Desde o início dos governos petistas, já foram criadas, pela oposição e pela mídia, inúmeras, incontáveis CPIs da Petrobrás.
Só nos últimos meses foram umas três ou quatro.
Os tucanos criam CPIs sobre a Petrobrás tanto para desgastar o governo
quanto para chantagear as empresas que fazem negócio (e negociatas) com
a estatal, conforme consta em denúncia de um dos delatores, segundo o
qual o presidente do PSDB teria recebido R$ 10 milhões para “pegar
leve” nas investigações de uma CPI.
Em outras palavras, R$ 10 milhões para abafar casos de corrupção.
O Ministério Público Federal, que se tornou, melancolicamente, uma
instituição a serviço da mídia, fez até um hotsite especial sobre a
operação Lava-Jato, usando principalmente informações repassadas pelos
delatores.
Curiosamente, um infográfico que havia no hotsite, cheio de setinhas
apontando para partidos, com base nos delatores, desapareceu assim que
Alberto Youssef resolveu delatar Aécio Neves, acusando-o de receber uma
propina mensal de 120 mil dólares por mês, através de uma esquema
montado entre Furnas e a Bauruense.
Entretanto, nenhuma dessas CPIs contou uma interessante história ao povo brasileiro.
Nenhuma CPI enfatizou que o primeiro diretor-geral da Agência Nacional
de Petróleo (ANP), criada no governo FHC para regular o mercado
brasileiro de petróleo, foi David Zylbersztajn, genro de Fernando
Henrique, então presidente da república.
Imagine se qualquer outro político, que não FHC e que não um tucano,
articulasse para botar seu próprio genro na presidência de uma agência
que, nos anos seguintes, se tornaria peça estratégica para os planos
tucanos de privatizar a estatal.
Tratava-se de nepotismo tão descarado que Zylbersztajn, embora com
mandato valendo até final de 2005, renunciou ao cargo poucos meses após
anunciar o divórcio com Ana Beatriz Cardoso, filha do presidente.
Zylbersztajn é um tucano puro-sangue. Foi secretário de energia do
governo Covas (1995-1998), onde comandou a privatização das estatais
paulistas de energia. Dali foi direto para a ANP, onde passou a fazer
dobradinha com o Executivo para a privatização da Petrobrás.
E aí entra o afundamento da Plataforma P-36, que matou 11 funcionários.
Por trás da tragédia envolvendo a P-36, a maior plataforma do mundo na
época, aparece um nome que o Brasil jamais conheceu direito, apesar de
tantas CPIs.
Trata-se de German Efromovich, dono da Marítima, uma das mais bem
sucedidas ganhadoras de licitação para fornecimento de plataformas e
outros serviços para a Petrobras.
Em 1999, a Veja, numa época em que não havia sucumbido ao tucanismo de
extrema-direita que a caracteriza hoje (era uma tucana moderada, que
dava uma denúncia ou outra contra o PSDB, embora não se aprofundasse
jamais), publicou uma matéria bombástica sobre Efromovich, com título sugestivo: “Negócios inexplicáveis”.
Trecho da reportagem: “Nessa época, a empresa funcionava numa casa ao
pé de uma favela num subúrbio do Rio de Janeiro. Até aí, tudo normal. O
que causou estranheza mesmo foi o fato de, menos de um ano depois, a
insignificante Marítima, cujo patrimônio não chegava a 1 milhão de
dólares, começar a ganhar quase todas as concorrências da Petrobras para
a construção de plataformas de perfuração e exploração de petróleo.
Uma área em que Efromovich não possuía a mínima experiência e que
envolvia contratos superiores a 2 bilhões de dólares.”
Segundo a matéria, ele era um esperto que se hospedava em hoteis
baratos da Lapa e pegava ônibus até um hotel 5 estrelas para posar de
bacana.
O que nenhum órgão de imprensa investigou são as possíveis ligações
entre Zylbersztajn, ex diretor-geral da ANP, e Efromovich, dono da
Marítima. Ou entre Efromovich e a diretoria da Petrobrás da época.
Mais um trecho da reportagem: “As proezas de Efromovich começaram a ser
notadas no final de 1995, alguns meses após o superintendente de
Engenharia da Petrobras, Antônio Carlos Agostini, ser promovido a
diretor da área de exploração e produção da companhia. Agostini era
conhecido de longa data de Efromovich. Nessa época, a Petrobras decidiu
abrir concorrência para a construção de duas plataformas de produção de
petróleo. O edital de licitação trazia, no entanto, uma cláusula que
todos os participantes diziam ser impossível de cumprir: prazo de
dezoito meses para a plataforma entrar em operação. Mas a Petrobras,
então presidida por Joel Rennó, manteve-se irredutível alegando que
havia empresas que se diziam capazes de cumprir o prazo. Essas
“empresas” a que a Petrobras se referia era apenas uma – a Marítima.
Para surpresa do mercado, foi ela a vencedora da concorrência de um
contrato de 720 milhões de dólares. O que aconteceu a partir daí foi uma
sucessão de absurdos. A Marítima não tinha projeto nem estaleiro
contratado para a execução da obra e tampouco financiamento. Mas a
Petrobras pareceu não se importar muito. Em 1997, a estatal fez nova
concorrência e declarou vencedora a inadimplente Marítima.”
Segundo relato de Araújo Bento, um petroleiro com décadas de
experiência na área, ao site Desenvolvimentistas, “as causas imediatas
[do acidente] foram os erros de projeto da empresa Marítima, do sr
German Efromovitch, que assumiu um contrato tipo TURN-KEY sem a condição
técnica de realizá-lo.”
O contrato teria sido obtido, segundo Bento, com ajuda de David Zilbersztajn, então diretor da ANP.
Na internet, encontrei facilmente vários contratos com assinaturas conjuntas de Efromovich e Zilbersztajn.
Anos mais tarde, em 2005, quando Zilbersztajn assume a direção de uma
Varig em vôo cego para o abismo, um já enriquecido Efromovitch (ficara
milionário com as negociatas com a Petrobrás) aparece para comprar os
restos da companhia aérea. Para isso, contou novamente com o auxílio de
Zilbersztajn, o qual deu entrevista à imprensa informando que
Efromovitch havia “entrado no jogo“.
FHC e seu genro conseguiram vender as petroquímicas da Petrobrás, e
abriram o capital da empresa na Bolsa de Nova York. Por muito pouco os
tucanos não privatizaram a empresa.
A venda dos papeis da companhia na Bolsa de NY é a responsável direta pela instabilidade especulativa vivida pela empresa hoje.
Os americanos sabem o que fazem.
Acertaram com a Arábia Saudita para derrubar os preços do petróleo. Com
isso, enfraqueceram seus principais inimigos geopolíticos: Rússia,
Irá, Venezuela. E ainda ganharam um “brinde” fabuloso, a oportunidade de
comprar ações da Petrobrás a baixo preço, aumentando seu controle
sobre a economia brasileira.
Não foi em vão que a NSA, a inteligência secreta do governo americano, espionou a Petrobrás.
O objetivo, possivelmente, foi obter informações estratégicas que
permitiriam aos fundos americanos, mais tarde, comprarem ações da
estatal.
A insistência da presidenta Dilma em manter o regime de partilha,
assegurar parceria com a China na exploração do campo de Libra e fundar o
banco de investimento dos Brics (que já nasceu maior que o Banco
Mundial), transformou a presidente em persona non grata para muita gente
graúda do capital internacional.
O mais interessante vem agora.
Alguns blogs já identificaram,
por trás de ongs que vem incentivando manifestações em favor do
impeachment da presidenta Dilma, o dinheiro dos ultra-bilionários Irmãos
Koch, famosos nos EUA por serem os principais financiadores do Tea
Party e um dos doadores mais constantes de candidatos de extrema direita
nas eleições americanas.
Pois bem, descobri facilmente, pelos sistemas de busca, que os Irmãos
Koch se tornaram ativos especuladores no mercado de petróleo, manipulando preços para faturar bilhões às custas de países ingênuos, como o Brasil.
As empresas dos Irmãos Koch faturam mais de US$ 115 bilhões por ano, segundo a Forbes. Ambos tem patrimônio, segundo a mesma revista, de US$ 42,5 bilhões cada um. Ou seja, um total de US$ 83 bilhões.
Se existem interesses poderosos em enfraquecer a Petrobrás ou lucrar com a volatilidade de suas ações, estes são os irmãos Koch.
Temos de ficar atentos.
Até porque, no Brasil, temos uma situação especial. O entreguismo está enraizado nos altos estamos do Estado brasileiro.
Recentemente, o Ministério Público Federal enviou uma comitiva,
liderada pela maior hierarquia da instituição, o procurador-geral
Rodrigo Janot, aos EUA, para pedir informações úteis às investigações
contra a Petrobrás.
Num mundo perfeito, isso não teria nada demais. No mundo como ele é, os
procuradores bateram na porta do lobo para lhe pedir que cuidasse da
chapeuzinho vermelho.
Não faz uma semana, e circulou, muito discretamente, na imprensa,
a informação de que 11 grandes fundos americanos vem realizando
enormes compras de papeis da Petrobrás. Não é pouca coisa. Segundo a
notícia, no primeiro trimestre deste ano, os fundos aumentaram em dez
vezes a sua participação da Petrobrás, em relação à 2014.
Os homens do capital, pelo jeito, ouviram os coxinhas dementes que marcharam nas ruas pedindo “militar intervential”.
Só que a intervenção americana no Brasil, desta vez, não tem nada de
militar, só de coxinhas mesmos, tirando selfies com a PM e berrando
palavras de baixo calão contra a presidente.
Eles querem subjugar o Brasil, desta vez, através do controle
econômico, e nada melhor que manipular o preço das ações da estatal,
derrubar o real frente ao dólar, além de patrocinar movimentos de rua
para desestabilizar o governo, eliminando a única força que poderia se
contrapor o jogo de especulações criminosas que o grande capital joga no
Brasil.
Miguel do Rosário
No Cafezinho