sexta-feira, 13 de março de 2015

Divisão tocana com relação à manifestação do dia 15

Manifestações, ditaduras, corrupção... por Percival Maricato


Manifestações, ditaduras, corrupção...
Percival Maricato
Os tucanos estão divididos com relação à manifestação do dia 15. Alguns aderem ao esforço inaudito dos opositores de Dilma nas redes sociais, entusiasticamente, escrevem sobre o “mar de lama”, conclamam à luta pelo impeachment. Outros, como FHC, tomam posições mais responsáveis: manifestação sim, golpe não (mas para manifestantes radicalizados, para que serve ir a rua senão para golpear de morte o adversário?). Serra anda desaparecido. Aécio vacila, afinal deve sentir que a presidência pode ser alcançada por vias legítimas e mais seguras, deve conquistar votos que foram para, terá sua oportunidade.
Impeachement levaria a um governo do PMDB ou uma eleição. Ambas as opções com resultados imprevisíveis. Se a presidência lhe caísse no colo teria que governar com o PMDB e os mesmos fisiológicos que hoje cercam Dilma.  Ainda teria do outro lado a metade do país que votou na presidente e se mantém silenciosa. São dezenas de milhões de brasileiros gratos pelas políticas sociais e econômicas introduzidas pelos governos petistas, especialmente na periferia. Há divisão é mais que nítida. Estariam esses milhões  dispostos a ficar calado?
Quem tem mais leitura e experiência política sabe que não se pode medir a temperatura política do país pela classe média e mídia de uma ou algumas poucas cidades grandes, por mais poderosa e influentes que sejam, sabe que golpes de direita podem ser tornar incontroláveis (de esquerda também)  e que golpes militares nem sempre seguem pelo caminho esperado. Estes podem estar se sentindo tão lesados como boa parte da população, por ver acontecer em governos petistas, lamentavelmente, tanta corrupção como nos anteriores, mesmo que pela primeira vez em mais de quinhentos anos, ela esteja sendo combatida até nas altas esferas do poder político e econômico. Mas estariam eles dispostos a anular os benefícios sociais dados a parcela mais carente dos brasileiros, como quer parte dos manifestantes, principalmente em São Paulo? Reduziriam o tamanho da Petrobrás, como propõe Jose Serra? Iram mesmo para a direita ou optariam por um modelo venezuelano, que lhes daria mais poder? Muitas são as incógnitas.
Por falar em “mar de lama”, marchas contra o governo, a mídia na oposição, a situação está parecida com o que ocorria às vésperas da deposição de Collor ou da deposição de Vargas (o suicídio frustrou os golpistas) e Jango?  Bom lembrar que  “mar de lama” era a palavra de ordem mais usada por Lacerda, que fez da vida, depois de deixar de ser comunista, uma cruzada por um golpe de direita. Quando ele ocorreu, em 1964, depois de várias tentativas, em vez de ser chamado para assumir poder, acabou marginalizado e por insistir em participar (frente ampla tentada com Juscelino), cassado. Lição para ser lembrada.
A conduta sensata dos democratas em épocas de efervescência política é por água na fervura, lembrar lições da história, a necessidade da tolerância e não do ódio, na convivência humana, a aceitação de pessoas das  variadas ideologias e classes sociais, de ser imprescindível a inclusão social, política e econômica dos marginalizados não só para termos paz e civilização, mas por questão de Justiça e até de desenvolvimento econômico, a valorização da importância do Estado Democrático de Direito, que permite não só rodízio no poder, mas fazer oposição, apontar corrupção e etc.
Na última ditadura de direita (militar) um jornalista podia ser corajoso o suficiente para apontar políticos ou militares poderosos como corruptos? Impossível ou inútil. Primeiro, não tinha como obter informações, todos os poderes (legislativo, judiciário) e órgãos policiais obedeciam o executivo (até ministros do STF foram “aposentados”), que por sua vez, acabava em um único chefe, que também era chefe do exército; depois, mesmo que as obtivesse, não teria como divulgar, os meios de comunicação estavam censurados; por fim, precisava ser mesmo muito corajoso, pois sua punição poderia ser tortura ou desaparecimento, sua família poderia sofrer represálias. E nada disso iria sair nos jornais. Se fosse um político, no outro dia estaria com os direitos políticos cassados. Se fosse um empresário, com muita sorte perderia apenas o patrimônio. Os demais nem pensar...
Conclusão: temos que conviver.
Percival Maricato