amada” descambou para um tipo de nacionalismo ufanista superficial e perigoso, pois manipula os interesses de classes específicas como se fossem os interesses de todos os cidadãos.
Como consequência, os símbolos nacionais brasileiros foram sequestrados pelas classes mais conservadoras, especialmente os militares, e passaram a servir como justificativa para corrigir de tempos em tempos as “distorções” na política através de golpes, em nome dos supostos interesses maiores da “pátria” (na verdade, interesses de classe). Não existe ideologia mais reacionária no país do que o lema que orienta esse tipo de nacionalismo: “Deus, pátria e família”, três criações altamente discriminatórias que tem o seu sucedâneo na lema da nossa bandeira: “Ordem e Progresso”. Disso implica que: se você não segue o mesmo deus que eu, se não defende a mesma pátria e o mesmo modelo de família que o meu, então você é um inimigo que deve ser atacado, um perigo, um “subversivo” da ordem, que atenta contra as nobres tradições nacionais. Obviamente são ideias ridículas baseadas numa mitologia nacional arcaica.
Mas então, o que fazemos? Descartamos essa ideia em nome de outras, mais justas e universalistas, ou seja, a defesa de todos os povos do mundo, a favor da diversidade, do pluralismo e da solidariedade, independentemente das cores de sua bandeira?
De fato, uma coisa que pouco levamos em conta é que temos, enquanto classe trabalhadora e assalariada nesse mundo regido pelo capitalismo, muito mais em comum com os nossos semelhantes de outros países do que com nossos próprios líderes políticos e membros das elites econômicas brasileiras. Estes últimos, por sua vez, têm muito mais afinidades de interesses com seus colegas estrangeiros nas suas reuniões de Davos do que com os brasileiros das classes mais baixas. Somos brasileiros mas de “brasis” completamente diferentes. Mas na hora de levantarmos bandeiras, querem que levantemos as mesmas inócuas bandeiras nacionais, e não a das nossas próprias demandas enquanto classe. Isso não é muito adequado, mas é exatamente o que acontece quando nos deixamos levar por uma crença de que no Brasil de tantas desigualdades, todos estamos abrigados igualmente sob uma mesma pátria amada e mãe gentil, com os mesmos interesses e direitos.
Mas por outro lado, não seria correto adotarmos a postura inversa, ou seja, de abandonar completamente a atenção pelas questões nacionais, que dizem respeito à soberania e aos interesses do nosso país, numa lógica que seria tão equivocada quanto a do seu oposto: um nacionalismo exacerbado e cego. Porque existem grandes corporações e países de olho nas facilidades de explorar a nossa apatia perante a defesa de nossos recursos naturais, por exemplo. O que devemos é estar conscientes das distorções que o nacionalismo nos causa, percebermos os interesses que estão por trás da nossa bandeira, e não deixar de entender que tudo isso é uma mera construção histórica, e que não somos nem melhores e nem piores do que nenhum outro país do mundo apenas porque somos brasileiros. Mas temos, de fato, enquanto povo, alguns interesses em comum que devem ser defendidos a nível internacional.
Por fim, e mais importante: devemos atentar para as especificidades de classe, de etnia e de gênero que estão inseridas dentro deste contexto maior e generalizante chamado “nação brasileira”, se quisermos combater as injustiças históricas que o nacionalismo oculta em nome de um suposto interesse maior chamado pátria.
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